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União da bancada federal precisa ir além do consenso retórico

Fotos de governadores com bancada federal sempre rendem falsas expectativas (Foto: Assecom)

Estou no jornalismo desde 2003 e na área política desde 2006 e já não me iludo com a história que sempre se repete: o governador ou governadora de plantão assume, chama deputados federais e senadores e recebe a promessa de que haverá empenho e união.

Sempre é lembrado o badalado exemplo do Ceará onde os políticos se unem em defesa dos interesses de seu Estado. A diferença é que por lá o clã Ferreira Gomes se entende com Tasso Jereissati (PSDB) e com o PT (pelo menos dentro do Ceará) e atua como pêndulo garantindo a convergência de interesses. Mas isso é tema para outro artigo.

O que nos interessa no momento é o nosso consenso retórico em torno da união que nunca foi além disso: retórica. No dia-a-dia no Congresso Nacional o clima em nossa bancada é de cada um por si e ninguém pelos grandes temas do Rio Grande do Norte. O mais importante é se alinhar com o Governo Federal para garantir indicações de cargos e a liberação das emendinhas que garantem o apoio dos prefeitos quando chegam as eleições.

Se você pegar as notícias da época de Wilma de Faria (2003-10), Rosalba Ciarlini (2011-14) e Robinson Faria (2015-18) foi assim. Todos se comprometiam, mas a prática era de boicotes que sempre ficam nas conversas de pé de ouvido nos bastidores.

Pela primeira vez, o eleitor do Rio Grande do Norte prestou mais atenção no que faz a bancada federal e impôs uma dura derrota aos dois maiores líderes do Estado nos últimos 35 anos: Garibaldi Alves Filho (MDB) e José Agripino (DEM).

Pelo menos três deputados federais eleitos representam algum tipo de renovação: Natália Bonavides (PT), Eliezer Girão (PSL) e Benes Leocádio (PTC). A primeira é uma jovem esquerdista com viés ideológico e pauta clara. O segundo é um ultraconservador e foi eleito pelas posições que assume. O terceiro é um ex-prefeito de cidade do interior com pauta municipalista, mas que contou com forte apoio do presidente da Assembleia Legislativa Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB) o que lhe torna menos “renovação” que os outros dois.

Os senadores eleitos capitalizaram a indignação popular. Zenaide Maia (PHS) se fez graças aos posicionamentos contra as medidas impopulares de Michel Temer e Capitão Styvenson (REDE) surfou na onda de renovação moralizante.

Os demais representantes da bancada federal são Jean Paul Prates (PT) que está senador por ter sido suplente de Fátima Bezerra e os outros cinco deputados que seguem mantendo feudos de seus clãs familiares, mas hoje são cientes de que não podem se limitar ao de sempre porque suas votações reduziram consideravelmente (a exceção de Beto Rosado).

O eleitor deu o recado aos políticos de que o Rio Grande do Norte precisa de mais ação e menos retórica.