Mossoró nunca foi tão bem representada quanto é hoje por Isolda

Isolda é a única deputada estadual com base em Mossoró (Foto: Wigna Ribeiro)

Por Aécio Cândido*

Carioca, gaúcho e baiano é um estado de espírito, dizem eles. Ser mossoroense também é um estado de espírito. Há mossoroense por imposição geográfica e mossoroense por identificação geográfica. Isolda pertence a esta segunda categoria. Ela escolheu ser mossoroense, sem deixar de ser upanemense e patuense, os outros lugares de suas raízes. Mossoró é assim: acolhe gente de todos os lugares e se o coração de quem chega vem aberto, a cidade o  recebe de coração escancarado.

Atenas, na época de seu apogeu, no século IV a.C., era uma cidade de 50 mil habitantes. Florença também, 17 séculos depois, quando se tornou o centro do Renascimento na Península Itálica. O que estas cidades tinham em comum, além do tamanho? Eram cidades cosmopolitas. Para elas convergia gente com interesses os mais variados. Gente que vinha aprender, atraída por suas escolas, academias e oficinas; gente que vinha ganhar dinheiro com o comércio florescente, trazendo e levando mercadorias; gente que vinha tentar a sorte e lá ficava para sempre. A cidade cosmopolita é aquela onde o estrangeiro não se sente estrangeiro.

Mossoró, em grande medida, é uma cidade cosmopolita. Passagem entre duas capitais, Natal e Fortaleza, centro de conexão entre o sertão e o litoral, produtora de bens extrativos (sal, calcáreo, petróleo), agrícolas (melão, melancia, mamão) e industriais (cimento), e ofertante de serviços (educação, saúde, comércio), ela atrai gente de muitos lugares. Essa atratividade é antiga. A expansão da cidade, desde o começo, se deu graças, em considerável proporção, à presença de “estrangeiros”, de gente de fora. Jerônimo Rosado era um “estrangeiro” de Catolé do Rocha. Chegou a Mossoró na última década do século XIX, com um diploma de Farmácia, a vontade de se instalar e de fazer do novo lugar o seu lugar. O resto da história é conhecida: povoou a cidade com uma prole numerosa (21 filhos) que fincou os marcos da indústria nascente e dominou a política local por pelo menos meio século. Ulrich Graff, o suíço que chegara a Mossoró uns 20 anos antes de Jerônimo Rosado, para montar um comércio de importação e exportação, era estrangeiro mesmo. Mas foi dele o sonho de construir uma estrada de ferro que ligasse Mossoró ao Rio São Francisco e de criar uma escola agrícola que botasse a agricultura da seca em outro patamar. Ele esteve à frente das primeiras providências para construir a estrada, mas ela só se tornou realidade 40 anos depois, em 1915, mesmo assim, somente uma pequena parte. A escola agrícola, criada como Escola Superior de Agricultura de Mossoró, levou quase 100 anos para se concretizar. Os sonhos de Graff, pensados para Mossoró, o “naturalizaram” mossoroense. Ele  trouxe para o sertão a embriaguez visionária da Revolução Industrial.

Como a história não para, a dinâmica social de Mossoró continua a atrair gente. Muitos se fixam na cidade e se integram a ela por sua atuação na educação, nas artes, na indústria, no comércio, nos esportes, na saúde, na política…  A trajetória de Isolda é um exemplo dessa integração. Muito jovem ela chegou a Mossoró para estudar e muito rapidamente se fez mossoroense. Estudante universitária, destacou-se como líder estudantil, chegando à presidência do Diretório Central dos Estudantes, estabelecendo já aí uma forte interlocução com a cidade. Concluído o curso de Ciências Sociais, abraçou o movimento de mulheres, prestando assistência a elas nas áreas dos direitos civis, da cidadania, e da educação. Seu vínculo com esse trabalho a fez conhecer muito de perto toda a zona rural de Mossoró. Isolda injetou Mossoró na veia desde que pisou no chão da cidade. Tanto que hoje a deputada de Mossoró é Isolda, muito naturalmente. Ela conhece a pulsação da vida da cidade, todos os seus espaços, a zona urbana e a zona rural. Isolda é deputada de Mossoró e também do Oeste. Mas o trabalho político de Isolda vai muito além da geografia: ela representa também segmentos sociais como os jovens, as mulheres, a comunidade LGBT, as trabalhadoras rurais, os artistas, e segmentos econômicos como a agricultura familiar.

Somente a má-fé política pode achar que Mossoró está órfã. Mossoró tem Isolda.

*É sociólogo e ex-vice-reitor da UERN

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