Delcídio do Amaral: os escombros de um homem

Por Emanoel Barreto

Blog Coisas de Jornal

O grito do olhar daquele que se perdeu. Delcídio do Amaral. No flagrante de Evaristo Sá para a AFP a prova de que em jornalismo nem sempre valem as leis, determinações, normas ou regências que a ordem estético-informativa dita. Ou seja: que a imagem facial deve identificar por inteiro aquele que é fotografado.

Não: em jornalismo às vezes vale mais a inesperada, implausível, fantasmagórica, louca ou espantosa visão do que está interno ao sujeito fotografado. A face falando ao ser vista. A dor tem cara e essência visíveis.

E o que se vê na foto é exatamente essa visibilidade. O interior de um homem alquebrado, encolhido, torto. O olhar diz tudo.

A circunstância – algo sombria, desconexa, troncha – completa a composição da imagem: a face e sua faceta. A face – decadente, sofrida, decrépita – revela alguém que busca se esconder no banco traseiro de um carro como se ali fora a gruta de um acossado.

Um crucifixo de aparência tosca faz a ilação entre o homem e sua remição. E alude àquele medo tão humano e tão antigo do Homem: o medo de enfrentar o mundo. E assim o humano busca o divino, o salvador cósmico e bondoso. Bondoso até com os perpetradores.

A foto é poderosa e precisa. E, essa sim, vale mais que mil palavras.

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