
Há quem diga que uma das consequências da Lava Jato será o surgimento de uma nova classe política. De onde emergiria do caos esse povo? Há uma corrente que ela virá de uma classe social alheia aos acontecimentos da política.
Seria um outsider, o sujeito que vem de fora do sistema e ocupa os espaços políticos.
No Rio Grande do Norte, onde praticamente toda a elite política está enrolada nas delações da vida, um grupo começa a se articular.
A inspiração é o projeto Mossoró Melhor que disputou sem sucesso as eleições de 2016, mas fez Tião Couto (PSDB) surgir como liderança emergente na política mossoroense.
O nome trabalhado por esse grupo é o do empresário Marcelo Alecrim. Ele pode disputar Governo do Estado ou Senado. Tião e Jorge do Rosário (PR) seria cotados para as disputas proporcionais.
Há um vácuo de poder no Rio Grande do Norte e a classe empresarial percebeu isso. Os senadores Garibaldi Filho (PMDB) e José Agripino (DEM), maiores lideranças do Estado nos últimos 30 anos, estão em queda livre com as imagens carbonizadas pela Lava Jato, que parece lavar com fogo a política brasileira.
Não será fácil Marcelo e seus congêneres conseguirem trabalhar essa formação de grupo alternativo. O discurso de alternativa política é capenga e não resiste a uma foto. Marcelo vive ao lado do enroladíssimo ex-deputado federal João Maia. Os dois estiveram no sábado em Tibau visitando Tião Couto. Na ocasião eles apararam as arestas com o empresário mossoroense Jorge do Rosário que foi vice da chapa tucana.
Jorge entrou pela porta da frente na política ao resistir as pressões partidárias e escolher ser vice de Tião e não da favorita Rosalba Ciarlini (PP) como queria João Maia. Ele aproveitou a visita para conversar sobre o assunto, aparando arestas e garantindo a permanência do aliado no PR.
Se em Natal Marcelo Alecrim anda com João Maia, em Mossoró Tião caminha com Fafá Rosado, ex-prefeita de Mossoró e política tradicional.
Há uma faca de dois gumes nesse comportamento: de um lado a demonstração de maturidade de que não se faz política sem políticos, do outro a sensação de contradição assombrando o discurso de quem se desvincula da política para atrair aquele eleitor que enche a boca para dizer que tem “nojo de político”.
Em princípio o projeto parece ser interessante para oxigenar a política potiguar em tempos de falta de alternativas e de um governo até aqui acéfalo de Robinson Faria (PSD).
Uma coisa é certa: o modelo oligárquico da política potiguar está esgotado.