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Quem é coerente?

Entusiastas da intervenção militar no Brasil celebram protestos por liberdade em Cuba (Foto: reprodução)

Quem é coerente no debate público brasileiro? Quem realmente pode se gabar de ser uma pessoa que nunca entrou em contradição? Até mesmo nas relações interpessoais, longe da artificialidade das redes sociais onde todo mundo lacra criticando quem lacra?

Veja a crise em Cuba. A ilha socialista é sempre muleta retórica para uma classe média iletrada que rejeita políticas sociais. Quem nunca ouviu um “vai para Cuba” ao defender a importância do Bolsa Família ou da política de cotas?

Por linhas tortas, a classe média iletrada tem razão numa coisa: Cuba é uma ditadura. Por mais que tenha uma educação e saúde exemplar lá não existe liberdade política nem imprensa. É desonesto negar os efeitos dos embargos econômicos na vida dos cubanos assim como usar desculpas mil para negar que lá é uma ditadura.

Por outro lado, a turma que costuma mandar a esquerda para Cuba geralmente passa aquele panaço para a ditadura militar, não ver nada demais no discurso golpista de Jair Bolsonaro e defende “intervenção militar”, um nome “fofo” para golpe de estado.

É como se cada um tivesse a sua ditadura de estimação.

Até aqui me referi as figuras autoritárias. Por sinais trocados elas se encontram. Não se trata do falso paralelismo que eu mesmo critico.

Democracia para mim é um valor inegociável. Se não cedo para o bolsonarismo, Turquia ou Arábia Saudita não posso ceder para Cuba, China ou Coréia do Norte.

A incoerência não é exclusividade dos extremistas. Ela também se manifesta nos mais moderados de diferentes formas até porque o pensamento humano é complexo e não existe um combo em que para ser de esquerda tem que abraçar um pacote completo (de direita idem).

Existem muitas variáveis e no meio delas as contradições respingam. Todos cobram coerência dos outros sem serem ao menos capazes de se dar conta das próprias contradições.

Isso é da política. É da humanidade. Somos incoerentes.