Lei do crime manda no RN: regredimos como civilização

Alcaçuz

Sábado o país acompanhou estarrecido a rebelião no queijo suíço que queixa-se de ser um presídio de segurança máxima em Alcaçuz, na Grande Natal. Nas contas do Governo foram 26 mortos, alguns deles medievalmente degolados.

Não é de hoje que se espera por uma tragédia desse porte. Na semana passada o secretário estadual de segurança Caio Bezerra disse no Meio do Dia Mossoró da 95 FM que não havia risco de rebelião nos presídios potiguares. Confesso que ouvi com desconfiança, mas por uma questão de educação fiquei em silêncio.

A tragédia no maior “presídio” do Rio Grande do Norte mostra que por aqui a lei do crime está sobrepondo a legalidade formal. O Estado precisou esperar amanhecer o dia para entrar no local enquanto a matança continuava.

Há quem julgue como positivo o que aconteceu no final de semana. Afinal são bandidos matando bandidos. O que a idiotia fascistóide não consegue compreender, seja por ignorância ou má fé (quem sabe ambas juntas), é que se trata de uma guerra de facções criminosas onde uma vai se sobrepor e tornar-se ainda mais poderosa diante de um Estado inerte e incapaz de apresentar soluções para o combate ao crime.

Infelizmente a profecia de Darcy Ribeiro está se concretizando. Há 30 anos ele dizia que se não fossem construídas mais escolas teríamos que construir presídios. A conta é simples: quanto mais educado é um povo menos criminalidade há. Vide os países nórdicos que são exemplos em educação, igualdade social e com a criminalidade tão pequena que os presídios estão sendo fechados por falta de inquilinos.

Copiamos o que há de pior nos Estados Unidos onde a força do sistema penitenciário fechado faz daquela nação a dona da maior população carcerária do mundo. Tudo travestido na fumaça das leis rigorosas.

Não se pode colocar um sujeito que foi preso vendendo um 100 gramas de maconha ao lado de um psicopata líder de uma facção criminosa. Perde-se um cidadão que teria chances de ser recuperado.

Recuperação. Recuperação? Que recuperação? Onde se recupera apenados nesse país? A lógica do nosso sistema é a da recuperação. Afinal de contas nem temos pena de morte nem prisão perpétua. Mas o que vimos foram sujeitos comemorando as mortes de sábado. Figuras que compartilham imagens religiosas nas redes sociais vibrando com a barbárie.

Somos civilizados? Nessa lógica estamos atrasados uns quatro mil anos em termos de civilidade. Estamos no código Hamurabi (1792-1750 a.C.), monarca babilônico, autor do mais antigo conjunto de leis da humanidade que previa o famoso “olho por olho dente por dente”.

O primitivismo do mundo do crime enxerga nessa lógica da lei do talião. Quem matou tem que morrer e morrer degolado como nos tempos medievais.

A lei do crime está mandando no Rio Grande do Norte. Até quando?

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto