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Ataque raso

O mundo das redes sociais desvendou o mistério de uma das áreas mais difíceis de trabalhar na pesquisa em ciências sociais: os estudos sobre recepção das notícias.

A teoria da agulha hipodérmica não se confirma. O público não absorve as notícias como algo pronto e acabado. Pelo contrário duvida e muito do que nós jornalistas noticiamos.

A profissão que escolhi está em crise.

Mas essa reação não se dá por critérios como cidadania ou desejo de querer esclarecer os fatos. Numa sociedade politicamente polarizada como a nossa as versões são mais importantes.

A pós-verdade controla as mentes. As pessoas acreditam no que querem e não no que se impõe como fato. A cobrança por imparcialidade não é fruto do clamor por bom jornalismo, mas para que se denuncie os adversários e se cale contra os aliados.

Resumindo: ninguém é imparcial.

Essa postura é ruim porque empobrece qualquer debate. É péssimo porque a verdade é a maior vítima.

No meio disso, os argumentos desaparecem. É como se o público quisesse um jornalista moldado à sua corrente de pensamento. Enxergar qualidades em quem pensa diferente é um exercício de bom senso pouco usado.

O mais importante é “lacrar”, “mitar” ou coisa que o valha. O interesse maior não é travar o bom debate, mas deslegitimar quem está tentando propor uma discussão. É uma tática boa para o líder político que está se beneficiando com isso, mas ruim por ser autoritária. Trata-se de uma demonstração, também, de indigência intelectual de quem apela a este recurso. É preciso refletir sobre o que é escrito, diferenciar notícia de artigo de opinião.

Nas redes sociais, principalmente no Facebook, percebo um deserto de pobreza argumentativa. A maioria das pessoas aparecem para xingar quando discordam. “comunista”, “petista”, “assessor do PT”, “parcial” e tantos outros adjetivos fazem parte da minha rotina. Já sofri com isso, hoje dou boas risadas embora não seja tão paciente quanto dizem.

Antes de criticar um texto se pergunte: “por que discordo?”, “no lugar dele o que eu escreveria?”, “tem alguma mentira/omissão?” ou “o que faltou neste texto?”. É uma forma mais interessante de se debater os fatos.

As Redes Sociais viraram apenas um ponto para o julgamento inquisitorial de haters. Lidar com isso será um grande desafio para os jornalistas nos próximos anos. Uns preferem se ausentar do debate em nome da saúde mental, outros escolhem tentar argumentar dando murro em ponta de faca. Cada um reage dentro da sua visão de mundo e eu respeito quem prefere não se desgastar.

Gostaria mesmo era de que as pessoas rebatessem um artigo ou notícia que publico com argumentos. Para mim seria um exercício intelectual interessante porque me levaria a refletir sobre o que estou produzindo.

Pena que raramente acontece.