Governo do RN sem voz: como o antipetismo radical conseguiu deixar o Estado sem comunicação com a sociedade diante de uma pandemia

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Por Daniel Menezes*

Ao contrário do que o senso comum pode imaginar, informação é elemento central no combate a qualquer epidemia. Conforme pesquisa publicada pela BBC, 80% dos italianos acharam que a mídia exagerava sobre a situação do coronavírus que já se avizinhava e as correntes de whatsapp minimizadoras do problema estavam corretas. O resultado foi o empilhamento de corpos. É neste sentido que campanhas pesadas foram e continuarão a ser empreendidas contra o retorno do sarampo, da sifilis, entre outras doenças já com remédios e vacinas existentes. A possibilidade de ingressar na casa de milhões de brasileiros torna-se ainda mais relevante no momento em que o poder público enfrenta um vírus desconhecido e que precisa educar o cidadão – assustado – para inúmeras medidas.

GOVERNADORA PAUTADA PELO ANTIPETISMO RADICAL

A governadora Fátima Bezerra deixou tal obviedade de lado e foi pautada por um antipetismo radical, seletivo e com desejos políticos inconfessáveis, mas ainda assim objetivos (falarei depois a respeito deles). Uma visão extremista da disputa na arte de Maquiavel secundarizadora dos interesses da sociedade numa hora em que a união contra a pandemia do coronavírus deveria prevalecer.

Explico. O governo do RN se encontra sem a verba da publicidade licitada até o presente momento. Ou seja, nada pode gastar com propaganda. Pensando em promover campanhas de conscientização, a secretaria de comunicação abriu dispensa extraordinária de licitação para empregar 3 milhões de reais com propaganda exclusiva contra o coronavírus durante um período de seis meses. Ora, o dispêndio representa 1/3 do que normalmente o Estado canaliza para a área no mesmo prazo.

FAKE NEWS E APELO À DESINFORMAÇÃO

Após o anúncio, um movimento minoritário – mas barulhento – estabeleceu que era uma medida absurda, dando a entender que, ao invés de investir em saúde, dinheiro seria jogado pela janela.

A associação é bisonha. O governo do Estado, através de parceria com a união e em diálogo com o ministério público, já está correndo atrás dos equipamentos necessários. Uma verba não tem qualquer relação com a outra. Elas, na verdade, se complementam. O raciocínio (sic) não passou de mero jogo para a plateia. Basta acompanhar o noticiário para saber mais a respeito do que é aqui afirmado.

GOVERNO SEM VOZ E SE COMUNICANDO APENAS PELO DIÁRIO OFICIAL

Agora uma situação para lá de absurda ocorre. O governo do RN está se comunicando com a sociedade apenas através de diário oficial com a (in)consequente ausência de capilarização de seu conteúdo. Até o presente momento doze decretos com medidas de combate à epidemia foram veiculados. Porém, como o Estado não tem voz institucional, se limita a transmitir os atos em suas redes sociais e fica a mercê da boa vontade dos veículos de comunicação. A população, não informada, comete erros que depois devem ser corrigidos pela polícia militar na rua, brigando para que bares sejam fechados, para que pessoas não se aglomerem nas praias.

Vale lembrar que as ações de isolamento social estão sendo administradas pelos governadores e pelas prefeituras. Porém, o governo do RN, em especial, nada pode falar a respeito. Não tem voz própria. O custo da operação – em saúde e mortes – será muito mais elevado.

HIPOCRISIA SELETIVA

Vale observar a seletividade do ataque. Enquanto o Governo do RN é “irresponsável” por querer gastar 1/3 da verba de publicidade que normalmente executa em seis meses exclusivamente com o que vem deixando todo mundo assustado e pode colapsar o serviço de saúde, conforme declaração já dada pelo ministro Luiz Henrique Mandetta. Nada é falado contra as prefeituras que, não apenas estão gastando com ações publicitárias distantes do principal problema mundial, como também aumentaram seus orçamentos para o ano eleitoral de 2020 com propaganda. Nada também é dito contra câmara municipal do Natal e assembleia, que estão veiculando outras campanhas publicitárias, inclusive nos veículos críticos da ação governamental.

Repare, caro leitor. Não há aqui qualquer crítica contra prefeituras e legislativos que fazem suas publicidades. A ação é da democracia. Mas por qual razão a do governo, que será exclusivamente feita para a necessidade do Estado liderar a sociedade contra o coronavírus, não está correta e as dos demais não têm problema?! Por qual razão articulistas e jornalistas não vêm qualquer impedimento em seus veículos, que estão recebendo publicidade de outros órgãos, apontam o dedo para o Governo do RN?

UMA GOVERNADORA SILENCIADA

O texto aqui será finalizado com um vaticínio. Na verdade, não chega a tanto. Trata-se do desenrolar evidente. Os mesmos que lutaram para que o governo não deixasse claro quais ações estão sendo hoje tomadas, amanhã irão acusar Fátima Bezerra de leniência diante da crise. A política – perversa diante da consequência deletéria da pandemia – será essa. Eles querem apenas alguns políticos com espaco de fala para amanhã exaltá-los.

*É professor da UFRN, cientista social e edital o Blog O Potiguar

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