Por Emanoel Barreto
Qualquer editor de primeira página sabe que matérias diagramadas no lado direito e em uma só coluna tendem a ter menos leitura que aquelas dispostas no lado esquerdo e ocupem mais de uma coluna. Com foto, então, duplica-se o poder comunicacional.
À exceção de O Estado de S. Paulo os outros jornais nacionais de referência expuseram com, digamos, discrição o falecimento de Dona Marisa Letícia.
Como são todos de oposição a Lula trataram de, taticamente, anular de alguma forma o evidente impacto causado pela morte de Dona Marisa.
Além disso, nenhum jornal nacional de referência deu qualquer destaque à forma cruel, desonesta e peçonhenta com que médicos trataram o assunto, expondo a intimidade de uma paciente em estado fragilizado e crítico.
Jornal, se você não é do ramo, também pode informar pela desinformação ou minimização de determinada pessoa pública.
Explico: TVs, rádios ou jornais em nenhum momento tentaram ouvir Lula a respeito. Houve tão-somente uma ou outra alusão a notas divulgadas pelo ex-presidente em que falava a respeito do estado de saúde de Dona Marisa.
Mais claramente: houve informação pela desinformação quando falou-se unicamente na doença de Dona Marisa; e minimização quando ocultou-se das câmeras e das páginas a figura icônica de Lula. Não lhe foi pedida qualquer declaração. Foi-lhe negada a palavra.
É que todos os editores, e especialmente os magnatas da imprensa brasileira, sabem que num momento como esse qualquer aparição de Lula como vítima significaria magnificar sua aura de pessoa em processo de dor; consequentemente, reafirmar sua pessoa midiática – e essa pessoa é política.
Isso teria consequências políticas indesejáveis. E tais consequências a nata da indústria jornalística não deseja. Afinal, 2018 é amanhã, não é mesmo?
O episódio deixa-nos outra lição: um poderoso processo de ódio das camadas mais poderosas, que não se deterão até consumar todos os seus instintos: de poder, de exploração dos mais pobres, de locupletação, de manipulação, domínio e entrega do patrimônio ao grande capital nacional e internacional.
Triste Brasil.
Emanoel Barreto é jornalista e professor do Departamento de Comunicação Social da UFRN