Bolsonaro falou a verdade; ele está acabando com a Lava Jato

Foto: Adriano Machado/Reuters

Por Tales Faria

A pergunta que fica no ar é: como vão reagir os bolsonaristas de raiz?

Bem, a primeira vez que ouvi falar em estelionato eleitoral foi em 1986, após as eleições daquele ano.

O Plano Cruzado estava esgotado, a equipe econômica do então presidente, José Sarney, elaborou uma série de medidas de ajuste com forte aumento de impostos que viriam a ser conhecidas como o Cruzado 2.

Eram medidas impopulares, então Sarney deixou para depois. E seus aliados puderam ir para as eleições de governadores, naquele ano, dizendo que nada ocorreria contra a vontade do eleitorado.

Logo que as urnas se fecharam, foi lançado o tal Plano Cruzado 2 com as medidas impopulares planejadas anteriormente. Foi aí que ouvi falar pela primeira vez em estelionato eleitoral.

Segundo os manuais de política, isto ocorre quando o candidato vai para a campanha com um discurso oposto ao que de fato fará após as eleições.

Pois bem, o presidente da República foi para a campanha eleitoral de 2018 com a defesa ardente da Operação Lava Jato, então comandada pelo juiz Sergio Moro, de Curitiba.

A Operação começou atirando no PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas acabou se espraiando pelos aliados do partido no Congresso.

Especialmente aqueles que compunham o centrão, na época comandado pelo deputado Eduardo Cunha, do MDB do Rio de Janeiro, com quem Bolsonaro se dava muito bem.

O atual presidente da República sempre foi do centrão, mas fazia campanha dizendo-se o arauto de uma nova política, contra aqueles velhos métodos, grudado na popularidade da Lava Jato e de Sérgio Moro.

Bolsonaro fez juras de amor à Lava Jato antes das eleições

Escrevia posts em que declarava: “Os que hoje se colocam contra ou relativizam a Lava Jato, estão também contra o Brasil e os brasileiros. Todo apoio à operação que está tirando o país das mãos dos que o estavam destruindo!”

Anunciou antes mesmo da eleição que pensava em Sergio Moro como seu ministro da Justiça. E, de fato, chamou Moro.

Mas aí o capitão foi eleito. Chegou ao poder e, para se manter no cargo, buscou o apoio daqueles partidos dos quais sempre fez parte e que mandam no Congresso. Quem? Ora, o centrão!

Mas o centrão cobra seu preço para blindar o presidente contra um eventual impeachment, caso as investigações contra Fabrício Queiroz, Flávio e Carlos Bolsonaro cheguem a algo efetivo.

E qual o preço?

Bem, será cobrado aos poucos e pago em prestações. A primeira parcela foi relativa à Lava Jato, e Bolsonaro já está pagando. O juiz Sérgio Moro foi defenestrado do governo. Os lavajatistas caíram em desgraça.

É verdade que cometeram excessos. Mas ninguém esperava que se tornassem vítimas de Bolsonaro tão rapidamente.

Formalmente a Força Tarefa estará mantida até janeiro, segundo decisão da Procuradoria Geral da República. Mas, na prática, seu fim já está selado.

Daí porque o presidente, em uma solenidade no Planalto nesta quarta-feira, 7, declarou que acabou com a Lava Jato.

É provável que, de alguma maneira, Bolsonaro volte atrás em sua declaração, nos próximos dias. Dirá que a Lava Jato não acabou e que foi mal interpretado.

Afinal, essa sua afirmação deixou perdidos os bolsonaristas de raiz. Boa parte deles até aceitaram a saída de Sérgio Moro, mas se agarraram à afirmação de que a Lava Jato não morreu.

Agora, com essa nova notícia, só restará a alguns dos bolsonaristas de raiz se fixar naquela explicação do presidente: de que ele acabou com a Lava Jato porque não existe mais corrupção no governo.

Você pode não acreditar nisso. Mas há gente que acredita em tudo, não é mesmo?

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