
A governadora Fátima Bezerra (PT) apostou em seguir a orientação da ciência desde o início da pandemia. Montou um comitê científico com professores universitários, seguiu as orientações, se desgastou por isso e colhe impopularidade.
Os números da pesquisa Seta/Blog do BG indicam um cenário preocupante para a chefe do executivo estadual. Não adianta a militância petista acusar a pesquisa como “comprada” como alguns insinuam em postagens nas redes sociais. O dono do Instituto Seta, Daniel Menezes, é uma rara voz progressista na mídia da capital.
A narrativa da governadora foi derrotada. Aliás ela sequer teve uma narrativa em condições ocupação de espaços em pé de igualdade na mídia da capital. Falhou ao ceder as pressões de adversários e do Ministério Público. Este último reconheceu o equívoco em barrar a propaganda institucional do Estado. Resultado: 72% dos natalenses desaprovam o governo e 76% avaliam a atuação da governadora contra a pandemia de forma negativa.
E olhe que ela abriu leitos de UTI, contratou servidores para reforçar o atendimento aos pacientes e os membros de seu governo estavam todos os dias prestando esclarecimentos. Nada disso adiantou. Prevaleceram sobre os acertos os erros dentre eles a controversa compra dos respiradores por R$ 5 milhões via Consórcio Nordeste.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro dizia “e daí?” sobre as mortes provocadas pela pandemia, segurava a liberação de recursos para ações contra a pandemia (no final de junho menos de um terço dos recursos tinha sido liberados) e até hoje metade da verba prevista para estados e municípios chegou. Mas teve o auxílio emergencial de R$ 600 (o presidente queria R$ 200) e mesmo assim ele é aprovado por 49% dos natalenses e 47% concordam com sua atuação na pandemia.
O prefeito Álvaro Dias (PSDB) se envolveu no escândalo do Hospital de Campanha, bateu de frente com as orientações científicas, pregou o uso de remédio para tratamento contra vermes para tratar covid-19 e fez muita propaganda na TV. Resultado: é aprovado por 53% dos natalenses, é favorito para a reeleição e sua atuação contra a pandemia tem endosso de 58% dos moradores da capital potiguar.
Isso tem um nome: comunicação. Álvaro e Bolsonaro se comunicam bem melhor que a governadora. Endossaram soluções simples para problemas complexos e faturaram politicamente até com os próprios erros.
A governadora raramente reage quando criticada. A militância do PT em Natal é uma miragem no debate público e a gestão estadual está indefesa na capital.
O natalense não perdoa.
É preciso fazer uma autocrítica interna. Não precisa fazer uma autoflagelação pública, mas rever a linguagem e os métodos utilizados.
O Governo Fátima tem perdido todas as narrativas, principalmente em Natal. Foi um erro estratégico colocar as digitais na divulgação das projeções feitas por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Aquilo era de difícil compreensão para o cidadão comum e se o Governo achou que balizaria o quantitativo de vidas que seriam salvas não soube compreender o tamanho da desvantagem que tinha e tem na guerra de narrativas. A oposição deitou e rolou em cima da ignorância das pessoas.
Não só Fátima, mas a esquerda precisa mudar a linguagem para se fazer ouvir. Menos academicismo e mais interação. A direita bolsonarista deita e rola em cima das simplificações, Álvaro Dias, um neotucano, soube entender essa tendência e se deu bem politicamente.
A governadora poderia ter agido diferente fazendo a coisa certa e se comunicando melhor. Assim teria condições de se contrapor na batalha das narrativas.
A crendice bateu a razão deixando Fátima nas cordas em Natal.