Conheça a história do abrigo Lar da Criança Pobre

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Por Jocifran Moura

Conheça um pouco o Lar da Criança Pobre de Mossoró que você já deve ter ouvido falar por aí, entretanto, certamente, não conhece de fato sua história e importância para Mossoró. Esta matéria foi produzida para a disciplina Produção de Texto Jornalístico, ministrada pelo Prof° Esdras Marchezan. Agradeço ao jornalista Bruno Barreto pela oportunidade de mostrar meu trabalho neste espaço tão respeitado e admirado. Peço, humildemente, que o leitor compartilhe esta matéria para ajudar ao Abrigo.

Lar da Criança Pobre de Mossoró

Ao entrar por aquele portão, encontra-se nos cantos das paredes vasilhas com água e comida. Para onde você olhar, encontrará gatos dormindo, seja na cadeira ou no sofá, comendo, andando e cheio de carinho para dar a quem quiser receber. Mas este momento só foi possível graças a uma decisão feita anos atrás, para ser mais preciso, há 36 anos.

E graças a essa decisão, o abrigo Lar da Criança Pobre surgiu. “A gente não começou a fundar um abrigo, simplesmente verificamos que tinha animais abandonados, principalmente gatos e cachorros no meio da rua, jogados em qualquer canto, eles sentem a dor como a gente sente”, este é o desabafo de Lisonete Scherzinger, mais conhecida como Irmã Ellen, ao tentar explicar como o Lar da Criança Pobre começou a receber animais.

O abrigo foi pensado para ajudar pessoas pobres e em situação de rua, mas esta história ganhou um novo sentido quando os gatos e cachorros chegaram. Para Irmã Ellen, “os bichinhos”, como prefere chamar, são também filhos de Deus. “Nós não abrigamos por esporte, porque achamos bonito, abrigamos porque eles sentem a dor como nós sentimos, sentem fome, sentem a falta de um lar”, desabafa preocupada, afirmando que devem ser cuidados como os humanos são.

Irmã Ellen tinha o desejo de ser missionária, de ajudar aos pobres, de fazer caridade e isso não saía de sua cabeça desde jovem, entretanto não sabia nem por onde nem como começar a ajudar. Foi então que descobriu uma congregação de Irmãs Franciscanas em Augsburg, sua cidade, e elas a convidaram para participar, acrescentando que tinham missões no Brasil. Aos 18 anos terminou o 2° grau e a vontade de ser missionária já estava bem consolidada, porém era preciso se preparar para ir em busca deste objetivo. Entrou para o covento das missionárias e logo depois para a Universidade de Monique, acabou por se formar para ser professora do 2° grau.

O primeiro contato com o Brasil não foi diretamente por meio de Mossoró e sim Recife. Chegando a cidade em 1971, aos 29 anos, para depois seguir rumo a Limoeiro, um município que fica próximo. Passou algum tempo nessas cidades, “… fui professora de colégio particular, mas não satisfez muito meu desejo porque eu não queria trabalhar com os ricos, mas com os pobres. Ser professora somente não era diretamente uma ação social e não era meu sonho, desejava outra coisa”, pontuou, lembrando que o motivo de chegar a Mossoró foi o então Bispo Dom Gentil comentar que na diocese dele tinha um grupo de irmãs que trabalhava diretamente com o povo pobre. Isso a fascinou. Veio para Mossoró com a Irmã Ermelinda, em 1978. Ao chegar, logo conseguiu um emprego no Colégio Diocesano, porém, passou pouco tempo, pois no ano seguinte fundou o Lar da Criança Pobre de Mossoró graças à doação do terreno pelo Bispo Dom Gentil, que dividiu uma parte para a Igreja Nossa Senhora de Fátima e outra para o abrigo, e sua mãe que mandou o dinheiro para construção.

No início, abrigaram mais de 160 crianças em um turno diurno, mas uma lei criada impedia que ficassem com esses menores por muito tempo e o número diminuiu. Esse trabalho continuou na cidade de Caruaru, na qual abrigaram 240 crianças. As ações sociais desenvolvidas pelas Irmãs chegam aos municípios de Caruaru, Apodi e Baraúna. Além das que são ofertadas em Mossoró.

 Ainda conseguiram, com dinheiro de doações, fundar 17 escolas, sendo a primeira em 1981 uma vez que o Estado não atendia a necessidade da população nas periferias. As Irmãs acreditam que a educação básica é a chave de tudo. Fundou escola após escola, entretanto, em 2005, tiveram que fechar 11 pela falta de dinheiro para mantê-las.

Cristina Scherzinger, veio após dois anos de sua irmã estar no Brasil, por compartilhar da mesma vontade de ajudar aos mais necessitados, aos 29 anos. É a médica responsável por atender os necessitados do abrigo e dar a medicação dos animais doentes. Sua simplicidade é contagiante, é uma mulher de grande coração, e totalmente desprovida de vaidade, seu amor pelos animais e pessoas é demonstrado para além de ações.

Como os animais não paravam de chegar, Irmã Ellen e Irmã Cristina decidiram reservar um espaço só pra eles. Os bichos deixados pelas pessoas eram de várias espécies como cachorros, cavalos, gatos, coelhos, galinhas, patos, ratos, jumentos e por aí vai. Recebem qualquer animal, seja ele doente, acidentado ou velho. Fazem questão de dizer que, no abrigo, cuidam deles até a morte e que jamais nenhum animal foi morto ou será. As irmãs lembram que a sociedade não deve ver a instituição como um depósito de animais.

Irmã Cristina se esforça bastante para mantê-los em bom estado de saúde para que alguém possa adota-los, futuramente. O tratamento acontece graças aos remédios que consegue, na maioria das vezes, vencidos, através de doações, mas garante que esses remédios funcionam sim nos animais. “Nossa intenção é devolver esses animais a sociedade, mas ninguém quer adotar gatos com pernas amputadas, cachorras velhas. A gente trata da maneira possível”, acrescenta Irmã Ellen.

Para manter todos esses serviços em pleno funcionamento, as Irmãs contam com o auxílio de cerca de 150 pessoas, divididas em diversos cargos para dar funcionamento às atividades do abrigo, das escolas e das ações sociais realizadas. Pagam essas pessoas graças às doações de amigos e familiares alemães, de grupos e pessoas particulares que veem o trabalho e decidem ajudar. Os próprios funcionários também contribuem fazendo hora extra sem cobrar nada. Empresas colaboram com comida e material de limpeza. Ou seja, vão se adaptando com o que tem disponível.

“Eu busco remunerar estas pessoas, remunero com o que? Com as doações que recebemos em dinheiro, doações de caridade e não doações do Estado, a gente não tem e nem também quer receber dinheiro do Estado. Os políticos deveriam dar o dinheiro para as Instituições Públicas, vamos olhar o Hospital Tarcísio Maia, lá falta tanta coisa, que eles melhorem as Instituições Públicas, com o dinheiro público. E nossa Instituição seja mantida com o dinheiro de caridade”, destaca firme nas palavras Irmã Ellen.

Para continuar prestando estes serviços, é fundamental que você ajude, contribua com esta causa, doe comida, ração, medicamentos, roupas, seus serviços, sua presença, você não pode ficar de fora dessa. O Lar fica localizado na Rua Maria Salém Duarte, 131 – Abolição II. “Para nós, é uma alegria muito grande receber alimentos, se você pode doar para o Lar da Criança Pobre, eu peço que você nos ajude”, reforça Irmã Ellen.

Tudo isso aconteceu graças à decisão de Irmã Ellen e Irmã Cristina de serem Franciscanas, de renunciarem a tudo que tinham, de irem em busca do desconhecido, por serem estrangeiras numa terra estrangeira e não terem desistido, por acreditar em Deus e crer que o amor transforma as pessoas. E este amor é o grande responsável por continuarem no caminho da caridade.

Reflexão a respeito de Fé

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto