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A humilhação do quilombola em Portalegre e o empoderamento bolsonarista

Alberan amarrou e humilhou Luciano Simplício em Portalegre (Fotomontagem: reprodução)

Quando vi o vídeo degradante do comerciante Alberan Ferreira humilhando o quilombola Luciano Simplício a primeira coisa que me veio a mente foi: “é bolsonarista!”. Confesso que senti a sensação de estar sendo preconceituoso por fazer um pré-julgamento, mas não deu outra: eu estava certo.

Alberan é entusiasta do presidente, usa máscara com a imagem dele e faz postagens com fotos na famigerada pose da “arminha”.

Alguns bolsonaristas e até metidos a isentos dirão: “nada a ver isso com Bolsonaro” como se o presidente apostasse em formas pacíficas de resolução de conflitos.

Como assim? Tem tudo a ver. As palavras têm força.

Bolsonaro já ridicularizou as comunidades quilombolas para começo de conversa. Quem não lembra ele dizendo que “afrodescente mais leve pesava sete arrobas” insinuando vagabundagem e fazendo alusão à referência para pesar animais de grande porte.

Bolsonaro incentiva que as pessoas se armem para resolver os próprios problemas sem precisar da polícia. Ao ultrapassar os limites do bom senso muita gente recebe esse tipo de mensagem como um endosso para ousar contra quem lhe ameaça.

Não precisa ser especialista em análise do discurso para saber que esse tipo de fala legitima o cidadão do Brasil profundo a se sentir empoderado pra fazer justiça com as próprias mãos contra um negro quilombola em situação vulnerável.

A confusão começou quando Alberan acusou Luciano de ser “drogado” e “bandido” este por sua vez reagiu fazendo ameaças e atirou pedras no comércio do desafeto. A reação padrão deveria ser chamar a polícia e prestar queixa pedindo proteção, mas o comerciante seguiu alógica do bolsonarismo empoderado e foi fazer “justiça” com as próprias mãos.

Há aí um componente racial muito claro. Quem viu o vídeo vai lembrar do caso George Floyd, que chocou o mundo no ano passado. Quando um empresário se julga “cidadão de bem” se acha no direito de resolver as diferenças amarrando, agredindo e humilhante uma pessoa em situação vulnerável é porque ele se sente empoderado por um líder que prega a violência como instrumento de resolução de conflitos.

Foi Bolsonaro quem disse ter como especialidade matar.

Não, Bolsonaro não mandou ninguém amarrar quilombolas, mas só fanático nega que não há influência do discurso exaltando a violência que ele profere nessa história. Como escrevi acima, as pessoas recebem as mensagens e fazem delas o que bem entendem.

Que Alberan tenha um julgamento justo e seja punido na forma da lei e digo o mesmo para Luciano, caso se comprove que ele jogou pedras no estabelecimento, mas que este tenha acolhimento e empatia.