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Mecanismo provoca debate sobre limites entre ficção e realidade
Mecanismo provoca debate sobre limites entre ficção e realidade

Ontem assisti o primeiro episódio da Série O Mecanismo oferecida pelo Netflix que tanta polêmica tem provocado nas redes sociais. A primeira sensação que fico é a de que o país não está preparado para seriados políticos tão comuns nos EUA.

Outro ponto: há uma confusão entre ficção, ficção baseada em fatos reais e documentários. Só este último tem compromisso com a verdade dos fatos. Os outros dois não.

O Mecanismo se propõe a ser baseada em fatos reais e é isso que abre margem para questionamentos.

Logo no primeiro episódio o caso do Banestado (Banco do Estado do Paraná) surge dando a entender que é um escândalo petista quando na verdade é algo da época do PSDB. Foram dezenas de bilhões enviados ao exterior de forma ilegal, causando dissabores ao ex-presidente do Banco Central no governo FHC, Gustavo Franco.

A citação do personagem que faz alusão a Alberto Youssef dizendo que o ministro da justiça iria resolver o problema não é tão absurda como apregoou a ex-presidente Dilma Rousseff em artigo. O relator da CPI do Banestado, realizada em 2003, era o petista José Mentor que teve atuação bastante criticada por propor anistia aos que enviaram dinheiro ilegalmente ao exterior. Ele foi acusado de sabotar a CPI.

Mas é claro que não relação com a realidade o envolvimento do então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (já falecido) em qualquer intervenção nesse sentido.

Ainda não vi o restante dos episódios, mas sugiro que ao final de cada um deles o leitor faça uma pesquisa no Google para conferir se os fatos batem com a série, chega a ser educativo fazer isso, inclusive por se tratar de um exercício de separação entre ficção e realidade.

Algumas pessoas estão chocadas, com razão, por causa de uma cena em que o personagem atribuído a Lula usa a famosa frase de Romero Jucá que fala no “grande acordo nacional, com o supremo, com tudo”. Nesse caso, a liberdade da ficção flertou com a desonestidade intelectual e confunde os mais desinformados e preguiçosos que não vão tirar dúvidas pesquisando.

Quanto à ideia de censura ao Netflix entendo que as pessoas são livres para escolherem se assinam ou não um serviço de entretenimento, mas considero qualquer campanha nesse sentido uma demonstração de autoritarismo. Não gostou não assista. Assistiu se informe mais sobre os assuntos abordados.

Aos políticos do PT que estão revoltados com o seriado e o filme que tal se organizarem e fazerem algo mostrando suas versões? Ou melhor: que tal trazer à tona na ficção as falcatruas engavetadas na era FHC como caso Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), pasta rosa, privataria e a famosa compra de votos para emenda da reeleição que criou as bases para o mensalão nos governos petistas.

Cada um com o seu mecanismo, qual é o seu?