Imitando o chefe, Paulo Guedes fala muito e entrega pouco

Guedes arruma confusão com a Argentina (Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara)

Por Kennedy Alencar

 

“Desde quando o Brasil precisa da Argentina para crescer?”, indagou ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Desde sempre em que os dois países se formaram, passaram a ter relações comerciais e políticas.

Essa pergunta mistura uma arrogância com uma ignorância que um ministro da Economia do Brasil não dever ter.

Brasil e Argentina têm economias complementares. A Argentina produz bens importantes para o Brasil. Nós produzimos bens fundamentais para nossos vizinhos, atividade vital para nossa indústria e superavitária na balança comercial.

A Argentina é a terceira maior parceira comercial do Brasil. Nós somos o principal parceiro comercial dos hermanos. Nascido em 1991, o Mercosul está ancorado nessa relação.

As relações com a Argentina não devem ser tratadas como uma questão de governo, mas de Estado. Guedes não pode ameaçar deixar o Mercosul se o governo argentino não for do seu gosto ideológico. Ele não pode falar absurdos desse tipo, imitando o presidente Jair Bolsonaro.

Um ministro da área econômica tem sempre de medir bem o impacto das suas palavras, porque elas guiam as expectativas dos agentes econômicos. Os discursos de Guedes têm impacto sobre a economia real, podem afetar para o bem e para o mal a geração de empregos, a taxa de inflação, a política comercial com outros países etc.

Pedro Malan, que foi ministro do governo FHC, era muito habilidoso na condução da economia porque sabia respeitar a liturgia do cargo que ocupava. Não é arrogante. É culto e ponderado.

Malan media muita bem as palavras por saber que as declarações tinham peso perante os agentes econômicos do Brasil e do exterior.

Outros ministros agiam como Guedes. Por exemplo, Guido Mantega, que ocupou a Fazenda nos governos Lula e Dilma, falava demais, fazia previsões que não se confirmavam e foi se desmoralizando com o tempo.

Paulo Guedes está imitando Jair Bolsonaro. Não deveria fazê-lo.

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