Os eleitores de Bolsonaro estão sendo vítimas do princípio do compromisso e coerência

Por A. Coutinho

Mas o que é o princípio do Compromisso e Coerência?

Este princípio traz como premissa que o ser humano após realizar uma escolha ou compromisso, se submete a pressões internas (expectativas de si mesmo) e externas (expectativas dos que o cercam) para agir de forma condizente / coerente com o escolhido / afirmado.

Depois que fazemos uma opção ou tomamos uma posição nos deparamos com pressões sociais, pessoais e interpessoais exigindo que nos comportemos de acordo com esse compromisso. Sentimos um desejo íntimo de coerência.

Uma vez que pessoas tenham sido induzidas a tomar atitudes que mudam suas autoimagens, elas tenderão a manter sua conduta. A pressão pela coerência dará conta do recado.

Dessa forma, pessoas levadas a assumir um compromisso (tomar uma posição, expressar uma opinião) assumem automaticamente uma coerência automática, obstinada e imponderada com ele. De tal forma que compromissos públicos, ativos, trabalhosos ou livremente escolhidos afetam a autoimagem de uma pessoa, tendem a ser duradouros, levando-a a concordar naturalmente com toda gama de pedidos coerentes com aquela postura.

A coerência automática funciona como um atalho para novas decisões, agindo como uma “viseira”. Em excesso pode assumir uma forma “cega”, digamos assim, que, ao inverso do efeito benéfico de gerar relações pautadas em confiança, pode gerar “correntes” de insensatez.

E assim observamos pessoas lutando cegamente para serem coerentes com uma escolha difícil e de grande impacto que tomaram, para não parecerem incoerentes e inconstantes.

“Não há expediente ao qual um homem não venha a recorrer para evitar o trabalho de pensar”.
Joshua Reynolds

Como escapar deste princípio? Nosso subconsciente nos alerta antes de tomarmos o compromisso. Um desconforto que parece vir do estômago aparece quando percebemos que o compromisso e a coerência estão nos pressionando a concordar com pedidos que sabemos que não queremos satisfazer. Experimentamos nossos sentimentos em relação a alguma coisa uma fração de segundo antes de conseguirmos intelectualizá-la. Dessa forma temos uma chance de evitar o pior.

E se a decisão já foi tomada? Qual seria o antídoto? Precisamos sempre nos perguntar: “Sabendo o que eu sei agora, se eu pudesse voltar no tempo, assumiria o mesmo compromisso? O que devo fazer agora que eu preciso externar que mudei de ideia?” Uma dica, os poderosos aprenderam com Maquiavel como agir em situações como esta:

“…um príncipe sagaz não deve cumprir seus compromissos, quando isso não estiver de acordo com seus interesses e quando as causas que o levaram a comprometer sua palavra não existam mais.”
Maquiavel

“Quando se trata de tomar uma decisão sobre a salvação da Pátria não deve caber qualquer consideração nem de justo, nem de piedoso, nem de cruel, nem de louvável, nem de ignominioso; ao contrário, afastada qualquer outra consideração, deve-se adotar aquela solução que lhe salve a vida e lhe mantenha a liberdade.”
Maquiavel

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto