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Cerca de 50 indígenas venezuelanos estão refugiados em Mossoró

UERN promoveu live para conscientizar população sobre presença dos waraos em Mossoró (Imagem: Reprodução)

Um grupo composto por cerca de 50 venezuelanos índígenas da etnia Warao em situação de refúgio está em Mossoró. A chegada dos índios se deu entre dezembro e janeiro, um pouco depois que outro grupo de refugiados da Venezuela veio para a cidade.

Os indígenas foram acolhidos pela Irmã Ellen, em abrigos do Lar da Criança Pobre, e recebem assistência, do Centro de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS) e de parceiros do órgão.

De acordo com a assistente social e coordenadora do Creas, Sheyla Pedrosa, para se manter, desde que o grupo chegou em Mossoró tem contado com doações da sociedade civil e praticado o que eles chamam de ‘colheita’, que é o ato de pedir dinheiro para poder adquirir o que precisam. “Eles vivem basicamente disso”, informa a assistente social.

“Nesse contexto da pandemia, a Prefeitura ela tem atuado em uma perspectiva de complementação alimentar, tendo em vista que tem se tornado cada vez mais difícil eles conseguirem esse dinheiro nas ruas. Têm menos pessoas nas ruas e, para além disso, ainda tem também aquela dificuldade do contato”, informa.

O Creas também tem contado com apoio de parceiros, como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que realizou a entrega de cestas básicas essa semana, e do Comitê Estadual Intersetorial de Atenção aos Refugiados, Apátridas e Migrantes do Rio Grande do Norte (CERAM/RN). A partir dessa parceria foi feito contato com a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (SETHAS) para inserção do grupo no Restaurante Popular, para que possam ter acesso às refeições gratuitamente. “Para além disso também estamos tentando a inserção deles no programa do leite”, afirma a coordenadora.

Segundo ela, o Município também fez um trabalho de verificação sobre a inserção dessas famílias nos benefícios sociais.

Os waraos não falam português e a barreira imposta pela questão diferença de idiomas tem sido uma das dificuldades. “Uma das grandes dificuldades de fato é a questão do idioma. Você encontra no grupo algumas pessoas que falam espanhol, outras que falam, exclusivamente o dialeto warao. Com os que falam exclusivamente o warao nós não conseguimos de fato nos comunicar, mas eles têm líderes no grupo e a gente tem se comunicado mais diretamente com esse líder”, diz a assistente social.

 “A questão da cultura também tem sido uma dificuldade”, comenta Sheyla, se referindo ao fato deles estarem nas ruas. “Nós temos feito um trabalho de orientação muito forte em relação a isso, até porque, Conselho Tutelar, o próprio Ministério Público tem caído muito em cima dessa perspectiva de estar levando crianças para a rua. Já não pode e no contexto da pandemia se torna ainda mais complexo”, afirma.

Outra dificuldade também em relação à pandemia, é que o grupo tem muitas crianças e, como as aulas estão suspensas, elas estão fora de sala de aula. “À medida que a gente normalize esse contexto da pandemia, e se eles permanecerem aqui no Município, nós vamos estar também contando com a parceria da secretaria de Educação para poder inserir essas crianças nas escolas, a partir, claro, das especificidades deles”, diz a coordenadora acrescentando que também foi feita parceria com a Secretaria de Saúde para fazer acompanhamento das famílias por meio da Estratégia de Saúde da Família.

UERN é parceira no acompanhamento ao povo warao

De acordo com Sheyla Pedrosa, o Creas buscou apoio do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), através do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) e do Grupo de Estudos Culturais (GRUESC).

Ela explica que o contato com a universidade se deu para que os grupos colaborem no sentido de oferecer capacitação, lançar notas e promover seminários. “Nós fizemos uma live, por exemplo, no sentido de estar passando mais informações, com relação à cultura desse povo, para que a população de uma maneira geral conheça, tenha mais informações e venha compreender esse determinado comportamento e evite os julgamentos”, explica.

“A gente, infelizmente, tem visto, presenciado, escutado alguns comportamentos xenofóbicos, exatamente pela falta de compreensão dessa cultura. Então, o NEAB ele vem a contribuir nesse processo”, acrescenta.

“O NEAB imediatamente buscou essa parceria, através da professora doutora Carmen Lúcia, da UFPI, que vem acompanho o grupo no Piauí, realizando atividades em parceria com o professor doutor Carlos Cirino, da UFRR, e a professora doutora Jenny Gonzales, da UFMG, em diálogos com pesquisadores de universidades da Venezuela”, afirmou a  coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), Eliane Anselmo, em postagem no portal da Uern.