Será que pessoas com deficiência tem o direito de ser feliz?

 

Por Thiago Fernando de Queiroz*

Essa pergunta deve ser feita para a sociedade em um contexto geral, pois, parece que ninguém se preocupa com a felicidade da pessoa com deficiência. Quer ver um dos motivos? Quando uma criança nasce com algum tipo de deficiência, a maior parte dos familiares ou responsáveis pela criança buscam logo um benefício assistencial, que é direito da criança, e, quando essa criança cresce e quer fazer um curso técnico ou profissionalizante, ou ainda mais, esta pessoa com deficiência quer ingressar no mercado de trabalho, a primeira palavra da família ou responsáveis é: Você vai perder o benefício!

Muitas das vezes a preocupação com o benefício é maior do que com a felicidade da pessoa com deficiência, isso de alguma forma desencadeia diversos tipos de preconceitos, e, até mesmo por essas ações, a pessoa com deficiência pode chegar a uma depressão. A superproteção com a pessoa com deficiência em certos casos é vista como cuidado, porém, por outro lado, é um fator impeditivo para que a pessoa com deficiência tenha a sua autonomia plena.

Muitos chegam até a dizer: Você já não tem um salário? Você quer mais o quê? Meu Deus, o como essas palavras são preconceituosas e discriminatórias. A pessoa com deficiência quer viver como qualquer outra pessoa. Ela quer brincar, estudar, namorar, trabalhar, fazer amigos, cursar uma universidade, casar, fazer sexo, ter filhos, ter um trabalho digno e ser respeitada como pessoa, e não, como uma pessoa menos favorecida.

Alguns até ainda dizem: Você tem que aceitar sua condição, agradeça a Deus, e se conforme! Bom, compreender que eu como pessoa tenho uma deficiência, isso é tranquilo, mas, se conformar com o preconceito e a discriminação social, não dar. Nós, pessoas com deficiência não somos mártires em busca de uma vida eterna ou esperamos setenta virgens no céu, queremos apenas ter condições igualitárias como as demais pessoas.

Seguindo uma linha filosófica, parecem que querem que aceitemos todo o preconceito, as injúrias e as discriminações como dádivas de Deus, contudo, a linha filosófica mais parecida com essa visão é o estoicismo:

A causalidade dos acontecimentos implicaria um determinismo, perante o qual a única atitude virtuosa seria a aceitação, já que essas causas são externas e independem do querer. A aceitação do destino seria compatível, contudo, com a vontade de fazer o bem, já que esta estaria no reino da interioridade. (Brasil Escola)

Entretanto, vale destacar que os estoicos não eram seres acomodados, ao contrário, eles lutavam muito pelos seus ideais éticos e morais, e, buscavam muito o conhecimento. Assim, não existe motivo para se conformar. Todos nós temos que ir a luta e batalhar por um futuro bom, correndo riscos, tendo decepções, alegrias, percas e sucessos, bem como, o principal, ser feliz.

Para tanto, nós pessoas com deficiência buscamos o mínimo de uma vida digna: calçadas niveladas, os prédios de uso coletivo tendo acessibilidade arquitetônica, as pessoas promovendo acessibilidade atitudinal, as escolas proporcionando uma educação inclusiva, a sociedade em um contexto geral oportunizando o direito ao mercado de trabalho, nas Agências Bancárias ter acessibilidade tecnológicas, as universidades promovendo a extensão com igualdade e a saúde sendo garantida com equidade.

Assim, se for perguntado se a pessoa com deficiência tem o direito de ser feliz, bom, eu digo: Sim! E você, o que diz?

  • Pesquisador em Inclusão e Direitos das Pessoas com Deficiência

Referência: Brasil Escola. Estoicismo. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/os-estoicos.htm#:~:text=A%20causalidade%20dos%20acontecimentos%20implicaria,estaria%20no%20reino%20da%20interioridade.

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