“Imprecionante” não é Weintraub, mas Bolsonaro não ter ministro da Educação

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, com um guarda-chuva em um vídeo em que reclamou de uma suposta
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, com um guarda-chuva em um vídeo em que reclamou de uma suposta “chuva de fake news” Imagem: Reprodução/Twitter

Por Leonardo Sakamoto

Impressionante não é o ministro da Educação ter escrito “imprecionante”. Tampouco grafar paralisar com “z”. Ou chamar o escritor tcheco Kafka de kafta, o prato árabe.

Isso poderia passar para a história como folclore político caso ele fosse competente, preparado e mentalmente equilibrado para conduzir a educação brasileira diante de seus desafios. Mas não é.

Também não é um bufão, apesar dos vídeos dançando com guarda-chuvas. Os bobos da corte faziam rir, enquanto Abraham Weintraub é violento. Em agosto, por exemplo, curtiu uma postagem com ameaças de violência física a estudantes, com imagens de tacos de baseball cobertos com arame farpado. E, não raro, os bobos tinham a liberdade de criticar reis e rainhas e falar a verdade sobre o reino em suas performances. Já Weintraub não ousa dizer o que Bolsonaro não quer ouvir.

Pois se o presidente é o pet de Donald Trump, Weintraub é o pet do presidente.

Impressionante ou “imprecionante” é Jair Bolsonaro ter mantido a cadeira de ministro da Educação vazia por mais de um ano, colocando pessoas despreparadas, nocivas para o país, como prepostos que desperdiçaram nosso tempo. Substituiu a busca pela melhoria da educação básica e superior e pelo aumento da produtividade da força de trabalho por debates que interessam ao passado, não ao futuro.

Como já disse aqui, se ele tivesse indicado um profissional, seja de direita ou de esquerda, a tarefa estaria em curso e, neste momento, haveria discordância de linhas a serem adotadas, como em qualquer discussão democrática, mas não ojeriza e desalento.

Melhor seria se Bolsonaro tivesse repatriado Olavo de Carvalho, guru ideológico de sua família, para ocupar o cargo diretamente. Correríamos o risco da implantação do terraplanismo? Sim, mas, ao menos, a fonte desse “projeto” poderia defendê-lo sem intermediários à sociedade brasileira, que poderia abraçá-lo ou refutá-lo.

O Brasil conta com uma formação precária dos docentes e com alunos que saem do Ensino Médio analfabetos funcionais. Assiste a roubo, ausência e baixa qualidade da merenda escolar. Paga baixos salários aos professores e não fornece estrutura suficiente em todas as escolas. Mantém um teto orçamentário, aprovado no governo passado, que restringe novos investimentos em uma área que ainda está distante de um mínimo aceitável.

Mas repito o que sempre escrevo aqui: a sensação, de acordo com as preocupações do governo, é de que o problema da Educação passa pela presença de ilustrações de pipius e xaninhas em cartilhas voltadas a explicar a adolescentes cuidados de saúde com o próprio corpo. Ou a presença de conteúdo didático destinado a combater a violência contra mulheres, homossexuais e transexuais. Ou ainda um suposta doutrinação gayzista-globalista-político-partidária por militantes comunistas travestidos de professores, que pregam o fim da família e da propriedade privada e distribuem mamadeiras de piroca aos alunos.

Combater fantasmas serve para transformar algo insignificante em um inimigo terrível. Anima, dessa forma, a batalha da extrema direita, aliada de primeira hora do presidente, cujo engajamento é peça-chave para um governo que pretende manter a campanha eleitoral acesa até o seu último dia.

Cada erro de Weintraub, mesmo os intencionais (é possível que as falhas sejam propositais para criar polêmica), dos banais aos estruturais, devem ser debitados de Bolsonaro. É ele que terá que prestar contas com as novas gerações quando o futuro ficar mais distante.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto