Onde mora o perigo

Por Hélio Schwartsman*

Enfrentar a Covid-19 já é difícil mesmo com um estadista no comando; quando se tem Jair Bolsonaro ou Donald Trump, o resultado é a performance lamentável de Brasil e EUA.

Não podemos, porém, atribuir todas as nossas dificuldades à má qualidade da liderança. Há outras características comuns aos dois países que contribuem para o mau desempenho, como as dimensões continentais das duas nações (são várias epidemias regionais se desenrolando ao mesmo tempo) e populações pouco afeitas à ideia de sacrifício pessoal pelo bem comum.

Ainda assim, os americanos têm uma vantagem. Como agora estão testando mais, têm muito mais ideia do que está de fato acontecendo. E o que constataram é que, na reabertura, um grande perigo são situações em que um único indivíduo contaminado consegue transmitir a doença para muitas pessoas.

Eles identificaram vários eventos de supertransmissão em igrejas, bares, casas noturnas e festas.

A essa altura, o leitor já deve estar familiarizado com R, o termo da epidemiologia que indica número de reprodução de uma doença. O R básico da Covid-19 foi estimado em algo entre 2 e 3. Isso significa que, sem medidas de afastamento, cada doente transmite a moléstia em média para de duas a três pessoas.

Médias, porém, são enganosas (na média, a humanidade tem um testículo e uma mama). É aí que entra outro termo da epidemiologia, k, que mede a variação na distribuição de R. Quanto menor o k, maior a probabilidade de eventos de supertransmissão. Adam Kucharski estima que o k básico da Covid-19 seja de 0,1, o que significa que, sem medidas de contenção, 10% dos pacientes responderiam por 80% das transmissões.

Na reabertura, mais do que nunca, temos de estar atentos para situações de aglomeração em lugares fechados em que as pessoas permaneçam por tempo prolongado, em especial se falarem umas com as outras e não usarem máscara. É aí que mora o perigo.

*É jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”.

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