A dor do jornalista não sai no jornal

A dor do jornalista não sai no jornal. Neste contexto de jornalismo em crise, em práticas e formatos, Mossoró termina 2015 com um cenário doloroso na imprensa, com fechamento de empresas, jornais com salários em atraso e outros buscando formas de sobrevivência.

Vi a coluna do Bruno Barreto e senti, tristemente, o que há muito era previsto nos bancos da academia, nos ambientes científicos acerca da avalanche de mudanças que a internet iria provocar.

Evidentemente, empresários do setor (sejam aqui ou no resto do Brasil), com princípios conservadores, não acreditavam que um negócio que vinha dando certo desde a revolução industrial iria sucumbir desta maneira, mesmo sabendo que os leitores de impresso estão ficando velhos e os novos leitores nascem superadaptados à lógica do touchscreen.

Periódicos importantes da cidade anunciam que ficarão presentes na internet. É uma saída, embora recheada de dúvidas, um labirinto de difícil navegação.

Ou seja, na tal crise do jornalismo, o jornalismo segue necessário, em qualquer formato, é verdade. E não é na confusão de vozes das redes sociais, dos especialistas de balcão de botequim, que reduzimos a importância do jornalismo. Mas, como financiar este jornalismo necessário?

Neste cenário anunciado de ocaso dos impressos, jornalistas buscam uma saída (muitos se submetem à precarização total por falta de perspectivas), mas o triste é perceber que estes trabalhadores nunca se viram como tais até, enfim, alcançar a situação extrema do aperreio, testemunhando as ruínas, embora agarrados em esperanças (há até quem aguarde uma salvação externa às questões internas das empresas com seus produtos obsoletos).

As empresas de jornais impressos em Mossoró viraram fábricas de fazer prejuízo a cada edição, não conseguem em suas precariedades estruturais desempenhar o jornalismo necessário de antes (não por falta de vontade, mas por força das circunstâncias da convergência).

O leitor fica na dúvida em manter uma assinatura de R$ 50 em periódicos que cortam páginas e cadernos sistematicamente, sem dar satisfações a seus leitores, ou assinar o pacote de duas telas do Netflix, agregando uma locadora inteira dentro de casa.

A dor do jornalista não sai no jornal, pq sabemos que ele lida com empresas privadas. Mas a dor está lá. É como se tudo fosse notícia, mas os casos emblemáticos da própria atividade não tivessem importância. Decadence avec elegance…

Não é à toa que muitos colegas se mostram decepcionados com o jornalismo, buscam outra atividade, dizem que “não tem futuro”, fazem outros cursos, choram as pitangas. Isso não sai no jornal, mas todos falam disso fora das redações, exceto aqueles com “síndrome de elite”.

Acho que este cenário poderia servir de discussão entre entidades como o Sindijorn e até o Departamento de Comunicação da Uern, que, a meu ver, são entidades importantes, interessadas e que podem levantar reflexões sobre o tema. Uma forma de dividir a dor também.

Eu acredito no jornalismo, sabendo que jornalismo não são as empresas. É uma instância filosófica que transcende fortemente à lógica capitalista de exploração do discurso e das narrativas. O jornalismo pode servir para as causas do povo, como sugeriu Adelmo Genro Filho. E novas formas de contar histórias seguem com impulso. Novos modelos são experimentados. O novo jornalista precisa estar atento a isso.

Muitos colegas sentem seus empregos ameaçados e um futuro incerto. Estamos juntos nesta luta se precisar de um companheiro enquanto sentir-se um operário que, lamento, você jornalista é e explorado com aluguel de sua caneta e de sua momentânea consciência.

Momentos de dificuldade devem servir para pensar em alternativas, buscando investir em sua própria capacidade. E conheço muitos colegas de redação que são talentosos e cheio de ideias. O momento de colocar em prática é agora. Basta avaliar o momento com sensatez.

VIVEREMOS E VENCEREMOS

William Robson Cordeiro é jornalista e doutorando em Jornalismo pela UFSC

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto