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A depredação do túmulo de Marx, Cristo, Galileu: o mérito e o alto preço de andar à frente do seu tempo

Por Robério Paulino

Em mais um de meus fins de semana após uma jornada intensa de trabalho, em um sábado, logo cedo fui ao Cemitério de Highgate, onde está o túmulo de Marx e de sua esposa Jenny, que teve a placa com seus nomes vandalizada em fevereiro desse ano, muito provavelmente por grupos fascistas. Lá chegando, realmente emocionado, porque para mim aquele momento se revestia de um imenso significado, de uma grande simbologia, já que, como eu, muitos de minha geração construímos grande parte de nossa visão de mundo e guiamos nossa ação transformadora em boa medida sob a influência das ideias desse gigante, encostei minha mão no seu túmulo e perguntei a ele: “Marx, já não é hora de descansar?” Ele me respondeu: “bem que eu gostaria, mas não me deixam”.

Seguimos numa boa prosa por quase uma hora, sobre toda situação do mundo, do capitalismo, dos povos, dos trabalhadores. Ele me confessou seguir maravilhado com as imensas possibilidades da humanidade com a Revolução Tecnológica e a Ciência, mas ao mesmo tempo extremamente preocupado com os perigos de retorno à barbárie que nos rondam, com a gravíssima degradação ambiental que vê no planeta, com a volta da desigualdade e da pobreza, a possibilidade de novas guerras arrasadoras, decorrentes da irracionalidade do capital. O percebi muito esperançoso com as recentes mobilizações da juventude no Brasil neste 2019.

Deixando a brincadeira de lado – que faço apenas para mostrar como Marx está mais vivo do que nunca -, quero nesta carta discutir e dividir com vocês uma questão que me afligiu por muitos anos, que só vim a entender razoavelmente depois de muito tempo, que é: por que aqueles que andam na frente de seu tempo no terreno das ideias e do comportamento, em seus países, regiões, empresas, organizações, partidos, departamentos, grupos sociais, famílias, pagam um preço tão alto por isso, são em geral incompreendidos, perseguidos, tão hostilizados em sua época, pelos poderosos que controlam esses estruturas sociais ou mesmo pela maioria da gente simples? Sabemos que isso ocorre até mesmo dentro da esquerda, com os que questionam seus erros.

Mais ao final quero discutir também porque o velho Marx teima em não morrer, a atualidade e a potência de suas ideais, um fantasma que assombra os poderosos em pleno século XXI, como também destacar o valor e o mérito de todos daqueles que se adiantam ao seu tempo em toda a história. Para isso, vou analisar brevemente o caso de Marx e de outras grandes figuras humanas, como Cristo, Galileu, Babeuf, Lenin e Trotsky.

Marx foi e ainda é uma das figuras mais influentes da história humana, um dos maiores construtores da ciência social moderna. Suas ideias conquistaram e mobilizaram milhões de trabalhadores, jovens, intelectuais, sindicatos, partidos políticos por todo o mundo. Por outro lado, a reação a elas, o anticomunismo, envolveu outros milhões de indivíduos em todo o planeta e os esforços contrários de centenas de governos capitalistas, sejam ditatoriais ou liberais, nos últimos 170 anos. Mesmo muitos pensadores e indivíduos que não o admitem, partilham ou se beneficiam de suas ideias, ainda que indiretamente ou sem se dar conta disso, pela grande influência que o pensamento de Marx teve sobre todas as Ciências Humanas e Sociais, mudando profundamente todo o modo de pensar sobre a realidade e a questão social.

Juntando o que havia de mais avançado no pensamento humano da época – o socialismo francês, a filosofia alemã e a economia política clássica britânica – Marx construiu uma poderosa teoria científica de explicação do funcionamento das sociedades e do capitalismo e propôs superá-lo. Andar a frente de seu tempo e tentar mudar o mundo, no entanto, o levou a pagar um altíssimo preço em sua vida particular. Foi reverenciado e seguido por milhões, mas ao mesmo tempo muito odiado, caluniado, perseguido por tantos outros.

Marx nasceu em 1818, em Tréveris, Prússia, reino da Alemanha, mas apesar de ter nacionalidade alemã, em função das seguidas perseguições teve que futuramente renegar sua nacionalidade e viver grande parte de sua vida em Londres, até sua morte. Na sua juventude, mesmo com um título de doutor em Filosofia, obtido pela Universidade de Jena, nunca conseguiu ingressar na carreira acadêmica e virar professor universitário, como era seu sonho profissional inicial. Para sobreviver, teve que começar a escrever artigos como colaborador de distintos jornais na Alemanha, até que se tornou redator-chefe da Gazeta Renana.

Até ali Marx não era comunista, mas sim um jovem acreditando nas ideias de Hegel, de que a realidade se move através do embate de ideias contraditórias, pelo choque dos opostos (tese, antítese, síntese), sendo, portanto, um idealista, que via as coisas como conflitos oriundos do campo do pensamento, não ainda de forças sociais. Poucos anos mais tarde, ele viria a perceber que as transformações não ocorriam a partir do campo das ideias, que elas não eram a origem dos processos, mas que a própria realidade material, com seus movimentos, contradições, e as lutas sociais são sim as fontes das mudanças, e que estas sim se refletiam no pensamento, na ideologia. Aqui está o que se chamou de materialismo dialético, um poderoso instrumento de compreensão da realidade, unindo o materialismo científico de Feuerbach à dialética de Hegel.

Em função dos seus ideais liberais e das críticas ao regime prussiano, a Gazeta Renana foi vítima de censura e depois fechada em 1843. Com apenas 25 anos, Marx foi expulso de seu país e mudou-se com a família para Paris, passando a escrever para o jornal Anais Franco-Alemães, que lutava por democracia na França. Desde Paris, ajudou a editar um jornal de reduzida circulação em seu país, o Vorwärts!, que criticava o regime político alemão. A pedido do governo prussiano, Marx seria expulso também da França em 1845, indo para Bruxelas com a família, já junto com seu amigo Engels. Foi na Bélgica que os dois redigiram o Manifesto do Partido Comunista. Em 1848, Marx foi novamente expulso, agora da Bélgica, depois do que, junto com Engels muda-se para Colônia, fundando a Nova Gazeta Renana.

Seria mais uma vez expulso, de Colônia, já em 1849, indo a Paris, já com a família em grave crise financeira. O governo francês não os deixou fixar residência. Somente com uma campanha de donativos encabeçada por Ferdinand Lassale na Alemanha, entre os já muitos simpatizantes, Marx conseguiu migrar com sua família para Londres, onde havia um clima mais liberal e viveria até o final de sua vida. Como apontei ao início, em função de suas ideias e ação, a vida de Marx e sua família foi de perseguições, restrições financeiras e sofrimento.

As condições financeiras da família não foram fáceis. Dos sete filhos do casal, quatro morreram ainda crianças ou jovens, por problemas de saúde. Tanto Marx como sua companheira morreram cedo, aos 65 anos. Mas como vimos na depredação de seu túmulo, mesmo depois de quase um século e meio de sua morte, em pleno século XXI, não o deixam em paz, tamanha é ainda hoje a potência de suas ideias e a ira contra elas. É um espectro que continua a rondar o mundo. Em seu funeral, seu amigo de longa data, Friedrich Engels, o segundo violino, pronunciou as seguintes palavras:

Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. (…) Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, revezavam-se entre si para lançar difamações contra ele.

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Cristo

Outro exemplo de perseguição a uma grande figura muito adiante de seu tempo foi o de Cristo. O cristianismo é a maior religião mundial ainda hoje e o nascimento de seu fundador dividiu épocas. Quando alguém olhar o calendário hoje, em qualquer lugar do planeta, goste ou não, o ano presente estará se referindo ao nascimento desse personagem absolutamente marcante da história humana, o ano zero, tão amplo e poderoso foi o movimento que ele iniciou, concordemos ou não com seus preceitos.

Em função da burocratização posterior do cristianismo e de sua utilização para fins reacionários, conservadores e alienantes, como foi a Inquisição ou são as atividades de muitas seitas religiosas, muitos não entendem que em seu tempo as ideias de Cristo cumpriram um papel muito progressivo, ao seu modo, pelo que foi perseguido e teria sido morto crucificado. Os apóstolos contaram depois que ele teria sido condenado por ser acusado pelos sacerdotes de heresia, por desrespeitar os costumes judeus de não pregar aos sábados, realizar falsas curas milagrosas, blasfêmia etc. Mas a verdade parece ser outra.

A Palestina foi dominada pelos romanos em 62 a.C. Estes tinham como prática utilizar lideranças locais corrompidas para manter seu poder. Assim, nomearam Herodes, que governou entre 37 a.C. e 4 d.C. Depois da invasão, a Palestina, que vivia antes certa prosperidade, foi se tornando um lugar de miseráveis, maior desigualdade e injustiça, o que levava a uma verdadeira guerra civil latente entre judeus e romanos, com seguidas revoltas contra esses últimos. A terra era muito mal distribuída e os trabalhadores rurais eram espoliados, pagando altos impostos. Quando algum fugia, sua família ou seus vizinhos eram hostilizados ou mesmo mortos para dar exemplo as demais, uma situação de grande opressão.

Os romanos saqueavam tanto a população pobre quanto cobravam pesados impostos em ouro dos comerciantes, numa verdadeira espoliação. Lembre-se também que o Império Romano funcionou por muitos séculos em base à escravidão de centenas de milhares de nativos, enviados para Roma ou para outras partes do império, como o Egito. Esse é o ambiente em que surge Jesus Cristo. Mais do que as ideias mesmo que ele pregava, o que atemorizava as autoridades romanas e os sacerdotes corrompidos parecia ser antes de tudo a perturbação que elas provocavam, em uma situação já de tanta tensão e revoltas.

As ideias de igualdade entre todos as pessoas, justiça, bondade, simplicidade, condenação da riqueza de uns poucos frente ao sofrimento de tantos, o questionamento da autoridade e da divindade dos imperadores, eram revolucionárias àquela época contra a exploração e a opressão romana, a luxúria e corrupção do sacerdotes, a pobreza, a miséria, a escravidão, e ameaçavam incendiar o barril de pólvora pronto para explodir que era a Palestina naquele momento. Por isso, os romanos, com apoio dos sacerdotes corrompidos, logo prenderam, torturaram e mataram Cristo.

Há muito de criação, ficção, fantasia, ideologia, feitas pelos apóstolos posteriormente em torno da figura de Cristo, necessária à construção do arcabouço de uma forte religião, da tentativa de explicação do mundo e das origens da humanidade. O que é compreensível para aquele momento, já que eles não tinham condições de dar uma explicação científica para as coisas e os fenômenos, pois a Ciência moderna não havia sequer começado. Os fenômenos sociais, os limites e as ideias dos que as difundem têm que ser analisados em seu contexto. Mas o fato é que Cristo e seus seguidores nos primeiros séculos cumpriram um papel muito progressivo, fortemente civilizatório, questionando as injustiças, a exploração, a desigualdade, a escravidão. Uma religião não teria se tornado tão ampla, forte e duradoura sem ideias poderosas que conquistaram milhões. Uma sociedade não pode se estabilizar sem regras básicas como as que estão nos dez mandamentos, sem um mínimo de valores, ainda que eles sejam descartados rapidamente por muitos quando não lhes convém.

Por se adiantar ao seu tempo, Cristo foi caçado e morreu em grande sofrimento, segundo os poucos relatos históricos sobreviventes da época, pagando com a própria vida por isso. Essa é a explicação também do porquê de os primeiros cristãos terem sido tão perseguidos por séculos no Império Romano, até que este adotasse o cristianismo como sua religião oficial no ano 380. Mas muito sangue correu antes disso. Depois de se institucionalizar e se burocratizar, contrariando sua origem, essa religião passou a ser usada também nos séculos seguintes para o terror contra os dissidentes, de forma reacionária, como foi depois na Inquisição. Até Hitler justificou seus crimes em nome de Cristo. Hoje, em nome do Deus cristão, muitos praticam as maiores atrocidades, defendem a desigualdade e a injustiça, difundem nas redes sociais a mentira e o ódio. Como disse uma vez Gandhi, os cristãos de hoje são tão diferentes do seu Cristo. Aprenderam a odiar os diferentes, a hostilizar os que pedem transformação e progresso, renegando a sua própria história.

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Galileu    

Galileu foi outro gigante do pensamento que também pagou caro por questionar pilares básicos do pensamento de seu tempo. No ano em que ele nasceu, 1564, a Igreja católica, já poderosa e burocratizada, estava adotando uma política de fechamento cultural, de obscurantismo, de perseguição à difusão de novas ideias, a Inquisição, como uma reação ao avanço do luteranismo – naquele momento progressivo – que ameaçava tomar toda a Europa. Em toda formação social, o objetivo da censura é sempre evitar as mudanças, manter determinada situação presente. Além das ideias de Lutero, que agora se propagavam rapidamente pela imprensa de tipos móveis de Gutenberg e corriam como incêndio por toda a Europa, circulavam também as ideias científicas revolucionárias de Copérnico – questionando o sistema aristotélico, que colocava a Terra no centro do universo – que a Igreja logo cedo tratou de condenar.

Toda mudança de paradigma ou ideias novas questionam a divindade, o saber, portanto a autoridade e o poder daqueles que defenderam os postulados errados por tanto tempo. O clima, portanto, era de censura, perseguição, fogueiras. Giordano Bruno fora condenado e queimado vivo na fogueira pouco antes, em 1600, por questionar a finidade do universo e denunciar a corrupção e a hipocrisia na Igreja. Antes já havia sido decapitado e queimado também Francesco Pucci, por propor de certa forma um retorno da Igreja aos ideais originais, de uma igreja universal.

Mesmo ciente dos riscos, Galileu, que só não teve o mesmo destino de Bruno e Pucci por ter mais autoridade que aqueles e ser muito hábil, decidiu desafiar os postulados eclesiais do sistema aristotélico. Foi perseguido e condenado por isso, passando os últimos dias de sua vida recluso em sua pequena propriedade, depois de ter sua pena de morte comutada para prisão domiciliar. Viria depois de séculos a ser apontado como a pai da Ciência moderna, mas morreu isolado, em sofrimento, humilhado, pagando caro por sua ousadia de se adiantar ao seu tempo, por sua coragem de questionar as ideias estabelecidas e os que as defendiam.

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Babeuf

François Noël Babeuf, nascido em 1760, mais conhecido como Graco Babeuf, o “Tribuno”, foi uma das figuras mais emblemáticas da segunda fase da Revolução Francesa iniciada em 1789, sendo uma fonte de inspiração para muitos revolucionários dos séculos XIX e XX. Alguns o consideram um dos primeiros socialistas de fato. A Revolução Francesa teve um caráter dual, burguesa e popular/proletária/camponesa ao mesmo tempo. Com o passar dos anos, no entanto, foi perdendo seu ímpeto revolucionário, sofrendo internamente um retrocesso conservador, processo conhecido também como Termidor. Os interesses burgueses passaram a predominar exclusivamente, mantendo os pobres no mesmo lugar, além do que os novos líderes passaram a perseguir aqueles que questionavam esses limites. O espírito genuinamente revolucionário de certa forma se esgotou já por volta de 1794, com todo tipo de autoritarismo e perseguições sendo cometidos em nome da Revolução.

Babeuf percebia a miséria dos camponeses e da população pobre abandonados pelos novos dirigentes da Convenção e pelos jacobinos e passou a protestar junto com um grupo contra isso, escrevendo a obra O Sistema de despovoamento, em 1794, onde denunciava a deriva ou o retrocesso ideológico da Revolução de 1789. Ali ele fornece boas pistas para se entender o declínio do movimento revolucionário, mostrando os equívocos dos novos governantes, saindo em defesa dos pobres, dos camponeses, das mulheres, das crianças, da gente humilde, que eram chamados de sans-coulottes, por usarem roupas grosseiras, vítimas agora dos novos tiranos.

Por ter a coragem de manifestar abertamente sua oposição aos desmandos dos novos governantes e deflagrar um movimento contra eles, dizendo que estes levavam adiante uma contrarrevolução, pervertendo os ideais da Revolução, Babeuf foi condenado a morte e executado em 27 de maio de 1797. Morreu, no entanto, altivo, dizendo o que esperava da História e lucidamente sabedor do porque era condenado, ou seja, por se adiantar ao seu tempo. No seu discurso final perante o tribunal que o condenou, ele disse “… é bonito ter seu próprio nome inscrito na coluna das vítimas do amor pelo povo. Tenho certeza que o meu estará lá! Feliz é você, Graco Babeuf, por morrer pela virtude!”

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Lenin

Lenin foi provavelmente a figura humana de maior influência para a história do “breve século XX”, como Eric Hobsbawm chamou o período que vai de 1917 a 1991, tendo sido o principal dirigente da primeira revolução socialista do mundo, que fez todo o mundo capitalista ficar aterrorizado, em guarda. Há muita polêmica sobre as concepções de Lenin e poucos personagens da história foram tão admirados por tantos milhões, mas ao mesmo tempo tão temidos, atacados, caluniados e odiados como ele. Suas ideias e ação marcaram o mundo não só por terem contribuído decisivamente para a construção da ex-URSS, por terem dado o sinal para a libertação de muitos povos, como também por toda reação e medo que geraram no campo capitalista, dividindo o mundo em dois campos.

Grande parte da História do século XX foi uma reação à Revolução Russa e às ideias de Marx e Lenin. Além dos grandes avanços sociais obtidos na própria URSS, poucos entendem que muitas conquistas sociais no Ocidente, as chamadas políticas públicas, foram concedidas pelo capital pelo medo que este sentia de que novas revoluções sociais, como aquela, acontecessem no mundo. A maior prova disso é que com a desagregação da ex-URSS em 1991, o capital acelerou muito o corte nos direitos sociais e nos sistemas de proteção em todo mundo, pois já não havia a quem fazer frente. Lenin cometeu alguns erros em minha opinião, mas a degeneração stalinista, com todas as suas perseguições, não tem a ver com suas ideias, mas, como analisou Trotsky, com outras razões objetivas mais poderosas, como o atraso material e cultural da velha Rússia e dos povos que constituíram a URSS e de que a revolução não foi pra frente na Europa Ocidental, como os revolucionários russos tanto esperavam, deixando a experiência soviética isolada. As condições para tentar construir uma sociedade igualitária eram muito desfavoráveis, terríveis, não ajudavam.

Mas cumprir esse papel essencial também custou muito caro a Lenin em sua vida pessoal. Na sua juventude, por viver num regime totalitário, seu irmão mais velho, Alexandre, estudante da Universidade de São Petersburgo, que tentou assassinar o czar em 1887, foi condenado e executado por isso; um choque imenso para Lenin, que o marcou para sempre, pois era muito próximo a ele. Sua família passou a ser hostilizada daí em diante, mesmo pelos amigos, que se afastavam. Apesar de ser excelente aluno, Lenin teve seu ingresso negado na Universidade de São Petersburgo, tendo que ir estudar na distante cidade de Kazan.

Por sua atividade contra o regime, foi preso pela primeira vez em 1897 e mandado para a Sibéria, onde ficou três anos. Libertado, foi exilado na Suíça. Durante o exílio de 17 anos – excetuando-se um breve retorno entre a Revolução de 1905 e 1907 – peregrinou por toda Europa, de cidade em cidade, tendo que viver precariamente em Genebra, Londres, Paris e Munique, driblando as forças de repressão. Historiadores contam que viveu precariamente, usando até mesmo caixas de madeira de embalagens como móveis. Faltavam-lhe às vezes algum dinheiro mesmo para manter a família, pelo que já aos 40 anos precisava de ajuda da mãe. Pouco se importava com tudo isso, era uma figura extremamente humilde; estava focado em outros grandes objetivos, mudar o mundo. E sabia o papel que podia cumprir.

Mas a vida de seguidos conflitos, perseguições, fugas, dificuldades, incertezas, decepções, o levava a ter seguidas explosões de estresse, problemas de pressão e fortes e frequentes dores de cabeça. Mesmo tendo cumprido um papel essencial na Revolução Russa e para toda história do século XX, essa figura central da história humana do século XX sofreu um atentado a bala, com o projétil se alojando em seu corpo, teve seguidos derrames e morreu cedo, aos 53 anos.

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Trotsky

Incluo aqui o exemplo de Trotsky também para assinalar que a reação contra quem se adianta em dizer a verdade ou questionar o que está errado em seu meio ocorre mesmo dentro das fileiras da esquerda socialista, que se pretende revolucionária e inovadora. O capitalismo já é uma formação moralmente decadente e, afinal, a esquerda também está inserida nesse meio podre, nesse sistema, e esse declínio de valores a afeta gravemente em seus métodos. A esquerda não é constituída de santos.

Em sua juventude, Trotsky foi preso na Sibéria, de onde fugiu, passando a viver exilado em vários países da Europa, como Lenin. Voltando à Rússia, ele foi um dos maiores dirigentes e responsáveis pela vitória da Revolução Russa, tendo participação destacada tanto em 1905 quanto especialmente em 1917, chegando a ser o presidente do soviét de Petrogrado, epicentro da revolução. Dirigiu o Exército Vermelho, vitorioso contra as forças reacionárias na guerra civil que se seguiu. A URSS sofreu um verdadeiro cerco das potências capitalistas por todos os lados, saiu vitoriosa, mas arrasada.

Depois de consolidada a vitória e após a doença de Lenin, ao perceber que a Revolução, por várias razões, começava a se burocratizar, a sofrer um retrocesso, um declínio, uma espécie de Termidor Soviético, Trotsky passou a criticar e se enfrentar com a nova burocracia nascente e seus privilégios. Muitos acham que a questão se tratou apenas de uma briga pessoal entre ele e Stalin. Não foi isso. Este último encarnava e incentivava a burocratização, o retrocesso, e instalou um regime monolítico de partido único, de perseguição e massacre dos críticos e oponentes, mesmo os que estavam a sua esquerda. O ambiente de isolamento, retrocesso e cansaço ajudou Stalin. Trotsky previu que se não houvesse uma nova revolução por dentro da Revolução, que regenerasse seus objetivos iniciais, ou uma revolução internacional, que socorresse os soviéticos, algum dia a URSS se perderia. A história, infelizmente (!), deu razão a ele.

Foi exilado por Stalin, peregrinou por diversos países sem que os governos capitalistas o aceitassem. Ao final, exilado e isolado no México, foi morto por um agente da burocracia stalinista com uma picaretada na cabeça. Pagou com a própria vida por ver e denunciar antes da maioria os erros e o processo de burocratização que envergonharam o socialismo, o que deu argumentos ao capital para atacá-lo e desmoralizá-lo como um sistema totalitário e levou depois ao seu colapso. Aqui é importante lembrar que a maioria da gente simples do partido, muitos revolucionários, que não entendiam exatamente o que estava se passando, ficaram ao lado de Stalin contra Trotsky, o que demanda uma explicação, que é um dos objetivos dessa minha carta.

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Além desses nomes que citei, poderíamos com certeza dizer que ao longo da história, milhões de seres humanos perderam a vida ou pagaram caro por se adiantar ao seu tempo, questionar as injustiças, a desigualdade, os sistemas totalitários, as ideias erradas e anacrônicas, os velhos costumes, por defenderem a verdade ou apenas por serem diferentes. Eu poderia falar aqui de Mandela, Ghandi, Martin Luther King e tantos outros, mas essa carta iria ficar maior do que já está. Milhares de mulheres morreram na Idade Média simplesmente porque eram ruivas ou porque não queriam casar ou se submeter aos homens, caçadas como bruxas. A epopeia humana sobre o planeta é bela, mas também bárbara, cruel.

Mesmo entre a burguesia, muitos dos que se adiantaram ao seu tempo terminaram rejeitados, incompreendidos, perseguidos, derrotados. No Brasil, temos os casos de Mauá e Gurgel, por exemplo. Os primeiros capitalistas foram hostilizados pela aristocracia rural no final da Idade Média e tiveram que fazer revoluções contra ela para impor o seu sistema econômico e político. Hoje perseguem os que querem suplantá-lo.

A tentativa de mudança é inerente aos seres humanos. Quem entre nós nunca pensou em mudar a realidade em que nascemos e vivemos? Quem não pensou em mudar as ideias anacrônicas para melhorar a sociedade? Quem não enfrentou a família e os pais quando estes se apegam a ideias do passado?  Mas cada um que algum dia já questionou ou enfrentou o que vemos de errado, dentro de nosso país, de nossa empresa, de nosso partido, de nossa escola, nosso departamento, ou mesmo em nossas famílias, sabe do que falo aqui, dos altos custos dessa opção para suas vidas.

As perguntas que devemos responder são: por que as formações, sistemas, estruturas ou organizações sociais repelem, perseguem os que questionam as ideias estabelecidas, na maioria das vezes erradas, sobre as quais se assenta seu funcionamento? Por que tanto medo e mesmo ódio aos diferentes? E além disso, por que, muitas vezes, mesmo a maioria das pessoas simples, vítimas desses sistemas, ficam contra os que querem mudanças para melhorar a sociedade e se colocam ao lado dos algozes? Por que muitas vezes simplesmente dizer a verdade e fazer a coisa certa gera tanta aversão e ódio nos medíocres, quando devia ser o contrário? Martin Luther King disse uma vez que para arranjar inimigos não se precisa fazer mais nada do que dizer a verdade.

Teoria dos Sistemas

Depois de muito tempo buscando entender porque tudo isso ocorria encontrei alguma resposta na Teoria dos Sistemas, que incorpora também princípios da Física, da Biologia, da Química, teoria que pode muito bem ser aplicada às Ciências Sociais. Impérios, regimes políticos, sociedades, partidos, ou mesmo empresas, repartições, universidades, grupos humanos, famílias, ou seja, as estruturas humanas, funcionam como sistemas socioculturais, complexos sociais.

Todo sistema, apesar de estar em constante transformação, tem um certo equilíbrio. Quando esse equilíbrio é perturbado, o sistema tende a remover a perturbação e tenta restabelecer o equilíbrio anterior. Na Química, isso é conhecido como o Princípio de Le Chatelier. Da Física, conhecemos o princípio newtoniano de ação e reação; a toda ação corresponde uma reação. Por isso em Ciências Sociais e na política os conservadores são chamados de reacionários, porque reagem contra as tentativas de mudança das coisas, ao progresso. Da Biologia, sabemos que o sistema imunológico detecta, cerca, tenta matar e expelir os elementos invasores, os germes, o que nos lembra que nem sempre toda mudança é boa. Mas esse já seria outro assunto.

Por isso, os sistemas políticos e sociais e as demais estruturas humanas, especialmente quando muito atrasadas e conservadoras, e mesmo as ciências, tenderam a rejeitar, hostilizar, perseguir, os que propõem transformação, os diferentes, os que se adiantam em relação às ideias de seu tempo, os revolucionários, para manter o status quo, a ordem, em geral sistemas de opressão e desigualdade, ou paradigmas errados, como o sistema aristotélico.

As ciências também se comportam como sistemas complexos de ideias e reagem inicialmente contra as mudanças dos paradigmas por muito tempo estabelecidos. Para quem quiser se aprofundar no assunto sobre a relação dialética entre permanência e mudança no campo do conhecimento e das ideias, sugiro também ler ou reler as teorias de Thomas Kuhn, sobre As Estruturas das Revoluções Científicas, para entender as imensas dificuldades em se substituir um velho paradigma por outro novo no campo da Ciência.

Mas a outra pergunta essencial que colocamos acima é porque mesmo grande parte das pessoas simples, mesmo quando vítimas desses sistemas sociais injustos, hostilizam os que querem mudanças progressivas e ficam ao lado dos opressores, dos conservadores e mesmo dos fascistas. Isso ocorre porque os sistemas não se compõem apenas dos governantes, das camadas superiores. A grande massa da gente simples, mesmo as mais pobres e exploradas, muitos trabalhadores, são também parte integrante e reprodutora do complexo, são pequenas engrenagens de todo o sistema. A maioria das pessoas foram educadas com as ideias predominantes em sua época nessas estruturas sociais humanas por muito tempo, ou seja, com a ideologia dos opressores, dominante por longos períodos.

Mesmo nas correntes de esquerda esse mecanismo pode ser observado, com grande parte da militância das organizações socialistas hostilizando os que se adiantam em ver corretamente um fenômeno que nega a visão predominante no grupo ou questionar sua política e seus métodos equivocados.

Aceitar o novo, o desconhecido, traz insegurança, enseja perigo. Portanto é mais seguro continuar com o conhecido, o estável, mesmo que ele seja precário, seguindo a força das velhas ideias, dos costumes, dos preconceitos, dos hábitos, aprendidos por gerações. Por isso, as pessoas de menor formação tendem a reagir com medo e aversão ao novo, são capturadas facilmente pelas seitas conservadoras. Querem mudança, mas ao mesmo tempo estabilidade, segurança.

Como os demais animais, os seres humanos também são territoriais e reagem inicialmente de forma hostil a qualquer elemento novo perturbador, intruso, diferente, em seu espaço, seu sistema, que não conseguem entender ou pensem que possa implicar para eles alguma ameaça à sua segurança, ao seu modo de vida relativamente estável, mesmo que este seja precário. Isso é antropológico, tem origem na nossa longa história como animais no planeta em luta pela sobrevivência contra todos os tipos de ameaças. Essa é a base psicológica da xenofobia, a aversão ao estrangeiro, ao diferente, que vemos em muitos países, muito bem explorada pelos partidos conservadores ou fascistas. É também a explicação do preconceito das pessoas de menor compreensão, mais conservadoras, contra as mudanças no campo da sexualidade, dos costumes, contra a população LGBT, por exemplo.

Muitas vezes as pessoas mais conservadoras acham que ao defender ideias ultrapassadas, anacrônicas, apoiando os governantes que as aplicam, mesmo quando são opressores ou reacionários, propagando o ódio e a violência, estão fazendo a coisa certa, defendendo a sociedade, sua religião, seu Deus. É a ideologia da manutenção da ordem, tão comum entre alguns agentes de segurança.

Apesar de toda tecnologia, a humanidade não se livrou ainda dos seus fantasmas, de seus medos, seus diabos, suas velhas tradições, de seu longo passado de incultura, obscurantismo e misticismo. A Ciência e o mundo moderno e urbano são muito recentes e os poderosos e religiosos desonestos atacam a Ciência conscientemente, porque sabem do risco que ela implica ao seu domínio de ignorância. As grandes redes de comunicação estimulam todas as velhas tradições e fantasmas na mente da gente simples, propositalmente, mesmo quando seus proprietários já não acreditam neles. O passado está bem aqui entre nós, hoje, lado a lado com o futuro, como o musgo que se agarra na pedra ao lado da correnteza. Vemos isso hoje no Brasil com pessoas pobres apoiando um presidente de ideias fascistas.

Muitos funcionários nazistas achavam que estavam fazendo o certo, defendendo sua sociedade, sua religião, seu Deus, ao serem cúmplices das piores atrocidades de Hitler. Hannah Arendt discutiu isso em seu livro no qual trata do julgamento do carrasco nazista Eichmann, em Israel, analisando o que chamou de A banalidade do mal, ao descobrir, durante o julgamento daquele carrasco, que ele não passava de um funcionário medíocre, apenas uma peça menor da máquina nazista, uma alma pequena. Ele realmente achava estar fazendo a coisa certa, insensível a todo mal que provocou a centenas de milhares de seres humanos no campo de concentração que dirigiu, dizendo que apenas cumpria ordens.

Torna-se importante entender esse mecanismo mental de toda essa gente para saber dialogar com essas pessoas, quando não sejam mal caráteres, gente perversa, má. Com esses últimos não há diálogo, se combate duramente. Mesmo que Bolsonaro venha a ser derrubado, o fato de que tantos milhões de pessoas tenham sido conquistados para ideais fascistas no Brasil é uma derrota para nós que defendemos um mundo melhor. Será um grande desafio reverter isso. Infelizmente, como eu já disse aqui outras vezes, os erros recentes da esquerda no governo passado pavimentaram o caminho para o crescimento da direita fascista no Brasil, o que muitos se negam a reconhecer, sem um mínimo de autocrítica.

Mas mesmo a esquerda que se propõe revolucionária e a construir um mundo novo, hostiliza e penaliza dentro de suas fileiras, ou seja, em seus microssistemas, aqueles que se adiantam ao seu tempo nas ideias, nas análises, na ação. Já dei o exemplo de Trotsky, um revolucionário genuíno, que foi perseguido, caluniado e por fim morto por dirigentes de partidos que se propunham comunistas. E tem gente que acha isso normal

Quantas vezes a própria esquerda não hostilizou ou expulsou de suas organizações os que se adiantaram em analisar corretamente um fenômeno, por contrariar sua visão errada do que se passa na realidade, por criticar suas alianças ou políticas danosas, por criticar seus métodos internos equivocados e autoritários, na maioria das vezes, e infelizmente, com o apoio da ampla maioria dos militantes, que achavam estar com isso defendendo seu partido. Isso também acarreta desmoralização de muitos, sofrimento, dispersão. Essa é uma das razões da desagregação e da fragilidade atual da esquerda socialista. A esquerda que quer mudar o mundo carrega ao mesmo tempo os germes do novo e do velho em seus métodos. Sem entender isso, demorará mais para construir uma alternativa. Reconhecer os erros e mudar é sempre difícil. Mas é também uma demonstração de grandeza da alma.

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O mérito de andar na frente

Bem, fizemos toda essa longa discussão até aqui, começando por Marx, Cristo, Galileu, para mostrar o alto preço em perseguições, constrangimento, sofrimento, que pagaram ou pagam todos aqueles que se adiantam ao seu tempo, os contestadores, os rebeldes, os diferentes, os inquietos, os revolucionários. Mas para fecharmos esta carta, porque ela já está demasiado longa, devemos apontar também, como diz o seu título, o imenso mérito destes, a essencialidade de todos aqueles que caminham na frente do seu tempo, dos que ousam desafiar as estruturas e ideias erradas de sua época. São eles que constroem um mundo novo, melhor, uma civilização mais elevada, não os seus algozes.

Todos se referem a Cristo todos os dias ao lembrar do ano atual no calendário. Mas alguém lembra dos nomes dos sacerdotes que o entregaram aos romanos para ser crucificado? Alguém lembra do nome dos cardeais do tribunal que condenou Galileu? Alguém lembra dos verdugos de Babeuf? O pensamento de Marx segue cada vez mais vivo, como eu disse no início, enquanto seus perseguidores serão esquecidos na história. E mesmo os déspotas, os ditadores e opressores de todo tipo que serão lembrados no futuro ficarão para a história humana ao lado do mal, como Hitler, Mussolini. Os nomes de Lenin e Trotsky serão lembrados no futuro como os grandes dirigentes da Revolução Russa; o de Stalin, como seu coveiro.

O futuro reserva um lugar de júbilo na história para todos aqueles que ousaram e ousam construir um mundo melhor, mais justo, solidário, educado, esclarecido, tolerante, humano, democrático, de paz entre todos os povos, como esperava Babeuf em seu último discurso. A questão é que queremos que isso chegue logo e nos desesperamos com a demora, com os revezes, pois a vida é tão breve. No entanto, mesmo tendo uma vida tão curta, temos que ter paciência histórica, lembrar que se passaram 380 anos antes de o cristianismo virar o jogo e chegar a ser aceito como religião no Império Romano. Mas desde o tempo de Marx decorreram apenas 130 anos. Fazem apenas 100 anos da Revolução Russa. E a história é caprichosa, parece adorar dar voltas, nos torturar.

Mas é preciso lembrar também que muito desse atraso de o futuro chegar decorre das grandes oportunidades desperdiçadas, perdidas, das traições de partidos de esquerda quando chegam ao poder ou aos governos, o que abre o campo para o capital e a direita atacarem a ideia de uma nova sociedade, os movimentos sociais e para os retrocessos, criando desmoralização. Não fazemos história contrafactual, mas imagine-se que se na ex-URSS, em vez de um sistema totalitário, tivesse havido um socialismo genuíno, democrático, fraterno: que atração verdadeira teria exercido sobre todos os povos. Se alguns governos de esquerda não tivessem sido tão covardes e aplicado as mesmas políticas do capital, a situação atual podia ser bem diferente. Talvez o mundo hoje fosse outro, com o capitalismo já suplantado.

Apesar de tudo, o futuro será daqueles que ousaram e ousam mudar o mundo para melhor, ainda que a um custo altíssimo em sua vida pessoal. Por isso, quero dedicar essa carta a todos eles, em toda história, aos reconhecidos e aos tantos esquecidos, aos milhões que perderam a vida na luta contra o obscurantismo, a injustiça, a mentira e o mal, e também a todos vocês que estiveram nas ruas do Brasil nesses dias, o que nos enche de esperança, lutando ao lado do bem por um novo tempo, por um país melhor, mais justo, em defesa da civilização e da vida no planeta. Enquanto é tempo. Gigantes como Marx, Cristo, Galileu e tantos outros estão mais vivos que nunca. É deles que herdamos o que de melhor tem a humanidade hoje.

 

Londres, 01 de junho de 2019