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O mundo no fio da navalha

Por Ney Lopes*

O mundo passa por momento de elevada tensão, decorrente da inconveniente visita à Taiwan da presidente da Câmara de Deputados americana, Nancy Pelosi, 82.

O fato mostra como o equilíbrio e o bom senso são indispensáveis aos líderes políticos.

Um gesto ou comportamento inconsequente geram crises e conflitos.

China e Taiwan vivem como dois territórios autônomos desde 1949, quando o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, depois da derrota na guerra civil frente aos comunistas.

Independente de posição ideológica em relação a China, a ONU reconheceu claramente pela Resolução 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas de 1971, que há apenas uma China no mundo.

Taiwan é uma parte inalienável do território da China, e o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China.

Recentemente, durante longa conversa telefônica, o Presidente da China, Xi Jinping, avisou a Biden para não “brincar com o fogo” em relação a Taiwan.

Ponderado, o presidente americano Joe Biden tentou evitar a visita da deputada Nancy Pelosi, porém não teve sucesso.

Ela ultrapassou os limites e como instrumento de galvanizar simpatia política para reeleger-se deputada em 8 de novembro próximo, desafiou a tudo e a todos.

Esta não é a primeira vez que Nancy Pelosi provoca a China.

Quando era jovem congressista, ela denunciou o que chamou de massacre de 1989 na Praça da Paz Celestial contra manifestantes pró-democracia, e acusou o serviço de segurança chinês de realizar “execuções secretas.

Considera que os direitos humanos do povo chinês não são um assunto interno.

Pelosi já criticou os dirigentes chineses e reuniu-se com dissidentes políticos e religiosos, bem como com o Dalai Lama.

No início da década de 90, visitou o país e na praça da repressão de 1989 depositou flores num monumento aos mártires, exibindo uma faixa que dizia “Para aqueles que morreram pela democracia na China”.

Atualmente, uma das consequências mais graves da visita de Pelosi será a possiblidade de a China retaliar apoiando a Rússia em sua investida contra a Ucrânia.

Os chineses não condenaram a invasão russa da Ucrânia, mas não lhes venderam armas.

A China preferiu cautela.

Enquanto isso, Taiwan, com quem o país norte-americano não mantém relações oficiais, é abastecida de armamentos pelos EEUU, que declara ser o maior aliado militar da ilha, em caso de conflito com o gigante asiático.

Como protesto à presença da parlamentar norte-americana, aviões militares chineses entraram na Zona de Identificação da Defesa Aérea de Taiwan e fazem exercícios, até com misseis.

A verdade é que há uma inquietação global.

Por mais sólidas que sejam as convicções democráticas da Presidente da Câmara de Deputados americana, não se justifica colocar o mundo num fio de navalha, cujo maior prejudicado poderá ser o seu próprio país.

*É jornalista, advogado e ex-deputado federal.

Este texto não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema. Envie para o barreto269@hotmail.com e bruno.269@gmail.com.

 

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Imitando o chefe, Paulo Guedes fala muito e entrega pouco

Guedes arruma confusão com a Argentina (Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara)

Por Kennedy Alencar

 

“Desde quando o Brasil precisa da Argentina para crescer?”, indagou ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Desde sempre em que os dois países se formaram, passaram a ter relações comerciais e políticas.

Essa pergunta mistura uma arrogância com uma ignorância que um ministro da Economia do Brasil não dever ter.

Brasil e Argentina têm economias complementares. A Argentina produz bens importantes para o Brasil. Nós produzimos bens fundamentais para nossos vizinhos, atividade vital para nossa indústria e superavitária na balança comercial.

A Argentina é a terceira maior parceira comercial do Brasil. Nós somos o principal parceiro comercial dos hermanos. Nascido em 1991, o Mercosul está ancorado nessa relação.

As relações com a Argentina não devem ser tratadas como uma questão de governo, mas de Estado. Guedes não pode ameaçar deixar o Mercosul se o governo argentino não for do seu gosto ideológico. Ele não pode falar absurdos desse tipo, imitando o presidente Jair Bolsonaro.

Um ministro da área econômica tem sempre de medir bem o impacto das suas palavras, porque elas guiam as expectativas dos agentes econômicos. Os discursos de Guedes têm impacto sobre a economia real, podem afetar para o bem e para o mal a geração de empregos, a taxa de inflação, a política comercial com outros países etc.

Pedro Malan, que foi ministro do governo FHC, era muito habilidoso na condução da economia porque sabia respeitar a liturgia do cargo que ocupava. Não é arrogante. É culto e ponderado.

Malan media muita bem as palavras por saber que as declarações tinham peso perante os agentes econômicos do Brasil e do exterior.

Outros ministros agiam como Guedes. Por exemplo, Guido Mantega, que ocupou a Fazenda nos governos Lula e Dilma, falava demais, fazia previsões que não se confirmavam e foi se desmoralizando com o tempo.

Paulo Guedes está imitando Jair Bolsonaro. Não deveria fazê-lo.