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Rogério pede correção a O Globo em fala sobre nazismo durante entrevista, mas mantém comparação com o comunismo

A Assessoria de Comunicação do senador Rogério Marinho (PL) entrou em contato com o Blog do Barreto para informar que o bolsonarista pediu a O Globo retificação da fala do parlamentar sobre a quantidade de mortos pelo nazismo.

Onde estava escrito na transcrição da entrevista que o nazismo matou “um milhão de pessoas” (uma minimização) foi trocado por “matou milhões de pessoas”.

“O Globo publicou erroneamente uma afirmação do senador Rogério Marinho e essa fala originou uma matéria no seu blog”, alegou a assessoria.

A comparação descabida entre nazismo e comunismo, no entanto, foi mantida.

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Por que criminalizar o nazismo e não o comunismo?

Por Hermes C. Fernandes*

Como defender uma ideologia responsável pela morte de milhões de pessoas em todo mundo? Uma ideologia que promoveu perseguição, torturas, guerras, genocídios não deveria nem sequer ser considerada, quanto mais defendida.

A que ideologia estou me referindo?

Se você disse “nazismo”, você acertou.

Se respondeu “comunismo”, também acertou.

E se ousou dizer “cristianismo”, lamento informar que você também acertou.

Não há inocentes nesta história.

Entretanto, não se pode jogar fora a criança com a água do banho, tampouco igualar e criminalizar cada uma delas.

O cristianismo, por exemplo, é um subproduto do movimento iniciado por Jesus de Nazaré e seus apóstolos. Não podemos condená-los por aquilo em que a mensagem se tornou três séculos depois, quando o império romano se apropriou da mesma, tornando o movimento em sua religião oficial. É aquela estória… Jesus é o cara, mas o fã-clube estraga.

Jesus pregava o amor ao próximo e aos inimigos. O cristianismo promoveu cruzadas, inquisições, caça às bruxas, etc. A comunidade cristã original tinha tudo em comum. O cristianismo criou a teologia da prosperidade, estimulando o acúmulo de bens em vez da partilha. Os cristãos primitivos acolhiam a todos igualmente. O cristianismo criou o Apartheid, segregando negros em sua própria nação. A mensagem subversiva do evangelho oferecia liberdade e igualdade indistintamente. O cristianismo endossou a escravidão. Jesus valorizou as mulheres, o cristianismo preferiu perpetuar o patriarcado.

Para não ser injusto, devo admitir que não haja um único cristianismo, e sim, cristianismos. Sempre houve um remanescente fiel aos ensinos do mestre. Gente como São Francisco de Assis, Teresa D’ávila, o Papa Francisco, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, Bonhoeffer, e outros. Mas também sempre houve gente indigesta que deturpou a mensagem de Cristo para encaixar-se em seus interesses mesquinhos. Prefiro aqui, não dá nomes aos bois. Pelos frutos são reconhecidos.

Por isso, não faria o menor sentido criminalizar o cristianismo.

E quanto ao comunismo? Deveria ser criminalizado tanto quanto o nazismo?

Quem se deu ao trabalho de ler os teóricos comunistas, certamente perceberá que há diversos pontos em comum com a proposta original de Jesus. Mas assim como não há somente um cristianismo, também não há somente um comunismo. Pode-se dizer, por exemplo, que a comunidade cristã original era, em essência, comunista, visto que “ninguém dizia que coisa alguma era sua, mas tinham tudo em comum.” Pelo menos, este é o testemunho encontrado no livro dos Atos dos Apóstolos.

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.” Atos 4:32

“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.

E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.” Atos 2:44,45

A experiência comunitária da igreja cristã primitiva parece encontrar eco na máxima popularizada por Karl Marx: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.”

Para quem nutre grande admiração por Israel, saiba que um dos experimentos comunistas mais bem sucedidos da história são os kibutz. Trata-se de uma forma de coletividade comunitária israelita. Apesar de existirem empresas comunais em outros países, em nenhum outro as comunidades coletivas voluntárias desempenham papel tão importante como o dos kibutz em Israel, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu.

O problema do comunismo foram as desastrosas tentativas de sua implantação. Algo análogo à tentativa do império romano de impor a fé cristã ao mundo na ponta da espada. Uma coisa é compartilhar seus bens movido por uma consciência social encharcada de amor; outra completamente diferente é fazê-lo por imposição de um Estado opressor.

A propósito, o comunismo em sua essência preconiza o fim do Estado. Portanto, querer implantá-lo a partir da força coerciva do Estado é uma contradição.

Jamais houve, de fato, um país comunista. Por mais que tenham sido ou ainda sejam administrados por um partido comunista, isso não significa que aquela sociedade tenha aderido à utopia comunista. A China, por exemplo, pratica um tipo de capitalismo de Estado.

Se Cristo nada tem a ver com Constantino, nem como o neo-pentecostalismo e sua teologia de domínio, Karl Marx nada tem a ver com Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung, Kim Jong-un ou qualquer outro ditador ou regime.

Portanto, se não se deve criminalizar o cristianismo, também não se deve criminalizar o comunismo, visto ser uma utopia que visa romper com a opressão do capital e combater as injustiças sociais.

Já o nazismo são outros quinhentos. Não existem nazismos. Não há nazismo do bem. O nazismo segue sendo o mesmo desde sua origem e ascensão. Sua ideologia defende a supremacia de uma etnia sobre as demais. E não apenas isso, mas também o extermínio de grupos humanos como judeus, ciganos, homossexuais e deficientes físicos. Não se fala de justiça social, igualdade de direitos, dignidade humana, e sim de nacionalismo cego e supremacia da raça ariana. Nazistas são eugenistas. O problema não está apenas em sua aplicação, mas na ideologia em si, fomentadora do ódio e da discriminação. Por essas e outras que o nazismo é criminalizado na maioria dos países. Ninguém quer ver a reedição do que Hitler tentou impor ao mundo.

Quero deixar claro que não sou comunista, tanto quanto Deus não é cristão. Prefiro identificar-me como um seguidor de Jesus buscando discernir os tempos, adequando-me àquilo que faça jus aos Seus ensinamentos. Como disse Paulo, examinando tudo, mas retendo o que é bom. No comunismo, deparei-me com a utopia. No nazismo só encontrei pesadelo.

*É bispo evangélico.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

 

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PC do B vai denunciar jornalista por incitação ao crime

Alex Medeiros será acusado de incitar a violência (Foto: reprodução)

O jornalista Alex Medeiros, colunista da Tribuna do Norte, postou ontem no Twitter uma imagem de uma pistola Glock e sugeriu que ela devesse ser apontada para bandidos e comunistas.

A atitude provocou reação do PC do B que anunciou que irá apresentar notícia-crime contra o profissional.

Em nota o PC do B classificou a atitude como “transloucada”:

Em atitude tresloucada, típica dos que se nutrem de ódio e que são incapazes de manter convívio democrático com quem pensa diferente, Medeiros reproduz uma pistola Glock e sugere que a arma deveria ser apontada para “assaltantes e comunistas, não necessariamente nesta ordem”.

“Compreendendo que liberdade de opinião não se confunde com ameaça e incitação ao crime, prática sujeita à punição, conforme artigo 286 do Código Penal (incitar, publicamente, a prática de crime), o PCdoB natalense informa que apresentará notícia-crime contra o jornalista”, complementa.

Leia a nota do PC do B na íntegra

 

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Reportagem

O Golpe de 64 não salvou o país da ameaça comunista porque nunca houve ameaça nenhuma

Por Alexandre Andrada

The Intercept 

Há uma farsa historiográfica que ronda a praça de maneira persistente: a tese de que que a “revolução de 64” teria salvo o Brasil da ameaça comunista.

Conversa para boi dormir.

A renúncia de Jânio Quadros em 1961, e a ascensão do seu vice João Goulart, odiado pelo partido mais conservador da época, a UDN, de Carlos Lacerda, e por parte dos militares, foi o ápice de uma cisão ideológica que perdurava havia quase 20 anos. De agosto de 1961 a março de 1964, Jango foi alvo de uma guerra discursiva que o pintou como corrupto e conspirador de uma ofensiva comunista. Era tudo fantasia.

O rolo começou em 1946 com uma briga política que se estendeu por duas décadas entre os três partidos dominantes da chamada Terceira República (1946-1964), incendiada pela UDN de Lacerda. Os udenistas, derrotados nas urnas por Vargas (1950) e depois por Juscelino Kubistchek (1955), faziam uma guerrilha com notícias e editoriais falando sobre o risco iminente de o país virar comunista sem base nenhuma na realidade.

Na Constituinte de 1946, os comunistas do PCB formavam uma bancada respeitável, com um senador – Luís Carlos Prestes – e 14 deputados. Entre esses, Carlos Marighella.

Marighella, que se tornaria mundialmente conhecido por sua guerrilha urbana e acabaria morto pela Ditadura Militar em 1969, era um congressista como outro qualquer. Fazia discurso, frequentava gabinetes, apresentava moções e tomava cafezinho com seus pares.

 O fracasso nas urnas foi transformando a UDN em uma organização golpista.

Em maio de 1947, a justiça declarou ilegal a existência do PCB e os mandatos dos comunistas foram cassados. Diante do golpe jurídico, os comunistas não apelaram para as armas. Ao longo da Terceira República, eram três os partidos dominantes. O PTB, partido de Vargas e Jango, que ocupava a porção à esquerda do espectro político; o PSD, partido centrista, que abrigava Dutra e JK, e a UDN, partido de viés mais liberal, cujo ponto central era o ódio a Vargas.

A UDN era o partido favorito da grande imprensa, de setores da classe média  e da intelectualidade nacional. Só não era o partido favorito dos eleitores. O fracasso nas urnas foi transformando a UDN em uma organização golpista. Se hoje é o “bolivarianismo” que assusta o “cidadão de bem” brasileiro, nos anos 1950 o fantasma regional era o “peronismo”.

Carlos Lacerda em comemoração pela criação do Estado da Guanabara.

Carlos Lacerda em comemoração pela criação do Estado da Guanabara (Foto: Wikimedia Commons)

Às vésperas das eleições vencidas por Vargas, o jornal do udenista Carlos Lacerda, uma das grandes figuras do partido, publicava declarações de um general, afirmando: “o governo tem conhecimento de um vasto plano subversivo organizado pelos comunistas, cuja eclosão se daria ao mesmo tempo, em todo o território nacional. O governo brasileiro está de posse de dados concretos comprovando que o sr. Getúlio Vargas mantém relações com o general Perón, presidente da Argentina”. Dizia-se que Perón financiaria o movimento “para restaurar a Ditadura” no Brasil.

Apelava-se para o medo, plantava-se a semente da paranoia. Mas Vargas saiu-se vitorioso, com 48,5% dos votos. Quando a derrota ficou evidente, a UDN optou por não reconhecer o resultado. O jornal de Lacerda trazia em letras garrafais: “Getúlio não foi eleito legalmente”. Como Vargas não obteve mais de 50% dos votos, golpistas como Lacerda e Aliomar Baleeiro passaram a insistir na tese de que a maioria do eleitorado o rejeitara. Tentam na Justiça barrar a posse de Vargas.Ficou famosa a frase de Lacerda, repetida à exaustão naqueles tempos: “Vargas não deveria ser eleito. Se eleito, não deveria tomar posse. Se tomasse posse, não poderia governar”.

Ainda que tenha feito um governo algo conservador, segundo percepção de renomados historiadores do país, Vargas não pôde governar. Em 1954, em meio às denúncias de orquestrar um plano secreto junto com Perón e de corrupção no Banco do Brasil, a UDN pede seu impeachment, que é rejeitado no Congresso.

Após o episódio da rua Toneleros – quando morreu o oficial da Aeronáutica Rubens Vaz, e Lacerda é alvejado –, Vargas é instado pela cúpula militar a renunciar à presidência. Naquela noite, mata-se com um tiro no peito. Aos se aproximarem as eleições de 1955, temendo a derrota, a UDN volta a pregar o golpe. Primeiro são denúncias contra Juscelino Kubistchek, acusando-o de corrupto. Adiante, a defesa desavergonhada da não realização das eleições naquele ano.

Em editorial de junho de 1955, Lacerda afirmava:

“Não há mais a menor dúvida: a eleição, nas atuais circunstâncias, significa a vitória dos que há longo tempo se prepararam. […] Em nome de que se pretende que toleremos a volta da oligarquia, com o seu cortejo de corrupção e violência? Sustentamos que existe, ainda, uma saída ‘legal, para a falsa legalidade que se pretende manter… A saída que existe… é a concessão de plenos poderes a um Executivo responsável, capaz de realizar as reformas preliminares de que carece a nação…”

Com a chapa JK-Jango eleita, a UDN tenta o golpe na justiça. Afonso Arinos tenta barrar a diplomação dos vencedores, argumentando que teria havido participação do PCB (ainda ilegal) na campanha dos eleitos.

Em novembro de 1955, percebendo as movimentações de um golpe orquestrado por setores civis (leia-se UDN) e militares, o general Henrique Lott põe em marcha o chamado “golpe preventivo”, garantindo a continuidade da legalidade no país.

JK consegue tomar posse e chegar ao final de seu governo, feito raro para a época. Nas eleições de 1960, a UDN decide apoiar Jânio Quadros, fenômeno político e então governador de São Paulo, mas que não fazia parte do partido.

Jânio, porém, renuncia à Presidência em agosto de 1961, jogando o país no caos. É nesse cenário que João Goulart (PTB), seu vice, torna-se presidente. Iria se tornar, na verdade. É declarado persona non grata para a segurança nacional por parte do Congresso, que se articula para impedir que o herdeiro de Vargas tome posse. Setores civis e militares quiseram impedir o cumprimento do texto constitucional. Havia o que se chamava de “veto militar” ao nome de Goulart.

No Rio Grande do Sul, começava a campanha pela legalidade, liderada por Leonel Brizola. Entre os legalistas, estavam o chefe do Exército naquela região, o general Machado Lopes. Circula a notícia que o II Exército, com sede em São Paulo, se encaminharia para o sul, de forma a desbaratar a resistência.

Havia o que se chamava de “veto militar” ao nome de Goulart.

A ameaça passa a ser não de um golpe civil-militar, mas de guerra civil. O Jornal do Brasil em editorial afirmava: “a expressão guerra civil é a única que cabe para definir o que pode acontecer, a qualquer momento, no Brasil”. Até o The New York Times alertava: “os oficiais do Exército brasileiro, que desafiaram sua Constituição e a vontade dos eleitores ao se recusarem a deixar João Goulart assumir a presidência, trouxeram seu país à iminência de uma guerra civil.”

O jornal Correio da Manhã se manifestou em editorial intitulado “Ditadura”, no qual dizia: “o manifesto dos ministros militares, coagindo o Congresso… é o golpe abolindo o regime republicano no Brasil. É a ditadura militar.”

O meio-termo encontrado foi deixar Jango assumir, mas castrado dos poderes presidenciais, graças a um parlamentarismo de ocasião. Era o golpe envergonhado. Voltavam-se a utilizar as velhas armas contra Jango: uma suposta conspiração internacional de caráter peronista, as supostas tendências comunistas do latifundiário e as alegações de corrupção.

O golpe ocorreu quase sem resistência, pois resistência não havia.

Em 1964, o deputado udenista Bilac Pinto afirmava, sem qualquer prova concreta, que Goulart preparava uma revolução, que o presidente organizava uma guerrilha armada no país. Aproveitando-se do ambiente caótico de 1964, em que se somavam a crise econômica e alta polarização política, fez-se o golpe civil-militar de 31 de março.
A suposta guerrilha de Jango, o suposto armamento em posse das Ligas Camponesas (o MST da época), a suposta infiltração comunista nas Forças Armadas, era tudo fantasia.

O golpe ocorreu quase sem resistência, pois resistência não havia. Deu-se um golpe, pois um golpe se queria dar desde 1951, pelo menos. A luta armada comunista, que jamais colocou em risco o governo brasileiro, só emergiu após a implementação da ditadura, não antes. Enfim.

Houve um tempo no Brasil no qual políticos civis não reconheciam o resultado das eleições, que não se conformavam com uma democracia na qual os eleitores elegem seus adversários.

Houve um tempo no Brasil no qual militares de alta patente se arvoravam o direito de falar de política. Tempo em que generais ameaçavam não reconhecer o resultado das urnas, caso o eleito não fosse do seu agrado.

Às vésperas das eleições de 2018, o cenário se repete.