O que dizem as pesquisas e em quem confiar

Duas pesquisas divulgadas no apagar das luzes de 2015. A ordem das posições está semelhante, mas com um diferencial: os números.

No “beabá” do jornalismo político a regra número um é a de que não se pode comparar pesquisas de institutos diferentes. Isso se justifica pela questão metodológica. Mas é possível ao menos apontar qual seria a mais confiável tendo base em quesitos como contexto, eleições anteriores e o quadro político atual.

O De Fato divulgou uma pesquisa do desconhecido Centro de Estudos e Pesquisa Social e Política (CIESP) com a ex-governadora Rosalba Ciarlini (PP) tendo uma vantagem que em números reais significaria uma vantagem na casa dos 50 mil votos de maioria sobre a ex-deputada Larissa Rosado (PSB).

Estimulada

Rosalba Ciarlini (PP): 53,4%;

Larissa Rosado (PSB): 11%;

Fafá Rosado (PMDB): 6%;

Francisco José Junior (PSD): 2,9%,

Genivan Vale (Pros): 2,6%;

Luiz Carlos (PT): 2,1%;

Professor Josué (PSDC): 1%.

Espontânea

Rosalba: 35,8%;

Larissa: 8%;

Fafá: 3,3%;

Francisco José Junior: 2,7%;

Cláudia Regina (DEM): 1%;

É um desequilíbrio nunca registrado em Mossoró. Nem mesmo nas eleições de 1996 quando Rosalba estava no auge e colocou 31.289 votos de maioria sobre a ex-deputada federal Sandra Rosado (PSB), conhecida pelo alto índice de rejeição junto ao eleitorado. Rejeição injusta, saliente-se. A pessebista sempre foi uma parlamentar atuante. Fechado o “parêntese” voltemos aos fatos.

Uma pesquisa com Rosalba tendo 53,4% (algo em torno de 62 mil votos) das intenções de voto e Larissa apenas 11% (que corresponde, com base no eleitorado de 2014 a algo em torno de 12 mil votos) soa tão estranha quanto uma sondagem que não tivesse a ex-governadora liderando.

Uma coisa não se discute: Rosalba é a maior eleitora de Mossoró. Isso é tão fato quanto o entendimento de que esse potencial não é o mesmo de antes. Tudo passa por um aspecto: ela foi uma governadora que decepcionou.

Há três tipos de observações recorrentes a respeito de Rosalba que ouço dos eleitores. A primeira é a dos apaixonados que votam nela incondicionalmente. A segunda é a de quem separa a prefeita da governadora. “Rosalba foi uma péssima governadora, mas foi uma boa prefeita”, essa é a justificativa. Esse é o eleitor que tem medo de arriscar e prefere se basear no “recall” (jargão do marketing político para quem sempre lembrado em pesquisas), mas pode mudar de opção ao longo do processo eleitoral. O terceiro eleitor é o crítico seja por não aceitar os métodos políticos do rosalbismo, por rejeitar os Rosados, entender que é preciso uma outra alternativa e por aí vai.

Existe outro ponto que confunde muita gente: as votações de Rosalba para Senado e Governo do Estado em Mossoró criou a falsa impressão de que ela é dona de quase 90% dos votos de Mossoró. Uma coisa é ela enfrentando nomes de Natal para Governo e Senado. Outra é o confronto contra grupos locais quando as disputas costumam ser mais equilibradas. Mais uma vez recorro aos números:

1988

Rosalba Ciarlini (PDT) – 37.307 (49,7%);

Laíre Rosado (PMDB) – 30.226 (40,2%);

Chagas Silva (PT) – 2.507 (3,3%);

Brancos – 3.594 (4.8%);

Nulos – 1.503 (2%);

Maioria sobre o segundo: 7.081 (9,5%).

1996

Rosalba Ciarlini (PFL) – 57.407 (52,64%);

Sandra Rosado (PMDB) – 26.118 (28,50%);

Jorge de Castro (PT) – 4.878 (5,32%);

Valtércio Silveira (PMN) – 3.237 (3,53%);

Brancos – 1.549 (1,69%);

Nulos – 3.802 (…);

Maioria sobre a segunda: 31.289 (24,14%).

2000

Rosalba Ciarlini (PFL)– 57.369 (54,86%);

Fafá Rosado (PMDB) – 42.530 (40,67%);

Socorro Batista (PT) – 4.447 (4,25%);

Mário Rosado (PMN) – 228 (0,22%);

Brancos – 1.757 (1,59%);

Nulos – 4.395 (3,97%);

Maioria sobre a segunda: 14.839 (14,19%).

2006 (Senado)

Rosalba Ciarlini (PFL): 90.660 (83,33%)

Fernando Bezerra (PTB): 14.049 (12,19%)

Geraldo Melo (PSDB): 3.596 (3,31%)

Simone Dutra (PSTU): 168 (0,15%)

Antonio Sotero (PSL): 122 (0,11%)

Edgar (PCB    ): 76 (0,07%)

Augusto Maranhão (PTC):    74 (0,07%)

Joanilson De Paula Rego (PSDC): 57 (0,05%)

Brancos: 7.718 (5,98%)

Nulos: 12.562 (9,73%)

Maioria sobre o segundo: 76.611 (70,42%)

2010 (Governo)

Rosalba Ciarlini (DEM): 98.964 (84,86%)

Ibere Ferreira (PSB): 16.043 (13,76%)

Carlos Eduardo (PDT): 1.031 (0,88%)

Sandro Pimentel (PSOL): 402 (0,34%)

Bartô Moreira (PRTB): 88 (0,08%)

Camarada Leto (PCB): 88 (0,08%)

Nulos:11.660

Brancos: 6.756

Maioria sobre o segundo: 82.921 (71,1%)

Cada eleição tem uma dinâmica própria. Difícil crer que após um governo mal avaliado Rosalba tenha um capital político superior ao de antes de chegar ao executivo estadual. Ela ainda é forte, mas sem o mesmo poderio de outrora. Pelas dificuldades da gestão de Francisco José Junior (PSD) e fragilidade dos adversários a vida dela pode ser facilitada, mas é complicado apostar numa maioria neste momento na casa dos 50 mil votos numa disputa de prefeitura. É pouco menos que o dobro da maior vitória dela para prefeito.

Existem duas pesquisas. Uma é de um instituto desconhecido que conforme apurei com o vereador Francisco Carlos (PV) sempre se limitou a fazer sondagens para consumo interno. Esse CIESP dificilmente virá a registrar uma pesquisa no TRE esse ano. Nunca registrou uma pesquisa, aliás.

Tive a curiosidade de buscar no Google informações sobre o instituto que sequer tem site. A sigla CIESP que aparece é relacionada ao Centro das Indústrias do Estado de São Paulo que tem filiais em várias cidades paulistas.

Da parte de Larissa a pesquisa CIESP provoca uma situação que desafia a matemática. Larissa foi deputada estadual mais votada em Mossoró em 2014. Foram mais de 24 mil sufrágios. Pela pesquisa hoje ela teria uma votação inferior numa disputa com um número bem menor de candidatos.

Para facilitar a vida do leitor vamos mostrar as votações de Larissa para deputado em Mossoró e prefeito para ver que ela sempre acumula mais sufrágios na disputa majoritária porque há um número menor de candidatos.

2002 (deputado estadual): 15.899

2004 (prefeito): 34.758

2006 (deputado estadual): 14.147

2008 (prefeito): 46.149

2010 (deputado estadual): 19.799

2012 (prefeito): 63.309

2014 (prefeito/suplementar): 37.053

2014 (deputado estadual): 24.585

Os dados mostram que não se trata de uma política de ocasião, mas de uma pessoa que embora tenha se enfraquecido nos últimos tempos por denúncias tem um eleitorado significativo e uma militância fiel e atuante.

Na outra ponta temos os números da Certus que o Blog do Barreto teve acesso. Trata-se de instituto respeitado e tradicional que sempre registra pesquisas do TRE e nas eleições de 2012 foi o único a apontar um empate técnico entre Cláudia Regina (DEM) e Larissa.

Os números que vazaram ao Blog do Barreto apontam, na minha opinião, um cenário mais realista. Uma Rosalba liderando, mas sem estar num patamar de aclamação como se Mossoró tivesse um eleitorado alienado e incapaz de ter a cautela no atual estágio do processo eleitoral.

Além de ter tradição em fazer pesquisas em Mossoró, o Instituto Certus sempre registra pesquisas no TRE. No Google é fácil encontrar dados sobre o instituto. Basta uma olhada nesse link para saber até o CNPJ da empresa.

Esses fatos mostram que Rosalba é favorita e pelo cenário atual tem grandes chances de se eleger, mas a parada está longe de estar liquidada. Larissa é um nome capaz de fazer frente a ex-governadora, mas pesa contra si dificuldades para obter viabilidade política e a questão financeira.

A sorte está lançada.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto