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Projeto fixa informações em braile em produtos e serviços

Projeto é de Isolda Dantas (Foto: ALRN)

A deputada Isolda Dantas (PT) apresentou projeto de lei, na Assembleia Legislativa, que dispõe sobre a obrigatoriedade de fixação das informações, contidas em produtos e serviços, em sistema braille. A regra está prevista para supermercados, padarias, restaurantes, farmácias, hotéis e outros estabelecimentos comerciais similares, no Estado do Rio Grande do Norte.

Segundo a parlamentar, o “Estatuto da Pessoa com Deficiência” (Lei nº 13.146 de 2015) impõe ao Poder Público o dever de viabilizar a inclusão social e o exercício dos direitos fundamentais para essa parcela da população.

“As pessoas com deficiência visual deparam-se diariamente com inúmeros desafios inimagináveis para realizarem com segurança e autonomia tarefas rotineiras, como adquirir alimentos ou usufruir dos serviços e produtos do comércio. Isso acontece porque a maioria das informações não possuem acessibilidade, sendo identificáveis apenas pelas pessoas que possuem visão regular. Então este projeto pretende justamente acabar com essa diferenciação”, justificou Isolda.

De acordo com o texto da norma, é “obrigatória a disponibilização em linguagem braille de todo cardápio, menu ou informativo escrito sobre produtos e serviços de bares, restaurantes, hotéis, supermercados, lojas de produtos alimentícios, farmácias, shoppings centers e estabelecimentos similares”.

Também será dever dos estabelecimentos a inscrição em braille de qualquer informação básica relativa à segurança e ao acesso dos consumidores, tais como avisos, informes e identificação de portas, escadas e saídas de emergência.

Além disso, os estabelecimentos comerciais responderão por danos causados ao consumidor com deficiência visual, se decorrentes de descumprimento das regras impostas na futura norma, podendo ainda ser aplicadas as disposições do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

O projeto de lei será avaliado pelas Comissões Temáticas da Casa e, se aprovado, seguirá para votação em Plenário. Em caso de nova aprovação, será encaminhado para apreciação do Governo do Estado.

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Setembro Verde: o mês da “inclusão”

Por Thiago Fernando de Queiroz

Parece que já é algo comum as pessoas com deficiência sofrerem com algum tipo de preconceito, sendo ele de ordem familiar, social e até mesmo a um auto-preconceito. Esse preconceito que se permeia na sociedade é denominado de “capacitismo”, e, para aclarar acerca dessa temática que parece nova, mas, não é, Lima Costa e Cabral (2018, pág. 02) explana que:

O capacitismo consiste no veemente e incansável pressuposto de que as pessoas com deficiência, são generalizadas como incapazes de produzir, aprender, cuidar, sentir desejo, de ter relações afetivas e sexuais, ocupando assim o lugar de confinamento legitimado pelo desconhecimento do lugar social que estas ocupam.

De acordo com relatos históricos obtidos por livros antigos e artigos científicos contemporâneos, as pessoas com deficiência eram seres lançados as margens da sociedade, eram seres segregados e as vezes não tinham a oportunidade de sequer ter uma vida digna, quando não, eram-lhes tirados a vida.

A luta por direitos das pessoas com deficiência passou por quatro períodos históricos, sendo eles, a exclusão, a segregação, a integração e hoje, o período da “inclusão”. Em poucas palavras, o período da exclusão, como o nome bem diz, foi o período em que as pessoas com deficiência eram excluídas da sociedade, fatos dessa época foi citado no filme os “300”, onde as pessoas com deficiência eram jogadas dos altos picos das montanhas para serem mortas, pois, não queriam elas atuando com o convívio social.

No período da segregação, as pessoas com deficiência já não eram excluídas, mas, deixadas às margens da sociedade. Não havia nem a preocupação de criar métodos e recursos que pudesse possibilitar a interação com as demais pessoas, elas eram vistas como seres amaldiçoadas por deuses ou que a deficiência tivesse advindo dos pecados dos pais. Vemos esse fato narrado na Bíblia no livro do Evangelho de João no Capítulo 9.

No período da integração, as pessoas com deficiência foram-se chegando a sociedade, foi se tendo um olhar mais inclusivo, foram sendo criados métodos e recursos para que as pessoas com deficiência pudessem interagir com a sociedade, porém, elas ainda eram vistas como seres incapazes.

Todavia, hoje estamos no período da “inclusão”, onde as pessoas com deficiência de forma jurídica, não são tidas mais como seres incapazes, ao contrário, elas têm direitos iguais às demais pessoas, são lhe dadas garantias constitucionais na esfera de nosso pais, bem como, existem documentos internacionais que obriga a países signatários a cumprirem com a tão “sonhada inclusão”; porém, a luta é grande.

As pessoas com deficiência têm o direito educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, contudo, para terem esses direitos de fato, muitas pessoas com deficiência são humilhadas, por isso, quando cito a inclusão, coloco entre aspas, pois, acredito que estamos na busca dela, entretanto, ela ainda não chegou verdadeiramente.

Mediante a Lei Estadual nº 10.214, de 17 de jullho de 2017, houve a inclusão no calendário oficial do Estado do Rio Grande do Norte o “Setembro Verde” para marcar o mês da inclusão, quando se comemora o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Temos um mês para abordar a nossa luta e as nossas conquistas, e, falando em conquistas, pode ser citada a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ao qual, tem caráter de emenda a Constituição por meio do Decreto Federal nº 6.949/2009, e, da Lei Brasileira de Inclusão, também denominada Estatuto da Pessoa com Deficiência, em que entrou no mundo jurídico por meio da Lei Federal nº 13.146, do dia 06 de julho de 2015.

Pode-se ver que houve conquistas, todavia, a luta ainda é árdua, entretanto, estamos na luta, pois, acreditamos na união da força, acreditamos que juntos somos mais fortes, acreditamos que não precisamos de sorte, e sim, de ir em busca de direitos, pois, ainda nos dias atuais, o preconceito e a discriminação é muito grande, mas, estamos na luta, e, sabendo que essa luta é de formiguinha, aos poucos, mas, não desistimos.

Comemoramos nesse mês o setembro Verde, e, a mensagem que deixo, são relatos de uma música que compus em 2014, que tem o título ”Tenho Deficiência, Mas, Sou Eficiente”, então, vejamos:

Por muito tempo formos excluídos, deixados dentro de um quarto, achavam que não éramos capazes, mas, a história foi mudando. Saímos dos quartos para lutar, buscar os direitos e reivindicar, pois, fazemos parte da sociedade, buscamos uma finalidade. Tenho deficiência, mas, sou eficiente, precisamos apenas de acessibilidade, a nossa luta não é em vão, vamos ajudar a transformar e criar uma geração. Conquistamos direitos, leis foram criadas, só faltam elas serem aplicadas. Não podemos parar e voltar a exclusão, e, achar o que foi feito está muito bom. No Brasil somos mais de 45 milhões, somos mais de 20 por cento de nossa nação, não podemos para, temos que continuar, vamos transformar nossa geração.

Vamos que vamos na luta pela inclusão!!!

Vídeo com a Música: https://www.youtube.com/watch?v=aVZw7PhRqjo

É aluno Especial do Mestrado em Educação – UERN; Pós-graduando em MBA em Gestão Pública – FAVENI; Graduando em Direito – UNP: Conselheiro Municipal de Saúde de Mossoró – Representando Pessoas com Deficiência; Sócio da Associação dos Deficientes Visuais de Mossoró – ADVIMOS.

Referências Bibliográficas:

LIMA COSTA, L. M. de, e CABRAL, R. P. Para um mundo acessível: mudando a forma de olhar para a deficiência. 2018. Disponível em: <http://abpmc.org.br/arquivos/textos/1523217415045b75cb8.pdf> Acesso em: 06 de setembro de 2019.

 

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Uma política decente de direita

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Por Renato Janine Ribeiro*

Defendo o diálogo entre as forças democráticas, isto é, a esquerda e a direita não autoritárias. Mas, como minhas simpatias estão com a esquerda moderada, quero expor o que poderia ser um programa audacioso e avançado de direita ou, se preferirem, liberal. Parto da grande tese do liberalismo: cada indivíduo tem capacidades únicas, notáveis, que para florescerem só precisam que sejam removidas as ervas daninhas. O Estado ou qualquer externalidade, inclusive as Igrejas, mais prejudicam do que ajudam. Claro que essas instituições devem remover obstáculos – e o grande exemplo é a repressão policial ao crime – mas não devem impor direção às riquezas singulares de cada pessoa.

Liberal nada tem a ver com “libertarian”, expressão frequente só nos Estados Unidos e que não se confunde com libertário, que no resto do mundo é sinônimo de anarquista. O anarquista é contra o poder – do Estado, da Igreja, do capital ou do partido. Já o “libertarian” é só contra o poder estatal, mesmo democrático; mas aceita a desigualdade social, mesmo aguda, ou o poder econômico, mesmo abusivo. Muito ao contrário disso, todo liberal autêntico tem uma teoria do homem, literalmente uma “antropologia”, que afirma a riqueza inesgotável de cada indivíduo. Ora, o resultado lógico dessa convicção é que ele defenda uma radical igualdade de oportunidades, para que todas as flores, na sua diferença, floresçam.

A igualdade deve estar na partida – mas não na chegada. A desigualdade social se justifica, para o liberal, em decorrência do empenho e desempenho de cada um, de seu talento e mérito. Um mote liberal seria: igualdade absoluta de oportunidades, incentivo à diferença e à criatividade, recompensa do esforço e do empenho. A riqueza interna de cada um deve se expressar. Portanto, a desigualdade prévia à estreia de cada qual no trabalho deve ser a menor possível. No limite, como propunha um dos liberais mais avançados da história francesa, o jornalista Jean-Jacques Servan-Schreiber, autor do best-seller “O desafio americano”, a herança deveria ser abolida, porque desnivela os pontos de partida. Tal medida, difícil que é de implantar, estaria não obstante no horizonte liberal.

O liberalismo deveria incluir ações afirmativas
 


A sociedade ou o Estado devem garantir o que hoje chamamos de ações afirmativas. O liberalismo genuíno não é contra cotas. Um governo liberal teria por meta, num prazo prefixado de dez ou vinte anos, assegurar uma educação de qualidade elevada e, acrescento, de mesma qualidade para todos os brasileiros. Iria até além das cotas, porque não incluiria só os melhores dentre os descendentes de africanos e indígenas, mas todos. Devem acabar, se for o caso pela ação do Estado, todos os entraves – por definição, injustos, iníquos – à igualdade de oportunidades.
Para o liberal, a educação deve ser prioridade absoluta, justamente porque faz as pessoas crescerem em sua diferença (o que inclui todas as orientações sexuais que não constituam abuso sobre vulneráveis) e beneficia a vida social. Esta, numa sociedade culta e educada, deve reduzir ao mínimo a tutela do Estado. Por que interviria ele na vida sexual, religiosa, espiritual de adultos não vulneráveis?

O empenho – e o desempenho – devem ser aferidos. Responsabilidade é palavra-chave. Enquanto o socialista tende a considerar que todo trabalho é por definição social, e que é difícil distinguir a responsabilidade e a performance de cada indivíduo, o liberal quer responsabilizar as pessoas pelo que fazem. O socialista enfatiza a cooperação, o liberal, a liberdade, isto é, a competição, mas dentro dos quadros legais e éticos. Não é a competição a todo custo, não é a guerra hobbesiana de todos contra todos. Daí que liberais gostem de avaliações. Elas devem individualizar a responsabilidade pelos resultados obtidos, sejam bons ou maus. A remuneração deve estar associada a avaliações.

Há avaliações de todas as sortes. O mercado é um grande avaliador de bens e de certos serviços. Mas precisa de correções. Impostos podem levar o produtor de leite a receber mais pelo que vende do que o fabricante de refrigerantes, que têm um custo de produção menor, uma demanda alta e portanto uma margem de lucro potencialmente superior. Mas, para além da avaliação simples que fazemos todos os dias ao comprar, há avaliações refinadas, que se referem a bens sociais, não ou pouco mercáveis, como educação, pesquisa científica, saúde, cultura e de modo geral tudo o que é novo. Avaliações, aliás, jamais constituem fins em si. Devem gerar resultados. Se a educação é prioridade, os melhores educadores devem ser estimulados. Vejam que “melhor” inclui doses de criatividade e de dedicação ou, se quiserem, os “tantos por cento de inspiração e tantos por cento de transpiração” que se diz serem o segredo das grandes obras.

Este rápido percurso permite uma limpeza de terreno. Muito do que está associado à esquerda, porque ela é mais “social”, pode na verdade caber no mundo liberal. Cotas, por exemplo. Mas temos liberais no Brasil? Difícil dizer. Quem se declara liberal, aqui, com frequência é apenas contra o poder do Estado, e ainda assim somente quando o governante for escolhido pelos mais pobres. Por isso, não se trata de liberais, mas de conservadores. Também por isso, me reservo o direito de apenas reconhecer como liberal quem lute pela igualdade de oportunidades, em pensamentos, palavras e atos. Em alguns momentos, penso que – talvez – a Rede Sustentabilidade possa ocupar o espaço liberal em nosso país. Mas, de todo modo, entre nós o liberalismo continua sendo um enredo com lugar vago para um autor.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 

Texto profético publicado no Jornal Valor Econômico em 11 de agosto de 2014