Imparcialidade de goela

Vou começar este texto com um desafio ao leitor e a leitora: você está pronto para reconhecer qualidades em um jornalista que escreve coisas que lhe desagrada? Em seguida lanço mais dois questionamentos: você acredita em imparcialidade? Você quer bom jornalismo ou um noticiário adaptado à sua visão de mundo?

O bom jornalismo não é imparcial, mas objetivo. A tal imparcialidade é um discurso que muitas vezes se converte em omissão em relação às injustiças.

O jornalismo precisa ser objetivo e plural. Abrir espaços para todas as visões de mundo e ouvir sempre o outro lado e não sonegar direito de resposta ainda que a versão apresentada não seja condizente com a realidade. Isso não é ser neutro ou imparcial, mas cumprir o dever de ser plural e democrático.

 O que vejo nas redes sociais é uma discussão rasteira onde os sujeitos não conseguem apresentar um contra-argumento a uma crítica ao seu político de estimação. A ausência de reflexão por parte do público e de uma cultura jornalística em nossa sociedade gera as cobranças por uma imparcialidade que não existe.
Antes de cobrar imparcialidade que tal refletir: essa informação contém algum erro? Se tiver qual seria o erro? Se a resposta for sim vá ao debate de forma objetiva mostrando o que precisa ser trazido à luz. Essa é a melhor forma de cobrar um bom jornalismo. O ataque pelo ataque é uma autodesqualificação de quem questiona um profissional.

Repito: não existe imparcialidade. Quem diz ser imparcial não o é. Nenhum ser humano é neutro em sua plenitude. Existem jornalistas que são mais ou menos opinativos. Existem jornalistas que são mais ou menos objetivos. Assim como existem os jornalistas que quando fazem uma denúncia não abrem espaço para o outro lado e/ou sonegam o direito de resposta.

Todos os dias procuramos o Governo do Estado e a Prefeitura de Mossoró para ouvir o outro lado. Nem sempre recebemos a resposta com a agilidade e muitas vezes os dois entes federativos escolhem não se manifestar. Nossa parte tem sido feita.

Tenho orgulho de ser parcial diante de causas justas. Sou parcial em defesa da tolerância às minorias, da liberdade de expressão e na luta por governos pautados pela inclusão social.

Admitir que tem lado é um ato de coragem num contexto de intolerância e hipocrisia. Reconhecer que assume posição não é demérito, mas um dever e um gesto de honestidade intelectual.

Existem pessoas totalmente despreparadas que confundem liberdade de expressão com direito de ofensa.

Quem ofende não quer bom debate nem mesmo jornalismo plural. Querem informações moldadas à sua visão de mundo.

São apenas pessoas com perfil autoritário cujo objetivo é impor sua visão de mundo à “socos e pontapés”.

Nesses anos de interação em redes sociais fui percebendo que os que clamam por jornalismo imparcial na verdade querem intimidar e constranger o jornalista quando este critica o seu político preferido ou contraria sua visão de mundo.

Quando criticamos um político o foco é nos seus atos. O homem e a mulher são poupados. O foco é na figura pública. A crítica é política e administrativa. Procuramos, inclusive, ser econômicos nos adjetivos.

É a imparcialidade de goela.

Por ter consciência e autocrítica nunca prometi ao meu público ser imparcial. Não sou porque opino em artigos. Minhas matérias são objetivas porque ouvem o outro lado mesmo quando discordamos. O espaço sempre estará aberto ao contraditório e eventuais erros sempre são acompanhados de retratação ao serem constatados.

O que as pessoas precisam compreender é a diferença gritante que existe entre matérias e artigos de opinião. Na matéria temos que mostrar os dois lados. No artigo mostramos a nossa avaliação dos fatos ainda que em alguns casos a ponderação seja necessária.

Nossa avaliação dos fatos segue um conjunto de princípios que são facilmente identificados. Somos a favor de direitos para LGBTs, contra o racismo, pregamos o diálogo como método de gestão, o investimento no desenvolvimento econômico e as políticas de inclusão social.

Na maioria das vezes quando alguém nos ataca em redes sociais não fica delimitado à ideia. O ataque é sempre no plano pessoal ou na cobrança de uma imparcialidade que nem mesmo o interlocutor acredita ou aplica nas suas ações.

A incapacidade de separar as coisas sempre termina na imparcialidade de goela.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto