Algumas coisas vêm para o bem, de repente. Hoje é proibido gravar professor em sala. Um avanço inegável.
Porém, lá atrás, os alunos gravaram um docente, que já tinha avisado diversas vezes a uma aluna para não trazer uma criança para sala de aula, um espaço impróprio para ela e não permitido pelo regimento da instituição. Não expuseram toda a sua fala e muito menos narraram eventos, mas só o trecho que criava reação emotiva. Depois, inclusive junto com quem deveria agir como agente moderador, organizaram um protesto na porta da sala do mesmo professor aos gritos de “fascista”, gravaram novamente e jogaram na imprensa e nas redes sociais.
Uma razão por trás daquilo era porque o docente é crítico da esquerda hegemônica. Outras diziam respeito às disputas políticas internas em que os alunos foram utilizados como ponta de lança.
Tem gente hoje defendendo liberdade de cátedra. Mas enganam a outros. Não a mim, pois conviveram muito bem com situações como a explicitada.
Não existe meio termo em matéria de liberdade de pensamento. Acho o Olavo de Carvalho qualquer coisa. Sequer falo sobre ele, para nem gerar cartaz. Mas defendi que a UFRN protegesse o direito de discentes assistirem ao seu documentário por isso.
Se liberdade de pensamento só vale para algumas ocasiões e para aquilo que a gente concorda, então não passa da mera defesa de privilégio.
*É graduado, mestre e doutor em ciências sociais. Também é diretor do Instituto Seta
Primeiro quero deixar claro que não tenho nada contra a ex-governadora Rosalba Ciarlini (PP). Até a considero uma pessoa simpática e agradável. Mas não posso ficar omisso diante do “horário eleitoral extra” que ela colocou ontem nas redes sociais.
Entendo como legítimo o direito de defender a gestão dela no Governo do Estado. Acho até que ela demorou a abordar o assunto.
Também quero deixar claro que é só pesquisar minhas colunas em O Mossoroense ou vídeos do Observador Político para ver que me posicionei contra os pedidos de impeachment contra Rosalba protocolados (um em 2013 e o outro em 2014). O primeiro pelo Sindsaúde e o segundo pelo MARCCO, órgão de combate à corrupção ligado ao Ministério Público. Também achei cruel a forma como ela foi impedida de disputar a reeleição em 2014. Embora em condições adversas, ela tinha o direito de se defender e até chances de surpreender.
O programa eleitoral exposto nas redes sociais para defender a gestão dela é cirúrgico. Omite o Hospital da Mulher entre as realizações, por exemplo. Traz algumas ações meritórias da gestão dela como o RN Sustentável e a duplicação da RN que liga Mossoró à Tibau. Curiosamente não cita a reforma da Rodoviária Diran Ramos do Amaral, que resultou na transferência da Central do Cidadão para lá.
Mas o vídeo tem um cabedal de contradições. A primeira é a mesma transferência de culpa
exercida atualmente por Francisco José Junior (PSD), cuja retórica Rosalba atualmente não tolera. Ela culpa a classe política pelo mau desempenho dela no Governo do Estado do mesmo jeito que o prefeito se diz perseguido pelas oligarquias.
Justo ela que ao avaliar o primeiro ano de governo agradeceu o apoio da Assembleia Legislativa, da Bancada Federal do RN e à Presidente Dilma Rousseff (hoje, ex-presidente). O trecho do discurso foi destacado em sites. Você pode checar AQUI. A foto ao lado mostra uma reunião em que adversários e aliados estiveram juntos num encontro (que não deu em nada além da foto, para ser honesto) para discutir a crise da Petrobras no Rio Grande do Norte em 2013. Essa é apenas uma imagem ilustrativa de várias e várias reuniões em que a então governadora não só foi recebida por integrantes do Governo Federal como teve a companhia até de adversários.
Em outra parte do programa, Rosalba afirma que foi prejudicada por ser de um partido de oposição. De fato, ela foi a primeira governadora do RN a fazer parte de um partido adversário do presidente da República em mais de 50 anos, mas nos primeiros meses da gestão, vários ministros de Dilma vieram ao Rio Grande do Norte conversar com Rosalba e saber as necessidades do governo. Tanto que grande parte das conquistas citadas no vídeo são frutos de parcerias com a então presidente. Mas ela tenta passar a imagem de que ela fez tudo sozinha, sem apoio. Ela diz ter tirado do papel da obra da barragem de oiticica, uma obra importante. Mas basta acessar essa matéria (clique AQUI) e essa outra (clique AQUI) para ver o tamanho da ajuda do Governo Federal para que a obra saísse do papel.
Rosalba não pode reclamar de Dilma. Chegou a ser defendida pela outrora presidente no momento em que era vaiada. O vídeo abaixo mostra isso:
Antes de Dilma defender a governadora, a então deputada federal Sandra Rosado (PSB), hoje candidata a vereadora e aliada de Rosalba, filmava a sonora vaia que a “Rosa” levava em Natal. A socialista ria atrás de uma presidente constrangida. A imagem correu o país e se tornou alvo de vários comentários da mídia nacional.
Mais a frente no vídeo das redes sociais, Rosalba diz ter dobrado os salários dos professores da Rede Estadual de Ensino. Fato, nunca alguém deu tantos aumentos para os professores, mas nunca uma gestão estadual precisou encarar tantas greves (veja AQUI) e sem contar que ela foi a primeira governadora a administrar o Estado os quatro (mandato inteiro) anos já com a lei do piso nacional dos professores valendo. No entanto, ela precisou recorrer aos recursos do O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação(FUNDEB), cujos repasses são feitos pelo Governo Federal. Ela chegou a pedir ajuda em Brasília para conseguir atender essas demandas (confira AQUI).
Em outro momento, ela destaca que o governo Rosalba investiu na aquisição de ônibus escolares. Faltou lembrar da ajuda do Governo Federal, que ela diz não ter lhe apoiado por questões políticas. Um investimento importante (confira AQUI), mas só viabilizado graças ao programa Caminhos da Escola (conheça AQUI) financiado pelo Fundo Nacional da Educação (FNDE). Quer mais ironia? Os recursos que começaram a viabilizar os veículos escolares para a gestão de Rosalba foram viabilizados ainda em 2010 pela então deputada federal (hoje senadora) Fátima Bezerra (PT). Isso não tira o mérito de Rosalba, mas ela não poderia dizer que não teve apoio do Governo Federal nessa ação (veja AQUI). Ela regojiza-se por ter tirado o Rio Grande do Norte da “lanterninha” na educação, mas responde a processo movido pelo Ministério Público (veja AQUI) acusada de “maquiar” os gastos com educação.
O Sanear RN foi uma das ações mais importantes da passagem de Rosalba pelo Governo do Estado. Ela orgulha-se de ter deixado Natal 100% saneada, mas nada aconteceria mais uma vez sem a participação da União (confira AQUI).
Em outro trecho do vídeo, Rosalba diz ser a responsável por interiorizar o SAMU. Faltou lembrar que os investimentos contaram com apoio do Governo Federal e das prefeituras. Tudo bem que 60% foi do Governo do Estado, mas os recursos foram deixados pelos governo Wilma e Iberê (veja AQUI e AQUI), dupla que ela passou quatro anos acusando de ter deixado uma “terra arrasada”.
Há contradições diversas no discurso adotado por Rosalba. Como ela foi prejudicada por ser de um partido adversário se boa parte das ações realizadas por ela foram em parceria com a hoje ex-presidente Dilma Rousseff?
POLÍTICA
No vídeo, Rosalba assume o papel de vítima. Coloca como prejudicada pelo “jogo duro da política”. Qualquer semelhança não é mera coincidência com o discurso de Francisco José Junior que diz nunca ter visto um prefeito sofrer uma oposição tão dura em Mossoró. O mesmo complexo de transferência de culpa, como já relatado no começo deste artigo. Qualquer pessoa minimamente bem informada sabe que ela teve um grande apoio político e foi perdendo pouco a pouco por inabilidade. A começar por Paulo de Tarso Fernandes (FOTO), um amigo pessoal da família que deixou o governo (era o chefe do gabinete civil) em solidariedade ao então vice-governador Robinson Faria (PSD) que não fora renomeado secretário de meio ambiente e recursos hídricos (entenda AQUI) em outubro de 2011. A medida foi uma retaliação ao fato de Robinson ter sido mais rápido e conseguido o comando no Rio Grande do Norte do recém fundado PSD. No desabafo, Paulo de Tarso denunciou que Carlos Augusto era o “governador de fato”.
O próprio Robinson passou a gestão inteira na condição de governador dissidente, mas foi para as eleições de 2014 como aliado da governadora, ainda que com apoio “por debaixo dos panos” por causa da impopularidade recorde de Rosalba que chegou a ser rejeitada até mesmo em Mossoró (veja AQUI).
Mas cada aliado que deixava o governo enumerava as queixas que eram quase sempre giravam em torno do termo “governo centralizador” (vejam algumas reclamações AQUI e AQUI). Para perder os apoios, ela cometeu, sim, vários equívocos. Em política ninguém é sempre vítima ou sempre algoz.
IMPOPULARIDADE
Em outro momento do vídeo, eu fiquei sem acreditar quando Rosalba atribuiu a impopularidade dela também aos protestos de junho de 2013. A ex-governadora chega a dizer que ela e vários outros gestores estaduais foram atingidos por esse efeito. De positivo, pelo menos ela nos poupou de usar o argumento da perseguição dos natalenses que “não suportavam” ter uma governadora de Mossoró. Afinal de contas, nas únicas vezes em que foi testada nas urnas pelo eleitor natalense ela saiu como a mais votada na capital (Senado em 2006 e Governo em 2010). Mas esse assunto (que beira uma lenda) dá um outro artigo.
A impopularidade de Rosalba começou logo no primeiro ano de governo (veja AQUI) e foi subindo mês a mês até que ela se tornou, ainda em 2013, a governadora mais impopular do país (veja AQUI). Ironicamente, a notícia foi divulgada no dia 13 de dezembro, dia santa Luzia, padroeira de Mossoró. Ela até diminuiu um pouco o desgaste ao longo de 2014 (veja AQUI), mas o estrago era irreversível.
VETO
A ex-governadora pode até dizer-se injustiçada pelo veto do DEM à sua tentativa de reeleição. Ela tinha o direito de se defender mesmo que as chances de vitória fossem mínimas (veja AQUI). Enquanto analista político, diria que diante da fragilidade dos principais adversários (Henrique Alves e Robinson Faria) ela poderia com a força do carisma pessoal contrariar a lógica e ir ao segundo turno (há na literatura política casos semelhantes e até em situações ainda mais adversas) e vencer. Ela contava com poucos apoios partidários. Somente PTB, PSC e PP estavam com ela. Mas era o suficiente para um tempo de TV razoável. Até concordo com o argumento de que o senador José Agripino (DEM) pensou apenas em garantir uma reeleição tranquila para o filho/deputado federal Felipe Maia.
Mas por outro lado, Agripino tinha argumentos sólidos. Afinal de contas, em junho de 2014 Rosalba estava inelegível, chegou a ter o afastamento do poder decretado em duas oportunidades e governava graças a liminares (veja as condenações AQUI e AQUI). O mérito das duas questões só foi julgado ano passado quando a elegibilidade dela foi devolvida. Se ela fosse para a campanha era por conta e risco e com a possibilidade real de ganhar e não levar. Era uma fragilidade jurídica semelhante a de Larissa Rosado (PSB) nas eleições suplementares de maio de 2014.
ALIADA DOS VILÕES
Curioso no discurso de Rosalba no vídeo, é que ela se diz vítima do “jogo duro da política”. Pois bem… um dos principais articuladores para a exclusão dela da disputa foi o ex-deputado federal Henrique Alves. O PMDB, comandado por ele no Estado, está na campanha dela. Políticos que confabularam pelo “acordão” de 2014 como o senador Garibaldi Filho e Wilma de Faria (aquela que “deixou a terra arrasada”) são hoje aliados da “Rosa”. José Agripino e ex-deputado federal João Maia (PR) só não estão no palanque dela porque tiveram que ceder as pressões dos aliados no plano local.
A defesa de Rosalba em relação período como governadora está recheada de contradições no próprio discurso e comportamento dela.