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Ex-deputado revela bastidores de um rompimento político

Em um artigo intitulado “Caminhos da Política” o ex-deputado federal Laíre Rosado revelou os bastidores do histórico rompimento de seu grupo político com a família Alves, encerrando uma parceria que na época já durava duas décadas.

Laíre compara a frieza com que Garibaldi Alves Filho (MDB) descartou o primo Henrique Alves (MDB) com a experiência que ele viveu 16 anos atrás.

Vale a apena a leitura do texto publicado em O Mossoroense. Segue na íntegra:

CAMINHOS DA POLÍTICA

O ex-senador Garibaldi Alves afirmou que rompeu política e familiarmente com o ex-deputado Henrique Alves. Quando do rompimento de Carlos Augusto com os tios, Dix-huit declarou que, em política, o primeiro que apodrece é o sangue. Na aliança política entre familiares o vínculo se mantém enquanto atende ao interesse de todos.

Em 2006, Garibaldi nos fez passar por vexame semelhante ao que está expondo Henrique. Acreditava que o apoio de Rosalba Ciarlini era fundamenta para sua eleição ao Senado. Foi assim que, pelo telefone, marcou encontro comigo e com Sandra, em nosso apartamento na capital do estado, no cruzamento das ruas Antônio Basílio com Rui Barbosa.

Uma visita do grande líder Garibaldi deveria ser motivo de alegria, mas não foi o que aconteceu. Depois dos cumprimentos iniciais, sem arrodeio, disse que estava precisando do apoio da ex-prefeita de Mossoró e avisava que eu e Sandra, então deputada federal, deveríamos buscar outro partido, deixando o PMDB, partido a que estávamos filiados há vários anos. De maneira enfática, repetiu que não teríamos mais espaço para disputar novas eleições filiados ao partido onde tivemos grandes vitórias.

Ponderei que poderíamos conviver com Rosalba em um mesmo partido. Não havia necessidade de cancelamento de nossa filiação ao PMDB, partido que amávamos e onde nos sentíamos confortáveis. Pedi somente que, caso ele concordasse, queria que o anúncio dessa nova composição fosse feito por nosso intermédio, para evitar uma reação maior dos correligionários. Fiquei surpreso com a reação de Garibaldi, afirmando não havíamos entendido sua decisão e que tínhamos que sair do PMDB. E completou, quanta ironia meu Deus, que entenderia qualquer posição que assumíssemos.

Perguntei sobre o diretório municipal do PMDB em Mossoró e ele respondeu que esse assunto não era mais de minha responsabilidade. Perguntei ainda se Rosalba assinaria ficha de filiação partidária e, mais uma vez, ele não me respondeu. Sempre fui muito tranquilo em minhas reações emocionais, mas não suportava a decepção profunda que tomou conta de Sandra

Não procurei o deputado Henrique Alves acreditando que, mesmo se não concordasse com Garibaldi, não o enfrentaria, quando a justificativa era sua eleição ao Senado. Procuramos Geraldo Melo, além de correligionário, nosso amigo, com provas de solidariedade desde o tempo de Vingt Rosado. Contamos da visita de Garibaldi e ele demonstrou perplexidade, sem querer acreditar no que estava ouvindo. Perguntou se nós concordaríamos em um novo encontro, dessa vez com a sua presença. Geraldo seria candidato ao Senado nessas eleições e tinha interesse em manter unido a base de apoio. Viajei até Brasília e, no apartamento de Sandra, conversamos novamente com Garibaldi, com a participação de Geraldo Melo.

Sandra deixou um muito claro a Garibaldi que estávamos atendendo a uma sugestão de Geraldo, mas não acreditava que Garibaldi reconsiderasse sua decisão de não nos querer no PMDB. Em poucos minutos, diante da frieza e Garibaldi, Geraldo foi acometido de uma crise de enxaqueca que o obrigou a usar medicamentos para concluir o diálogo.

Não havendo mais nada a acrescentar, Garibaldi despediu-se de mim e de Sandra e convidou Geraldo para descerem juntos no elevador, para analisar algum detalhe da conversa, disse ele. Geraldo lhe respondeu que, diante das colocações que havia escutado, não havia mais espaço para nenhuma conversa.

Foi então que Sandra, olhando para os dois, disse “Geraldo, hoje, nós somos os traídos, mas amanhã você é quem será enganado por Garibaldi. Há indícios seguros de que ele já fechou com a candidatura de Rosalba Ciarlini ao Senado.” Ao que parece, Geraldo imaginou essa hipótese inteiramente impossível, mas foi o que aconteceu.

Poucos dias depois de Garibaldi formalizar o apoio a Rosalba como candidata ao Senado, encontramo-nos com Geraldo que foi se dirigindo a Sandra e afirmando, “amiga, você tinha toa razão. E eu não quis acreditar que isso pudesse acontecer”.

No final, Sandra foi reeleita deputada federal. Rosalba foi eleita senadora, com o apoio de Garibaldi. Geraldo não conseguiu voltar ao Senado e o próprio Garibaldi foi derrotado por Wilma de Faria, eleita governadora do estado. Passado o período eleitoral, Garibaldi chegou a reconhecer que tinha cometido um erro político ao trocar o apoio de Sandra e Laire por Rosalba e Carlos Augusto. Não somente por conta de votos, mas pelo desequilíbrio que isso provocou em Mossoró e Região Oeste.

Quem sabe, no futuro Garibaldi Alves volte a admitir ter incorrido em outro erro político, desta vez mais grave que o primeiro. Afinal de contas, como ele mesmo declarou, é um rompimento familiar e político.

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Um contraponto ao artigo de Henrique sobre a relação entre Aluízio Alves e a ditadura militar

Aluízio era ao mesmo tempo vítima e parceiro do regime militar (Foto: reprodução/Tribuna do Norte)

Aluízio Alves foi o político mais importante do Rio Grande do Norte na segunda metade do Século XX. Talvez tivesse sido mais vezes governador e chegado ao Senado se não tivesse acontecido o Golpe de 1964.

No último domingo, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Alves escreveu um artigo no Jornal Tribuna do Norte que ganhou ampla repercussão nos veículos de comunicação da capital. Tudo por causa da última frase em que ele afirma que “a luta continua” dando a entender que em breve volta a política.

O fato histórico foi completamente ignorado pelos colegas.

A mim, o texto chama atenção justamente pelo resgate do passado de nossa política muito embora, neste caso, seja mais pelo viés emotivo que pelo científico.

Henrique, de forma compreensível, floreia a relação de Aluízio com os militares. Um desavisado ao ler o texto do ex-deputado acha que o “Cigano Feiticeiro” está no patamar de Miguel Arraes e Tancredo Neves, que resistiram ao golpe desde a primeira hora.

Aluízio, na verdade, apoiou o Golpe e, inclusive, colaborou com a repressão realizada no Rio Grande Norte na condição de governador não expurgado do cargo como aconteceu com outros colegas que ficaram contra a ruptura democrática. Há um livro chamado “Subversão no Rio Grande do Norte: relatórios dos inquéritos realizados por José Domingos da Silva e Carlos Moura de Morais Veras a mando do governo Aluízio Alves” que explica muito bem como isso aconteceu, inclusive mostrando a importação de Pernambuco de policiais para atuarem na repressão.

Aluízio seguiu sendo a maior liderança do RN mesmo impedido de disputar eleições (Foto: acervo/Tribuna do Norte)

Em 1965, Aluízio fez de Walfredo Gurgel, seu vice em 1960, seu sucessor no Governo do Rio Grande do Norte. A vitória foi questionada na Justiça Eleitoral pelo candidato derrotado Dinarte Mariz (UDN) que tentara subverter o resultado das urnas no “tapetão”. O candidato do “Cigano Feiticeiro” levou a melhor também nos tribunais.

Os potiguares só voltariam a votar para governador em 1982.

Em 1966, já com o bipartidarismo, o “Cigano Feiticeiro” se filiou a Arena (que sustentava o regime) e elegeu-se deputado federal. Aluízio e Walfredo formavam a “Arena Verde”, em alusão as cores do aluizismo. A “Arena Vermelha” estava sob a batuta de Dinarte.

Nos anos de 1967 e 1968, Aluízio estava no grupo de arenistas insatisfeitos com o excesso de poder dos ex-membros da UDN dentro do partido. Queria a implantação das sublegendas.

Alinhado a Carlos Lacerda, que se tornara uma figura rejeitada pelos militares, Aluízo seguia mostrando força política no Rio Grande do Norte. Numa campanha memorável ajudou a eleger Antônio Rodrigues de Carvalho prefeito de Mossoró abatendo nas urnas Vingt-un Rosado por 98 votos. Tão cedo o líder da “Cruzada da Esperança” voltaria a fazer campanha em palanques.

Esse conjunto de acontecimentos custou caro ao “Cigano Feiticeiro”.

Aluízio é de fato uma vítima do Ato Institucional número 5. Em 7 de fevereiro de 1969, o mandato de deputado federal e os seus direitos políticos foram cassados por imposição do governo.

Foram 9 anos de ostracismo. Deveriam ser dez, incialmente. Mais adiante eu explico.

Segundo relatos da época, tudo foi articulado pelo desafeto político Dinarte Mariz. A alegação oficial foi de corrupção.

Os irmãos de Aluízio, Garibaldi e Agnelo Alves, também foram cassados. Restou lançar Henrique e Garibaldi Alves Filho na política nas eleições de 1970.

A perseguição a Aluízio aconteceu, mas foi branda numa época em que adversários do regime eram presos, torturados ou até mesmo mortos. Quando davam sorte exilados.

Adversário involuntário da ditadura, Aluízio manteve relações amistosas com os militares e seguia fazendo política nos bastidores e ocupando mandatos através de filho e sobrinho.

Livros relatam relações de Aluízio Alves com o regime (Foto: acervo/Bruno Barreto)

Mesmo impedido de disputar eleições, durante o ciclo dos governadores biônicos (1970/78), Aluízio influenciou nas decisões da elite política do Estado sendo consultado nas escolhas de Cortez Pereira (1970), Tarcísio Maia (1974) e Lavoisier Maia (1978). Neste último período sucessório, o “Cigano Feiticeiro” ajudou a construir a “Paz Pública” unindo-se em palanque com seus “algozes” para eleger Jessé Freire contra o correligionário Radir Pereira na disputa pelo Senado.

Em troca, ele ganhou uma espécie de “liberdade condicional” em que, se ainda não podia ser candidato, ao menos estava autorizado a subir num palanque.

Isso está relatado no livro “Como se Fazia Governador Durante o Regime Militar: o ciclo biônico no Rio Grande do Norte” do jornalista João Batista Machado.

Aluízio se juntou ao MDB após perder os direitos políticos e de lá saiu em 1979 para um curto período no Partido Popular (PP) onde se juntou a Tancredo Neves. Ficou por lá pouco tempo e voltou ao PMDB, já com o “P” de partido, em 1980.

Mesmo sem diretos políticos, Aluízio buscava manter boas relações com a ditadura e era amigo do general Golbery do Couto e Silva, famoso articulador político do regime. Os militares reconheciam a popularidade do “Cigano Feiticeiro”, mas o queriam de fora da política eleitoral por causa de seu perfil populista.

Aluízio acabou conhecendo sua primeira derrota eleitoral no retorno em 1982 (Foto: reprodução)

O último capítulo da relação entre Aluízio com a ditadura militar transcorreu nas eleições de 1982 quando o voto vinculado o impediu de se eleger governador pela segunda vez sendo derrotado por um garoto de 36 anos chamado José Agripino Maia por uma maioria de 106 mil votos.

Henrique, como filho, tem licença poética para florear a relação de Aluízio Alves com o a ditadura militar, mas a história é implacável para mostrar que o “Cigano Feiticeiro” vagueou ao sabor das conveniências para sobreviver em tempos autoritários tanto que manteve boas relações com um entusiasta da ditadura militar, o político mineiro Magalhães Pinto e isso fica bem claro no artigo de Henrique.

Aluízio Alves fez jus ao apelido “Cigano Feiticeiro” ao conseguir a mágica de deixar para posteridade a impressão de que fora apenas mais um dos perseguidos pelo regime. Henrique reforça essa meia verdade no artigo, mas não foi bem assim.