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Artigo

Um dia na vida do presidente

Por Ruy Castro*

“O Sr. Presidente da República acorda invariavelmente às 7 da manhã e, vestido de seu rôbe de chambre, tendo à cabeça uma touca de seda preta, dirige-se para o banheiro, onde toma banho morno. Depois do banho, S. Exa. bebe um copo de leite e, pouco depois, serve-se de café, que deve ser forte, rejeitando-o quando assim não acontece. Em seguida, faz sua toalete e passa a ler os jornais, dirigindo-se depois para a sala particular de sua Exma. esposa, onde conversa algum tempo, sempre com aquele modo frio, seco e pouco expansivo. Às 11 horas, almoça e desce para a sala de despachos no palácio, onde examina os papéis e as questões que tem de decidir.

“Durante o dia conserva-se na sala de despachos, em trabalho com os ministros que o procuram, ou vem à sala de audiências conferenciar com alguma pessoa sobre assunto importante. Nas terças-feiras dá audiências públicas no Salão Jardim, de 1 às 2 da tarde. À 1h30, toma S. Exa. um copo de leite e, às 2, uma xícara de café, continuando na sala de despachos até às 6 da tarde, quando não há muito serviço.

Imagem mostra as páginas iniciais bem amareladas de dois livros antigos e a foto do autor, um senhor careca e de bigodes finos, feita por volta de 1910
Foto e livros originais de Ernesto Senna, o primeiro repórter brasileiro – Heloisa Seixa

“Dirige-se a essa hora pela arcada interna do palácio para a sala de sua Exma. esposa e daí para a de jantar. É excessivamente sóbrio e não usa de vinhos. Depois do jantar, conversa com a família e recebe as pessoas de sua amizade, ficando às vezes até meia-noite. Nunca altera a voz e até com certa dificuldade se faz ouvir. À hora de dormir, toma um banho morno e, em seguida, um copo de leite. Etc. etc.”.

O que se leu acima é parte de um texto de Ernesto Senna, o primeiro repórter brasileiro, publicado no Jornal do Comércio, sobre um dia na vida do presidente Prudente de Moraes, que governou de 1894 a 1898.

Grandes tempos. O presidente da então jovem República não tomava medidas genocidas, não agredia as instituições, não protegia filhos corruptos, não mentia para a nação. Não fazia nada. Melhor assim.

*É jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

 

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Crônica

O guardião da história mossoroense

Imagem da primeira edição de O Mossoroense (Foto: reprodução)

Hoje O Mossoroense completa 148 anos de vida em formato On Line, resistindo mesmo sem as tinhas no papel.

Nenhuma instituição sobrevive 148 anos se se adaptar ao tempo e à modernidade. Foi assim com este jornal que conseguiu se tornar um verdadeiro guardião da história mossoroense.

As profundezas de minha memória indicam que alguém já levou este título Guardião da História de Mossoró ou o atribuiu ao terceiro jornal mais antigo do país que tanto orgulha Mossoró por sua longevidade e credibilidade.

Coloquei meus pés numa redação em 4 de agosto de 2003. Sabia onde estava pisando, tinha noção do que significa O Mossoroense para o país. Apaixonado pelas coisas do passado, senti cheiro de história ao entrar naquele prédio da Travessa O Mossoroense.

Lá encontrei o fim da transição do jornalismo analógico para o digital e conheci profissionais de primeiríssima qualidade.

O Mossoroense foi para mim uma faculdade sem chamada, prova ou seminários. Lá fui avaliado pelo revisor Benjamim Linhares, a quem agradeço cada correção.

Outra figura que gostaria de resgatar é a de Cosme da Rocha Freire, o “Vovô”, que com seu jeito bem humorado me fazia dar boas risadas enquanto olhava os arquivos com as edições antigas do jornal.

Foram anos de muito aprendizado sob a batuta de Cid Augusto a quem sempre me refiro como um ídolo. Não exagero. Devo tudo que consegui me tornar no jornalismo (ainda que não seja grande coisa) a este cidadão acima da média tanto do ponto de vista intelectual quanto moral. Ainda vi nele o exemplo de um líder que não precisa levantar a voz para se impor e do diretor de redação que colocava o jornalismo acima dos interesses políticos e familiares.

Que O Mossoroense siga vivo On Line ou em papel. Este jornal é fundamental para a nossa história.

Vida longa!

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Matéria

Há quatro anos Francisco José Junior desistia da reeleição

Francisco José Junior no dia que anunciou que estava fora das eleições (Foto: reprodução)

Foi num dia 19 de setembro, mais precisamente numa segunda-feira, que ocorreu uma hecatombe política em Mossoró em plena reta final das eleições de 2016.

O então prefeito Francisco José Junior (PSD) patinava nas pesquisas eleitorais e rumava para um dos maiores vexames já registrados nas urnas mossoroenses.

Por volta das 22h o que seria somente mais uma live se tornou o principal fato político das eleições de 2016. O que era boato se converteu em fato a ser noticiado.

Alegando que sairia de cena para combater as oligarquias ele anunciava a desistência da candidatura. Assim ele se tornava o primeiro prefeito de Mossoró a não conseguir a reeleição.

Até hoje o episódio é lembrado como a noite que Mossoró não dormiu.

Nota do Blog: Francisco José Junior ainda iria ao debate da Intertv Cabugi mesmo após retirar a candidatura. A participação dele foi marcada pela “jantada” que ele deu em Rosalba mesmo estando desmoralizado.

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Reportagem

Mais um projeto político é cooptado pelos Rosados

Aluizistas resistiam aos Rosados na edição de 26 de abril de 1980 da Gazeta do Oeste (Foto: arquivo/Blog do Barreto)

Uma tradição política de Mossoró nos últimos 70 anos é a da cooptação política dos adversários pelos Rosados, grupo hegemônico na cidade.

Todos que ousaram alguma vez enfrentar os Rosados em algum momento foram cooptados por eles. Poucos resistiram aos encantos de Vingt e Dix-huit Rosado no passado. Poucos escapam de em algum momento da vida política ter tido alinhamento direto ou indireto com Fafá Rosado, Sandra Rosado ou Carlos Augusto Rosado/Rosalba Ciarlini.

No passado um exemplo clássico é o dos ex-deputados estaduais Manoel Mário, Lauro da Escóssia Filho e Assis Amorim. O primeiro deixou a condição de aluizista da resistência aos Rosados para se converter em um rosalbista de quatro costados. O último chegou a ter “um voto contra Vingt Rosado” como slogan de campanha para deputado estadual, o que lhe rendeu uma vitória em 1970.

No início dos anos 1980 o médico Leodécio Fernandes Néo combateu os Rosados e tentou se colocar como alternativa, mas terminou sendo um grande aliado da família no final daquela década.

O PT que combateu os Rosados por 28 anos terminou indicando o vice de Larissa Rosado por duas eleições consecutivas: 2008 (Tércio Pereira) e 2012 (Josivan Barbosa).

Agora é a vez de Jorge do Rosário, que formatou em 2016 junto com Tião Couto um projeto de empresários para fazer frente à família que domina Mossoró. Rosário se torna em 2020 o que por muito pouco não foi há quatro anos: o vice de Rosalba. Ele que já foi aliado dela no passado, agora retorna ao antigo lar político.

O rosalbismo agiu com régua e compasso a estratégia de atração do empresário. Primeiro poupou ele da máquina de destruir reputações que possui. O foco sempre foi atacar os deputados estaduais Isolda Dantas e Allyson Bezerra (SD). O poupado Jorge era afagado nos bastidores até se tornar vice da prefeita de Mossoró.

A história se repetiu mais uma vez.

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Artigo

História: reconstruir ou apagar?

Estátua de Colombo é derrubada em protesto (Foto: Spencer Compton/Reuters)
Ricardo Viveiros*
Manifestantes demoliram uma estátua de Cristóvão Colombo, em Baltimore (EUA). Considerado o descobridor do continente americano, Colombo foi ao chão em novo episódio da onda de justiça a monumentos de figuras ligadas à escravidão e ao colonialismo.A História é registrada a partir dos vitoriosos, não dos derrotados. Injustiça. Muitas vezes, os derrotados com o passar do tempo se tornam vencedores. Derrubar estátuas já aconteceu em países do Leste da Europa, depois da queda do Comunismo. Mais recentemente, fundamentalistas islâmicos promoveram a destruição de monumentos e patrimônios arquitetônicos da humanidade.

Platão teve escravos. Aristóteles acreditava que a escravidão era algo natural e necessário. Naquele tempo acontecia assim na Grécia, berço da civilização Ocidental. O escritor brasileiro Monteiro Lobato, com razão acusado de racista — cuja defesa da eugenia está clara em seu livro “O choque das raças”, pode ser relevado se tomada por base a época em que escreveu o “Sítio do Picapau Amarelo”. Naquele tempo cabia uma “Tia Anastácia”, cozinheira negra, personagem folclórica. Queime-se a obra de Monteiro Lobato ou, então, que sirva para ensinar às crianças como era a vida antes delas, os porquês dos erros cometidos.

Por diferentes razões, uns tentam reconstruir a História e outros tentam apagá-la. Não se muda o passado. Mas, com os ensinamentos dele, o presente e o futuro podem ser melhores. O que aconteceu deve ser lembrado para evitar novos erros. Sejam quais forem as razões ideológicas, não devemos ser complacentes com nenhuma forma de racismo, preconceito, discriminação, violência. Por outro lado, vale a reflexão: História é História, feia ou bonita.

Cristóvão Colombo tem estátuas nos EUA como descobridor da América, e não por ter sido usuário de escravos. A escravidão é absurdo que não se justifica, porque Canadá, Austrália e Nova Zelândia também foram colonizados por ingleses sem o emprego de escravos. Na Nova Zelândia, por exemplo, os colonizadores britânicos se entenderam com os nativos Maoris na construção do país. Civilizado? Pois é. Em que esses mesmos colonizadores trabalhavam? Caçavam baleias e focas, o que à época não era visto como crime ambiental. Nem por isso, as estátuas deles estão sendo derrubadas pelos defensores dos animais. Seguem de pé pelos feitos históricos, não pelo desrespeito ao meio ambiente.

Pedro Álvares Cabral invadiu o Brasil em 1500, causando a morte de milhões de índios. Há estátuas, avenidas, escolas com o nome dele por ter sido o descobridor do Brasil. Cabral foi o responsável por um sistema predatório e extrativista, corrupto, que gerou as raízes do que sofremos hoje. Empregando mão de obra escrava, uma indignidade, Cabral também foi conivente com essa prática da época. Em nossas ruas e praças pelas cidades do País, além de estátuas de Cabral, há da redentora Princesa Isabel, do revolucionário Zumbi dos Palmares e de valentes índios, além de outras personagens históricas. Quem deve ficar, quem deve cair?

O português Pedro Fernandes Sardinha diplomou-se em Teologia pela Universidade de Paris (FRA), lecionou nas Universidades de Coimbra (POR) e Salamanca (ESP). Designado primeiro bispo do Brasil, chegou a Salvador (BA) em 1551. Cinco anos depois foi chamado à corte. O navio afunda junto à foz do rio Coruripe, a poucas léguas do rio São Francisco. Os passageiros são capturados pelos índios Caetés que, no arroio de São Miguel das Almas, os matam e comem. Atualmente, a estátua de Dom Sardinha está na Praça da Sé, próxima ao Pelourinho, em Salvador. Muito pouca gente sabe quem foi o homenageado, se importante ou não. Mas, todos sabem que os índios o devoraram.

Caso formos levar em conta essa nova onda de justiça, embora fundamentada no soberano respeito ao próximo, teremos que apagar boa parte da História Universal. Derrubar não apenas estátuas e monumentos, como esvaziar acervos de museus e mudar os nomes de avenidas e praças aqui e em todo o Mundo. Ou deixar a História registrar os fatos de cada época, para com liberdade e sabedoria promover mudanças. O que importa é contar a verdade, não permitir que se perca ao longo do tempo para que os erros do passado não voltem a acontecer.

*É jornalista e escritor, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e Membro Honorário da Academia Paulista de Educação (APE). Autor, entre outros, dos livros: “A vila que descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça seja feita” (Sesi), “Educação S/A” (Pearson).

Este artigo não representa a mesma opinião do blog. Se não concordar, faça um rebatendo que publique como uma segunda opinião sobre o tema.

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Agência Moscow

Especial: Enem na quarentena │PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE MOSSORÓ

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Ensaio

Vírus no Ar, Políticos In Vitro e Gripes In vivo: Em 100 anos o que mudou?

Por José Dias do Nascimento*

Durante o outono de 1918, a comunidade de Oshkosh sabia da chegada da “gripe espanhola” e que isto era inevitável. Eles não sabiam, no entanto, exatamente quando ou quem seria o primeiro a trazê-la para Oshkosh, uma cidade localizada no estado norte-americano de Wisconsin, no Condado de Winnebago. Naquela época, não se sabia sequer que a gripe era causada por um vírus, embora os cientistas e médicos estivessem trabalhando duro para encontrar uma forma terapêutica para tratar essa doença. A INFLUENZA — comumente chamada de “ A gripe” — foi e é uma das doenças mais graves que já atingiu a humanidade. Alguns autores dizem que foi, também, uma das mais letais. Registros mostram que mais vidas foram levadas pela INFLUENZA, do que todas as principais guerras mundiais juntas. Estes registros apontam para números entre 20 a 50 milhões. Esta gripe foi causa de muita perturbação social e altos custos econômicos e permanece, até hoje, como a pandemia mais destrutiva já conhecida, pois ainda não temos um comparativo com a COVID-19, que ainda segue. Para um entendimento geral do enfrentamento e inclusive, sobre o uso político da pandemia da gripe INFLUENZA, também chamada injustamente de Gripe Espanhola, recomendo fortemente o livro “A Grande Gripe”, de John M. Barry.

Pois bem, era 12 de outubro, parecia que tudo tinha parado em Oshkosh. A cidade, juntamente com muitas outras no país, tornou-se uma cidade fantasma sombria e silenciosa. Todas as escolas, igrejas, bibliotecas, casas de filmes e teatros foram fechadas. Reuniões públicas eram proibidas. Um toque de recolher ordenou que todos os bares, salões de bilhar, cafés e restaurantes fechassem às 17:00. Neste cenário estranho, o que se via era a ambulância puxada por um cavalo transportando pacientes com gripe, enquanto a ambulância motorizada era usada para transportar pessoas com outras doenças. “Máscaras de gripe” de gaze chegaram da Cruz Vermelha em 12 de outubro. Nestes dias, muitos de remédios contra gripe apareceram na imprensa. Eles outros incluíam óleo de cobra, laxante bromoquinina , cigarros sem tabaco Smoko, Vick Vapor Rub , geléia catarral de Kondon, leite maltado Horlick e muitos outros “remédios” sem comprovação científica sbre sua eficiência. Ao mesmo tempo, os farmacêuticos estavam preenchendo prescrições de heroína, morfina, cocaína e codeína para tratar a gripe. Uísque e conhaque também foram promovidos no combate à gripe. Um artigo intitulado “Gripe espanhola: o que é e como deve ser tratada” foi impresso mais de meia dúzia de vezes ao longo da epidemia. Aconselhava: “Vá para a cama e fique quieto, tome um laxante, coma bastante comida nutritiva. Mantenha sua força, a natureza é a cura. Sempre chame um médico”.

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Artigo intitulado “Gripe espanhola: o que é e como deve ser tratado” foi impresso mais de meia dúzia de vezes ao longo da epidemia. Aconselhava: “Vá para a cama e fique quieto, tome um laxante, coma bastante comida nutritiva. Mantenha sua força, a natureza é a cura. Sempre chame um médico”.

Adolf O. Erickson, dono de uma loja de ferragens e professor de escola dominical em Winchester, registrou a gripe em seu diário. Ele escreveu que um médico injetou oito doses de óleo de cânfora diretamente nas pernas e braços de seu irmão para tratar a temperatura violenta causada pela gripe. Em 22 de outubro, uma vacina do Hospital Mayo foi distribuída em Oshkosh. Foi fornecida “gratuitamente”. Três inoculações, uma parte por semana foram recomendadas por um período de seis a nove meses para “confirmar imunidade”. Muitos foram vacinados, mas isso se mostrou ineficaz. Até 2 de novembro, cerca de 1.000 casos de gripe foram relatados em Oshkosh. Especulou-se que a propagação da doença estivesse sob controle e o número de novos casos estivesse diminuindo. O Departamento de Saúde (o que seria hoje uma secretaria de saúde pública) anunciou que iria suspender o isolamento e as proibições em breve se a situação continuasse melhorando. No dia das eleições, 5 de novembro, aconteceu o inadiável, escolha dos representantes políticos e isto tudo aconteceu sem uma única reunião política ou jantar de campanha. Pois é, eleição em meio à pandemia não é algo novo.

Enquanto isso, a Grande Guerra terminou. Para alívio de todos, o armistício foi assinado. O prefeito de Oshkosh, Arthur C. McHenry, suspendeu a proibição de fechamento noturno. Igrejas, casas de filmes, lojas e teatros reabriram. As escolas, no entanto, permaneceram fechadas. O prefeito comentou: “É o maior dia da história da humanidade. Em 11 de novembro, o armistício foi confirmado. Uma edição extra do jornal foi publicada. A polícia da cidade entrou no quartel dos bombeiros da State Street e começou a tocar a campainha. Uma festa. Cortinas foram levantadas. As luzes das casas estavam acesas. Os campanários da igreja tremiam e balançavam. Os sinos das escolas e dos bombeiros continuaram a tocar. O jornal acrescentou que, se houvesse alguém em Oshkosh que não fosse despertado, eles seriam surdos ou mortos como uma pedra. Os membros da comunidade em êxtase, se apressaram em se vestir e foram para a Main Street. Desfiles de “camisas de noite” eram evidentes. Durante a celebração, a comunidade esqueceu da gripe espanhola, infelizmente.Essa explosão pública “patrocinada” pela política contribuiu para uma segunda onda de gripe em Oshkosh. Ao comemorar o fim da guerra, os membros da comunidade criaram o ambiente perfeito para espalhar o vírus. Em 14 de novembro, o registro policial indicava um grande aumento no número de casos de gripe.

O prefeito McHenry, no seu desespero, deu ordens ao chefe de polícia Henry Dowling para aplicar rigidamente a ordenança de “não cuspir”, porque ele acreditava que isso poderia ser um fator que contribuiria para a propagação da gripe na comunidade. Um cidadão alegou ter contado 108 marcas de expectoração na calçada entre a Algoma e Church Street.

AComissão de Professores do Conselho Escolar anunciou que as escolas seriam reabertas na segunda-feira, 20 de novembro. Vários pais escreveram cartas ao editor do The Daily Northwestern, expressando preocupação em permitir que seus filhos frequentem a escola com uma epidemia ainda em andamento. Essas preocupações levaram a proibição da cidade a permanecer em vigor. À medida que a festa de Natal se aproximava, grinaldas negras foram colocadas nas portas das casas onde cidadões inocentes haviam morrido.

Tão logo os casos de gripe começaram a declinar durante a segunda onda do surto, outra doença se espalhou para Oshkosh-varíola. Em 26 de novembro, foi anunciado que o Departamento de Saúde colocou em quarentena 11 indivíduos atingidos por varíola. Felizmente, uma vacina potente estava disponível e medidas efetivas foram tomadas imediatamente pelo comissário de saúde atormentado.

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A ambulância puxada a cavalo da cidade de Oshkosh que foi reativada para transportar pacientes com gripe. A ambulância motorizada era usada para transportar pessoas com outras doenças [Reproduzida com permissão do Museu Público de Oshkosh, Oshkosh, Wisconsin. Todos os direitos reservados].

Asrestrições da gripe foi finalmente retirada em 29 de novembro e as escolas reabertas em 3 de dezembro. Crianças com fungos não tinham permissão para comparecer. No primeiro dia em que as aulas foram retomadas, a participação foi de 75%. A biblioteca foi lavada e todos os livros esterilizados. Os teatros ventilavam suas salas entre as apresentações. Em 11 de dezembro, o jornal informou que havia um total de 2.083 casos de influenza até o momento e que estava acontecendo uma queda acentuada no número de casos. As flores continuaram escassas e uma forte demanda por flores artificiais era o que se via nos funerais. Em 26 de dezembro, a quarentena da varíola foi retirada e doze indivíduos foram liberados desta quarentena. Um dia depois do Natal, a epidemia parecia diminuir, de fato. Dizia-se que neve e frio eram o antídotos. Na verdade, o frio e a neve contribuíram para que um grande número de indivíduos permanecessem em suas casas, diminuindo assim o número de contatos. A oportunidade de espalhar o vírus influenza foi reduzida e as pessoas desenvolveram imunidade. O vírus, de fato, foi controlado, e o contágio diminuiu nos meses seguintes e as mortes foram registradas até maio de 1919.

Em retrospecto, examinando a epidemia no condado de Winnebago, percebe-se o estresse da comunidade. Por exemplo, os registros de óbito do Northern Hospital foram arquivados com até três meses de atraso durante esse período. Percebe-se preocupações expressas com relação a isto nos jornais. A epidemia durou de 5 de outubro de 1918 a maio de 1919. No condado de Winnebago, 182 pessoas morreram, a maioria entre outubro, novembro e dezembro de 1918. Das 182 mortes, os números podem ser divididos em 110 residentes em Oshkosh, 30 residentes em Neenah, 16 residentes em Menasha e 26 indivíduos de cidades e municípios vizinhos. A gripe tirou a vida de reparadores de automóveis, fabricantes de charutos, operários, motoristas de bondes elétricos, fabricantes de vagões, cortadores de carne, leiteiros, donas de casa, balconistas, vendedores, pedreiros, mineiros, maquinistas, padeiros, agentes de seguros, enfermeiras, crianças em idade escolar, revendedores de tecido, telegrafistas, fabricantes de papel, marceneiros, guarda-livros, fazendeiros e operários. Outras 46 mortes provavelmente estavam relacionadas à gripe e poderia ser comprovada se alguém examinasse cuidadosamente os registros de morte. Relatar o número de casos e mortes foi difícil.

Muitos indivíduos morreram em hospitais. Durante esse período, havia sete hospitais em Oshkosh. O número de mortes tabuladas foram: Alexian Brothers Hospital (1); Hospital de Emergência (4); Hospital da Misericórdia (7); Northern Hospital, também conhecido como Insane Asylum, (15); Hospital St. Mary (5); Hospital do lado sul (2) e Sanatório de isolamento da Sunny View (3). O Hospital Theda Clark, em Neenah, perdeu 17 pacientes com a gripe espanhola. Curiosamente, a maioria dos indivíduos que morreram em Theda Clark não eram residentes do condado de Winnebago. A maioria era de parentes visitando pessoas, vendedores viajando para outros destinos. Houve muitos relatos de médicos morrendo nos EUA. Felizmente, nenhum dos médicos do condado de Winnebago sucumbiu à gripe espanhola. Alguns estudantes de enfermagem do Hospital da Misericórdia morreram de gripe e muitos que saíram para dar assistência aos soldados doentes em campos de treinamento morreram de gripe nos campos, junto com os militares. Um total de 108 militares de Oshkosh morreram durante a Primeira Guerra Mundial. Trinta e três deles morreram de gripe ou pneumonia. No total, 55 condados de Winnebago, soldados da Primeira Guerra Mundial e 1 marinheiro sucumbiram à gripe ou pneumonia. Metade desses militares morreu em campos de treinamento em casa ou na Europa. A outra metade morreu de gripe enquanto lutava no exterior.

Agripe provavelmente contribuiu para o estresse fisiológico adicional. Por exemplo, o número de natimortos e mortes prematuras de bebês aumentou de 28 (em 1917) para 42 (em 1918) e os meses de pico com mortes foram entre outubro e novembro. Houve também quatro suicídios em outubro e novembro de 1918. A sensação de desamparo e trauma era evidente. Os meses de outubro e novembro de 1918 geraram um “pico” pronunciado quando se reunia todos os tipos de dados estatísticos no condado de Winnebago.
Vários residentes do condado que sobreviveram à epidemia de gripe de 1918 estavam dispostos a serem entrevistados para um estudo realizado pela faculdade e estudantes da UW-Oshkosh durante a primavera de 2001. Muitos mencionaram que eles não falavam sobre esse período porque era terrível a lembrança. Agora, oitenta anos depois, se sentiam à vontade para conversar sobre isso e compartilhar com a comunidade. Muitos comentaram sobre os remédios usados ​​para tratar a gripe. Alguns perderam pais e irmãos. Alguns se sentiram culpados, acreditando que haviam trazido a gripe para casa da escola; eles testemunharam os sintomas terríveis nos adultos ao seu redor. Nenhum foi capaz de compreender o escopo da epidemia de gripe nas comunidades vizinhas ou no país como um todo. Vários falaram de mortes por influenza que ocorreram em 1920, no ano seguinte. Durante os meses de janeiro e fevereiro de 1920, houve 49 mortes relacionadas à influenza no condado de Winnebago (31 delas eram residentes de Oshkosh). A gripe produziu os mesmos efeitos de deterioração que os de 1918, mas foi limitado ao período de dois meses.

Hoje, os cientistas continuam trabalhando na charada do motivo pelo qual o vírus da influenza de 1918 se mostrou tão letal e perigoso. A Medicina e a tecnologia já mudaram muito e rapidamente. A mudança dos padrões de movimento das pessoas em todo o mundo via viagens aéreas dificultaria a contenção de uma outra gripe e isso foi mencionado no pós 1919. Foi organizada uma reunião envolvendo 200 especialistas, realizada na Academia Nacional de Ciências de Washington, DC, em 1999, para desenvolver um plano que agilizasse a vigilância e a intervenção da gripe em escala internacional. Esperava-se que o conhecimento adquirido com o estudo desse vírus perigoso em 1919 pudesse ser aplicado e usado para prevenir ou, pelo menos, prever o surgimento de novas cepas de influenza com potencial pandêmico.

Epílogo: A guerra acabou e pandemia passou. Alguns prefeitos não foram eleitos, porém entraram para a história com suas medidas anti científicas. Charlatões** foram ridicularizados devido às suas promessas com base em remédios “estranhos” mesmo para 1919. Tudo isso aconteceu em Oshkosh, uma cidade localizada no estado norte-americano de Wisconsin, no Condado de Winnebago entre 1919 e 1920.

*É professor da UFRN.

(**) Charlatão de acordo com “Oxford Languages”

1. Mercador ambulante que vende drogas e elixires reputados milagrosos, atraindo e iludindo o público.

2. por extensão curandeiro que diz possuir remédios milagrosos.

Bibliografia

  • Tradução parcial do Artigo “Spanish Influenza Strikes the Oshkosh Community in 1918”. Parte do Projeto THE “FLU PROJECT”: A MULTIDISCIPLINARY LEARNING EXPERIENCE AT UW OSHKOSH
  • 1918 Influenza: A Winnebago County, Wisconsin Perspective. T. Shors, and S. H. McFaddenClin Med Res. 2009 Dec; 7(4): 147–156. doi: 10.3121/cmr.2009.863

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Reflexões sobre os 132 anos da lei áurea – abolição da escravidão

Por Cesar Amorim*

O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 tem 78 incisos, nos quais constam os chamados Direitos Fundamentais, dentre eles a Liberdade de manifestação do pensamento, Liberdade de locomoção, Liberdade de crença religiosa, Igualdade de gênero, condenação a tortura, bem como consta em seus incisos a perspectiva da República em assegurar uma vida digna, livre e igualitária a todos os cidadãos.

É no inciso 42, do artigo 5°, da CRFB/88, por exemplo, que o RACISMO passa a ser enquadrado como CRIME INAFIANÇÁVEL E IMPRESCRITÍVEL. É importante lembrar que tivemos sete Constituições (1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988) desde nossa independência, e somente na CRFB/88 o racismo foi enquadrado como crime.

No Brasil, quando se trata se justiça social, parece que somos experts em deixarmos a desejar, exemplo disso, é a marca história de que o Brasil foi o último país da América a abolir, oficialmente, o tráfico negreiro e a escravidão, no caso da escravidão, o fato se deu em 13 de maio de 1888, quando a Princesa Isabel sancionou a famosa Lei Áurea.

Apesar de tudo, seria muito pessimismo de nossa parte afirmar que não existe o que comemorar nestes 132 anos da LEI ÁUREA – ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO, no entanto, ao meu sentir, existem meandros e fatos dentro desse processo que precisam de nossa reflexão.

Sabe-se que Lei Áurea NÃO FOI PENSADA a partir de uma liberdade plena dos escravos no Brasil. Após a abolição, não foi garantido a inserção da população negra na vida econômica, política e social, assim, esta população fora empurrada para as margens da sociedade, situação que persiste até os dias atuais. Isso se dá de forma muito perceptível, sendo exatamente por essa razão, ao meu ver, que precisamos um Estado forte, que seja o condutor de um verdadeiro e pleno processo de emancipação social.

Na perspectiva de política internacional, o fim oficial da escravidão no Brasil, se alinhava aos interesses capitalistas do então poderoso Império Britânico, que na época pressionava países, buscando um mundo com mão de obra assalariada e consumidora de seus produtos industrializados.

Não bastasse, sabe-se que o processo interno que levou ao fim da escravidão no Brasil foi resultado dos fatos gerados no interior do próprio sistema escravista, provocados pelo protagonismo e luta dos próprios negros que insurgiram contra o cativeiro, em um conjunto de ações individuais e coletivas, como por exemplo, ataques a proprietários de escravos, fugas, formação de quilombos, incêndios de fazendas, conspirações, rebeliões e insurreições.

O legado da escravidão, que perdurou por mais de 300 anos, trouxe ao país cerca de 5 milhões de negros através do chamado tráfico negreiro, deixando sequelas profundas em nossa sociedade. Laurentino Gomes, autor do livro constante na foto que ilustra esse texto, afirma que o Brasil precisa de uma segunda abolição, já que a maioria da população pobre é negra, sem acesso à educação, saúde e empregos decentes. Ele está correto!

O Brasil foi construído por escravos, homens e mulheres que sempre estiveram em sacrifício para fazer girar o eixo socioeconômico, o escravo, especialmente o negro, esteve presente em todos os ciclos econômicos de nossa história, passando pelos ciclos do açúcar, do ouro e do café.

Se pararmos para refletir, neste período de confinamento necessário, veremos que a maioria dos motoboys, dos entregadores, das secretárias domésticas etc são de pele negra, estão na linha de frente, “servindo” as necessidades, prazeres e caprichos da sociedade que se encontra do outro lado do rio. Outrossim, se fizermos uma rápida pesquisa, veremos que a maioria das vítimas do COVID-1, bem como  dos beneficiários do auxílio emergencial, ou são pessoas de pele negra ou pardos descendentes dessa história cheia de antagonismos e contrastes.

Por tudo isso, é preciso insistir, a história da escravidão não é um assunto acabado, tema de museus, salas de aula ou livros de história. Ela está presente na fria realidade brasileira. Desse modo, passados 132 anos da “libertação dos escravos” o tema deve ser objeto de efetivas e profundas discussões, pois temos uma dívida gigante a ser paga ponta dessa catástrofe.

O tema é longo, instigante e, mais do que nunca, necessário, no entanto, acredito que se você, meu amigo e minha amiga, chegou a ler com calma esse texto, eu já atingi o objetivo almejado de quando me propus a escrevê-lo.

*É Antonio Martinense adotado por Mossoró.

Mossoró/RN, 13 de maio de 2020.

 

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Há 100 anos nascia o pesquisador Raibrito

Raibrito fez história na cultura potiguar (Foto: cedida)

Há 100 anos nascia o primogênito de uma família potiguar: Raimundo Soares de Brito. Na cidade de Caraúbas, cresceu, conheceu o Oeste Potiguar, trabalhou nas capitais alencarina e do RN. O Doutor Honoris Causa da UERN, inscreveu-se na cultura potiguar como historiador, escritor e colecionador de História.

Ele morreu em 28 de novembro de 2012 aos 92 anos de idade.

Na oportunidade do centenário de seu nascimento, organizamos a Exposição Virtual: Raibrito, um observador do cotidiano, para celebrar o homem, o pesquisador e sua contribuição à cultura norte-rio-grandense.

A exposição, pensada inicialmente nos seus moldes tradicionais, em razão do isolamento social em vigor, adquiriu o formato virtual. As páginas que antes foram pensadas como painéis, agora podem ser visualizadas pelo celular ou computador, sendo este a ferramenta que permite uma visão mais abrangente das páginas.

No dia 23 de abril, data do nascimento de Raibrito, a Exposição será disponibilizada no endereço www.raibrito.com.br. Visite e conheça um pouco da história deste caraubense, cujo legado engrandece a cultura potiguar.

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Análise

Partido pode ficar pela primeira vez fora da Câmara Municipal de Mossoró

Mesmo com o comando da Câmara, Izabel não consegue organizar o MDB para a disputa proporcional (Foto: Edilberto Barros)

Desde que foi fundado o MDB sempre elegeu vereadores para a Câmara Municipal de Mossoró. Já teve a maior bancada em diversas ocasiões e atualmente tem dois parlamentares entre os mais influentes da casa.

No entanto, a presença do MDB na Câmara Municipal pode acabar nesta janela partidária. Alex Moacir, líder da bancada governista, já confirmou que vai deixar o MDB.

A presidente da Câmara Municipal Izabel Montenegro encara dificuldades para organizar a agremiação para as eleições deste ano.

Ela não descarta trocar de partido.

Caso se confirme a decisão o MDB ficaria sem representantes na Câmara e, por consequência, inviabilizado para as disputas proporcionais em Mossoró.

Seria primeira vez do MDB fora do nosso parlamento.