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O aniversário e a história de lutas da líder camponesa Elizabeth Teixeira

Por Abdias Duque de Abrantes *

Dia 13 de fevereiro foi o 94º aniversário de uma das mulheres mais importantes na história da luta camponesa do Brasil, a paraibana Elizabeth Teixeira. A trabalhadora rural e ativista brasileira nasceu em Sapé-PB. Enfrentou a família de latifundiários. Ela abriu mão do conforto para viver o amor ao lado de um trabalhador pobre, negro e analfabeto. Com João Pedro Teixeira, formou família e ajudou a construir a história do movimento sindical agrário no Brasil. A paraibana Elizabeth Teixeira é o rosto feminino das lutas camponesas da metade do século passado. Traduz a luta feminina por direitos no campo.

Junto ao esposo, João Pedro Teixeira, fundou, no município de Sapé-PB, o maior sindicato de trabalhadores agrários do país até então. João Pedro Teixeira foi o líder-fundador da primeira liga camponesa na Paraíba, que tinha a denominação oficial de “Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas de Sapé” chegando a contar com 13 mil membros.. As ligas foram instituídas com o objetivo de prestar assistência social a pequenos proprietários rurais, arrendatários e assalariados, defendendo os direitos desses grupos. Em 1962, após o assassinato do companheiro, assumiu a liderança da organização no município de Sapé ao lado de nomes como Pedro Fazendeiro e Nego Fuba. Em diversas ocasiões foi presa. Numa de suas voltas para casa, descobriu que a filha mais velha, Marluce, havia cometido suicídio, acreditando que a mãe havia sofrido o mesmo destino que o pai. Com o golpe militar de 1964, teve que passar para a clandestinidade, adotando o nome de Marta Maria Costa e se refugiou em São Rafael (Rio Grande do Norte), com o filho Carlos. Após o assassinato do seu companheiro e líder das ligas camponesas João Pedro Teixeira em 02 abril de 1962, recusou o convite do presidente Fidel Castro para residir em Cuba com seus onze filhos para dar continuidade à luta pela Reforma Agrária.

Elizabeth Teixeira permaneceu na clandestinidade até 1981, quando foi encontrada pelo cineasta Eduardo Coutinho, que retomara as filmagens de seu documentário Cabra Marcado para Morrer. que contaria a história de João Pedro Teixeira, no entanto, as filmagens foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. O documentário somente seria finalizado e lançado em 1984..Foi morar em João Pessoa, no bairro de Cruz das Armas, numa casa que ganhou do cineasta. A líder camponesa foi homenageada com o Diploma Bertha Lutz e a Medalha Epitácio Pessoa. A casa onde viveu com João Pedro Teixeira, em Sapé, foi tombada e destinada a abrigar o Memorial das Ligas Camponesas, com sede no povoado de Barra de Antas, inaugurado pelo então governador Ricardo Coutinho (PSB).

O memorial tem como objetivos construir um Centro de Formação para o Campesinato; resgatar a memória por meio de documentos, para a formação de um acervo histórico, social, político e cultural das ligas camponesas e lutas da reforma agrária; preservar o espírito de luta das ligas por justiça social, dignidade e reforma agrária.

O Movimento dos Sem Terra (MST) teve como embrião as Ligas Camponesas e a história de luta de líderes como João Pedro Teixeira, Francisco Julião, Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro), Severino Alves Barbosa (Biu Pacatuba), João Alfredo (Nego Fuba). ,Ivan Figueiredo, Elizabeth Teixeira, Margarida Maria Alves e tantos outros companheiros.

Elizabeth Teixeira e Margarida Alves não buscaram apenas melhores condições de vida no campo, mas ditaram a participação feminina nos movimentos sociais do interior paraibano, tímido na época. A história de luta de Elizabeth Teixeira sempre lembrada como símbolo vivo de resistência e luta do povo camponês.

O camponês de ontem e o sem-terra de hoje são atores da mesma história de exploração, dominação e opressão que o Brasil precisa acabar, para que assim possa haver uma sociedade livre, justa e solidária. “A mulher tem que lutar, cobrar seus direitos, tem que ter coragem. Eu tive que ter coragem para continuar a luta e buscar uma vida melhor para os trabalhadores, para os camponeses. Tive também que ter força para aguentar as prisões e ameaças. Não podia ter medo”, declara Elizabeth Teixeira. “Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos aqueles que são oprimidos e explorados. Não pode parar.”, disse a líder camponesa Elizabeth Teixeira.

*É jornalista, servidor público, advogado e pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP), que integra a Laureate International Universities