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Postulação senatorial de Rafael Motta não pode ser subestimada

Por João Paulo Jales dos Santos*

Rafael Motta (PSB) investiu numa empreitada arriscada, se candidatar ao senado, em detrimento de disputar à reeleição de deputado federal, que lhe parecia mais vantajosa. A empreitada tem um grau de alto risco, Rafael se lança numa conjuntura sem ter um palanque ao governo que alicerce sua postulação, vai tocar a campanha numa pegada independente, à esquerda, mas sem rejeitar apoios das mais variadas lideranças e figuras do cenário potiguar. Rafael vem conseguindo um feito, quando comparado ao candidato da governadora, Carlos Eduardo Alves (PDT), tem angariado muito mais apoios que o ex-prefeito de Natal, que desde o início do ano vinha em articulações para ser o senador do governismo, enquanto Rafael firmou sua pré-candidatura em maio.

Rafael trabalha uma estratégia intrincada, apoia a reeleição de Fátima Bezerra (PT) sem ser o candidato oficial da governadora. O pessebista tentou, mas sem sucesso, pressionar o governismo a abrir palanque para sua postulação, tendo a chapa dois candidatos ao senado, situação que deve acontecer em alguns estados. Como a pressão não surtiu efeito, o jeito é se lançar por conta própria, sem estrutura governamental, apostando numa senatorial que busca desmantelar a polarização entre Carlos Eduardo e Rogério Marinho (PL).

Rafael apoia Lula (PT), no entanto não tem sinalização da alta cúpula petista que contará com o apoio do ex-presidente, um de seus trunfos é ser fiel apoiador do petista, enquanto o candidato oficial do petismo estadual, Carlos Eduardo, é timidamente apoiador do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Por mais que o PDT tenha Ciro como pré-candidato, a articulação da chapa Fátima-Carlos, contou com aval direto de Lula, onde segundo fontes, Carlos contará com inserção na propaganda eleitoral que o vincule como sendo o senador de Lula. Mas e se mais à frente, a realidade ultrapassar o arranjo político, e Rafael Motta deslanchar sua candidatura, Lula e Fátima teriam como continuar negando espaços a Motta, com a pressão que viria das ruas?  A jogada de Motta encontra seu xeque-mate numa pressão político-social, que consiga virar o jogo e o faça ser mais competitivo que Carlos Eduardo, não restando outra alternativa para a cúpula petista a não ser abrir o palanque para Rafael, num estado onde seus eleitores há duas eleições votaram contra dois grandes acordos, o de Henrique Eduardo Alves (ex-MDB, agora no PSB), em 2014, e o de Carlos Eduardo Alves, em 2018.

E condições para alavancar sua senatorial, Rafael possui. Seu nome ainda é pouco conhecido pelo eleitorado, o que lhe dá tendência de crescimento, é jovem, carismático e comunicativo, predicados que agregam junto a massa eleitoral. Conseguiu em pouco tempo fomentar sua carreira política, em 2012, já na sua estreia eleitoral, foi o 2º vereador mais votado em Natal, em 2014, foi o 2º mais votado à câmara federal, renovando seu mandato quatro anos depois. Tendo sido alçado graças a influência de seu pai, o ex-deputado estadual Ricardo Motta, continuou a obter êxito político mesmo quando seu pai, em 2018, sofreu dura derrota à assembleia estadual, não conseguindo reeleição, de deputado mais votado em 2014, com 80.249 votos, Ricardo amargou a 38ª posição em 2018, com 18.036 votos, uma expressiva perda de seu espólio político. Sem o pai em cena, Rafael alcançou autonomia política, já não era mais o filho que dependia do pai para trilhar caminho. Refez sua atuação parlamentar, ainda no governo de Michel Temer (MDB), depois de ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), dando uma guinada à esquerda, se tornando ao lado de Natália Bonavides (PT) o federal mais combativo ao governo Bolsonaro (PL).

O carisma de Rafael Motta, forte ativo político, contrasta com as figuras de Carlos Eduardo e Rogério Marinho, o senador de Bolsonaro num estado lulista, que carrega consigo as impopulares reformas trabalhista e previdenciária. Há que se acompanhar se a recente operação da Polícia Federal, para desarticular esquema de corrupção na Codevasf, órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, comandado há pouco tempo por Rogério, e inflado pelas escusas emendas do chamado orçamento secreto, possa chegar até o nome do ex-ministro, atingindo sua candidatura.

Ao amealhar mais apoios que Carlos Eduardo, o traquejo político de Motta contrasta com a ineficaz rede de apoio do pedetista, que nem mesmo consegue unir a militância petista em torno de si. Tendo nos últimos anos um mandato progressista para apresentar, Motta tem condições de atrair a base do PT, que enxerga Carlos como um possível traidor de primeira hora, vide que até pouco tempo tinha contato com forças bolsonaristas para ser o candidato ao governo do grupo.

A situação da candidatura de Motta encontra paralelos com a da deputada federal por Pernambuco, Marília Arraes (Solidariedade). Lá, Marília é candidata ao governo, líder nas pesquisas, que recentemente saiu do PT porque o partido não lhe deu uma oportunidade majoritária. Arraes apoia Lula, mas o ex-presidente tem acordo com o PSB em torno do nome do deputado federal Danilo Cabral (PSB), rejeitado pela base petista, que tem forte identificação com Marília. A estratégia de Arraes é a mesma que a de Rafael, consolidar seu projeto quando a campanha começar não restando outra opção a Lula a não ser abrir palanque a sua postulação.

Três exemplificações de candidatos que não despontavam como favoritos e saíram vitoriosos merecem ser citadas. Vem do PT um exemplo de teimosia política, em 2004, na eleição para à prefeitura de Fortaleza, o diretório local do partido se rebelou e lançou Luizianne Lins (PT), hoje deputada federal, ao executivo, a rebelião ocorreu porque o diretório nacional decidiu apoiar Inácio Arruda (PCdoB) boicotando Luizianne. Inácio, que iniciou a campanha como favorito, não foi para o 2º turno, e Luizianne venceu aquele pleito. Do Norte, vem outro exemplo de surpresa, dessa vez para o senado de Roraima, Telmário Mota (à época no PDT), de azarão, desbancou o favorito José de Anchieta Júnior (PSDB), governador licenciado do cargo, que acabou terminando na 3ª colocação. Do Rio Grande do Sul, outro modelo de ascensão de uma candidatura quando a campanha iniciou, em 2014 na disputa para o governo, José Ivo Sartori (MDB), de longínquo 3º colocado nas pesquisas, suplantou os favoritos Tasso Genro (PT), que buscava reeleição, e Ana Amélia Lemos (na época no PP), que era senadora.

Aqui no estado, nos dois últimos pleitos, os candidatos que tiveram mais apoios de prefeitos para o senado, que Rogério Marinho vem conquistando com sucesso, sofreram derrotas. Em 2014, a favorita Wilma de Faria (que estava no PSB), viu Fátima Bezerra lhe impor uma dura derrota. Em 2018, Garibaldi Filho (MDB), que tentava seu 3º mandato seguido para o senado, turbinado com um amplo leque de apoios, ficou na amarga 4ª colocação, assistindo à eleição de Styvenson Valentim (na época filiado a REDE) e Zenaide Maia (na ocasião filiada ao PHS). Duas eleições que ocorreram em cenários políticos diferentes, e que servem para demonstrar que ter máquinas executivas locais em torno de uma candidatura não significa sinônimo de vitória.

Com emendas parlamentares espalhadas em municípios de diferentes regiões, Rafael conta com o início oficial da campanha, de sobremodo a propaganda eleitoral em rádio e TV, para atrair aporte financeiro da alta cúpula do PSB. Para poder associar sua imagem à de Lula, que exerce poder de transferência de votos, precisa que sua estratégia política tenha êxito. Sendo do PSB, o partido que tem o vice, Geraldo Alckmin, como companheiro de chapa de Lula, atrair o apoio da cúpula petista se torna uma tarefa mais fácil. Motta possui atributos pessoal e político para ser uma surpresa no pleito, se conseguir vencer, surge como a mais nova liderança a se firmar na esquerda potiguar.

*É graduado em Ciências Sociais pela UERN.

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