A quem serve a mobilidade pública de Mossoró?

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Mobilidade urbana é também um problema social (Foto: arquivo)

Por: Plúvia Oliveira*

As desigualdades sociais se tornam mais evidentes pela ausência de políticas públicas, que tem aumentado significativamente no contexto das crises, econômica, política, em especial sanitária com consequências sociais, em que os municípios tem pouco contribuído para superação, seja pela incapacidade, seja pela orientação política que tem deixado de fora os mais pobres da construção de qualquer alternativa, como acontece em Mossoró.

Pensar e debater, por exemplo, a “Mobilidade” na cidade como política Pública, tem a ver como e por quem a cidade deve ser ocupada, visto que os modelos adotados ao longo dos anos são excludentes para os pobres que tem ocupado de forma massiva as periferias. Isso é tanto verdade, que os bairros de Mossoró se formaram a partir dos processos produtivos relacionados às atividades salineira, do petróleo e mais recentemente da fruticultura e da educação com a construção da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), hoje Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).

Desde então, os problemas vão desde a falta de rotas dos ônibus em toda Mossoró, até o não planejamento do trânsito para veículos automatizados, ciclistas e pedestres, cujos acidentes pelo uso de transporte particular acontecem na hora do rush, principalmente nas saídas dos bairros periféricos. Resolver o problema do transporte público em Mossoró é desafiador para quem moram em comunidades periféricas, tanto para os trabalhadores (as), como para seus filhos (as), que têm que ir para o trabalho que fica concentrado no centro da cidade, escolas nos grandes bairros e para as universidades (as públicas se concentram na zona leste da cidade), seja pelo valor da passagem atual (R$ 3,30) ou pela quantidade insuficiente de ônibus, que gera demora no deslocamento.

O atual modelo de transporte público de Mossoró vai de encontro com o que sempre fez as oligarquias e a atual gestão em nossa cidade, excluir a grande maioria da população, que não pode usufruir dos processos de desenvolvimento da cidade. A falta de transporte público de qualidade (ônibus), bem como a definição das rotas das linhas diz muito sobre o projeto político que temos à frente de Mossoró. As linhas de ônibus contemplam o centro da cidade, em que se concentram lojas, e a maior parte no horário comercial. Nos horários não comerciais e nos finais de semana, quando a classe trabalhadora pode vivenciar outros espaços e dependem do uso de ônibus, não podem o fazer, já que a frota de ônibus, em alguns momentos, para de funcionar.

Mossoró tem diversas ferramentas culturais, como o Corredor Cultural, que funciona na Rio Branco, e as rotas de ônibus não contemplam esses espaços durante a semana e muito menos aos sábados e domingos. Isso traduz o modelo de gestão da nossa cidade, que não permite que todos (as) vivenciem a cidade, quando na verdade a população é quem deveria definir vivenciar ou não qualquer ambiente e não interesses puramente econômico e/ou comercial, mas também sejam consideradas as necessidades, anseios, ou seja, a vida da população.

Além do transporte público, que é um direito social, pensar mobilidade, é pensar também em garantir a acessibilidade das pessoas como um todo, com necessidades especiais ou não. Não se pode pensar somente nos veículos motorizados, é necessário pensar nos ciclistas e também nos pedestres, nas várias formas de transporte, seja individual ou coletivo. Em Mossoró, não há ciclovias para que ciclistas possam trafegar de forma segura e muito menos condições que possam facilitar o deslocamento em caminhada, como espaços arborizados e seguros, sobretudo para as mulheres, com calçadas com acessibilidade, por exemplo.

Nos últimos anos, denominado anos de ouro, Mossoró teve uma grande expansão, mas as gestões que se sucederam à frente da cidade não tiveram o mínimo de planejamento, nem no trânsito e muito menos na construção de um plano de mobilidade que dialogasse com políticas públicas, que pudessem oportunizar as pessoas das periferias e da zona rural, garantindo qualidade de vida e serviços nas suas próprias comunidades, mas também dando as condições para utilizarem outros ambientes da cidade de quando necessário. Que o direito de usufruir à cidade, seja um direito de todo (as).

*É graduanda de Gestão Ambiental, na UERN, na qual já presidiu o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Mulher, negra e periférica é militante do coletivo de negros e negras Enegrecer, da Marcha Mundial das Mulheres e do Partido dos Trabalhadores.

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