A história explica muita coisa. A nossa origem de país colonizado por degredados da corte portuguesa explica o instinto corrupto da nossa sociedade cuja representação mais caricata encontra-se na política.
Somos uma sociedade que se revolta com a corrupção apenas da boca para fora. No silêncio do voto a tolerância com os malfeitores é escancarada. A maioria esmagadora da classe política está envolvida em esquemas de corrupção. Quem contraria o “establishment” é engolido por seus pares.
Nosso país nunca passou por uma ruptura. Apesar de alguns golpes terem sido chamados de “revolução” na verdade nunca passaram de arranjos das elites sem participação popular.
A independência foi declarada pelo herdeiro da Coroa Portuguesa num acordo entre pai e filho acertado antes do retorno de D. João VI para Portugal. Tanto que houve poucos focos de resistência portuguesa e o monarca lusitano foi considerado a partir de 15 de novembro (exatamente 64 anos da queda da monarquia tupiniquim) de 1825 simbolicamente “Imperador do Brasil”.
A proclamação da República foi um arranjo dos grandes fazendeiros que estavam revoltados com a monarquia pela abolição da escravidão e por não aceitarem que o país tivesse uma mulher casada com um estrangeiro (Conde D’Eu) a frente do poder, a princesa Isabel. Mudou o regime de governo para o país continuar do mesmo jeito.
Em 1930 a chamada Revolução não passou de um golpe de Estado provocado por uma nova elite urbana que surgia. A queda Getúlio Vargas 15 anos depois foi novamente um arranjo das elites. Em 1964 João Goulart falava em mudanças para melhorar o sistema de ensino e em reforma agrária e caiu sob a desculpa de que era preciso proteger o país de uma “república sindicalista”. O país mergulhou em 21 anos de ditadura militar.
Quando a ditadura estava moribunda em 1984 surgiu o movimento das “Diretas Já” em que o povo pedia o direito de votar novamente para presidente. Mais uma vez não houve sintonia entre povo e classe política. Em mais um arranjo das elites o pedido popular foi derrotado em troca de um acordo entre setores do PDS (partido que sustentava o ditador João Figueiredo) e o PMDB. O grupo pedessista formou a Frente Liberal (que virou PFL e depois DEM) e ajudou a levar Tancredo Neves ao poder. O fim da ditadura se deu graças a um grande acordo.
Tancredo não chegou a governar porque morreu. O país foi assumido por José Sarney que formalizou o “toma lá dá cá” que tem marcado o mais longo período democrático da história brasileira.
Nenhum presidente conseguiu governar sem fazer o jogo político de receber apoio em troca de cargos e benesses do poder. O modelo se repete em governos estaduais e prefeituras. Quem não tem maioria não governa e quem está nessa situação pode ser derrubado por qualquer motivo.
Isso é fruto de uma Constituição Federal presidencialista com viés parlamentarista e da falta de institutos como “recall” que nos EUA chama o povo para decidir se governos impopulares devem seguir.
Como Collor, Dilma foi afastada por ter aliado em seu governo a palavra descumprida em campanha, corrupção, impopularidade e uma péssima relação com a classe política. A junção de elementos como esse num país parlamentarista resulta em um voto de desconfiança em que o primeiro ministro é afastado, o parlamento dissolvido e convocada novas eleições.
Enquanto não houver uma ampla reforma política aliada a uma mudança cultural de nossa sociedade para acabar de vez com a corrupção entranhada em nosso DNA seremos a “República do toma lá dá cá”.