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Por que os protestos esfriam?

Quem era João Beto, o negro assassinado por seguranças no Carrefour

Por Leonardo Torres*

Recentemente, a população brasileira indignou-se com o assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças em uma unidade da rede Carrefour. Esta indignação comoveu a população não somente de maneira racional, mas também emocional, o que levou a protestos por todo o Brasil.

Se pudéssemos escolher algumas características da sociedade atual, com certeza uma delas seria a vontade de romper com alguns paradigmas preconceituosos. A legitimidade das manifestações antirracistas que ocorrem pelo mundo é de extrema importância para essa virada de chave, mas ainda falta sustentarmos esse movimento.

Essa comoção coletiva se dá graças à capacidade do ser humano em contagiar e ser contagiado pelas emoções. Por exemplo: em um grupo de amigos, é normal todos sentirem fome e sono juntos. A risada de um causa risadas em outros. Ou então, uma ânsia de vômito pode fazer outros vomitarem também. Essa capacidade é um dos fatores de sobrevivência para animais que são gregários.

No caso do ocorrido no Carrefour, o contágio psíquico se deu pela indignação e raiva, gerando revolta como um todo. Felizmente, este contágio gerou algo criativo, em prol de um bem social e antirracista.

A grande questão é que, na maioria das vezes, esta comoção coletiva vem acompanhada de uma catarse, isto é, uma tentativa de expurgar o incômodo; não à toa, houve depredação de algumas unidades do Carrefour. E uma vez atingida a catarse, a normalidade tende a voltar.

É neste ponto que os protestos perdem força e os preconceitos se enrijecem novamente. É necessário colocar não somente o emocional, mas o racional e a consciência em prol desse movimento, a fim de sustentar a voz da equidade humana.

*É psicoterapeuta junguiano e palestrante.

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