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Entrevista: Emanuela Sousa e o olhar sensível para pessoas em situação de rua

Jornalista fala sobre o livro lançado na última sexta (Foto: divulgação)

Emanuela Sousa é apresentadora da TCM Telecom, graduada em jornalismo e radialismo pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. É uma profissional de comunicação com rara sensibilidade para questões sociais e humanas. Uma de suas frases marcantes énós jornalistas, não somos máquinas humanas. Somos, pessoas com sentimentos, e isso não pode ser deixado para trás”.

Toda esta carga de sensibilidade jornalística pode ser encontrada no livro-reportagem “Sinal Fechado”, fruto de seu trabalho de conclusão de curso em jornalismo que contou histórias das pessoas em situação de rua. A obra foi lançada na última sexta-feira em evento bastante concorrido no Memorial da Resistência.

O livro está em negociação para ser disponibilizado nas livrarias da cidade, mas pode ser adquirido em contato com a autora pelo Whatsapp 9.8846-9512 ou Instagram @emanueladesousa.

Nesta entrevista ela conta como elaborou o livro e suas impressões sobre as pessoas que dormem ao relento pelas ruas de Mossoró.

Confira:

 

Blog do Barreto: Como surgiu a ideia de escrever este livro?

Emanuela Sousa:  O tema sobre população de rua é uma das minhas pautas mais presentes. Desde 2014, quando eu e o cinegrafista Jocieliton Costa, levamos ao ar pela TCM Telecom a Série Excluídos, com destaque para o universo dessas pessoas, passei a sentir uma inquietação. O que eu, enquanto pessoa e profissional da comunicação, ainda posso fazer em prol desta causa? Então, ano passado, 2018, para concluir o curso de jornalismo pela Uern, decidi que escreveria um livro-reportagem capaz de retratar em detalhes as causas que levam uma pessoa a viver em condição de rua, a forma como vivem essas pessoas, e o que elas sonham para o futuro; foi assim que nasceu Sinal Fechado. Agora, o sinal está aberto para falarmos cada vez mais a respeito deste assunto.

Blog do Barreto: Qual trecho de sua obra você considera fundamental para entender o que sentem as pessoas em situação de rua?

Emanuela Sousa:  Todas as pessoas presentes no livro-reportagem apresentam pontos em comum, mas cada uma com suas particularidades. O leitor poderá sentir o quanto a base familiar é importante, sendo essa, a estrutura capaz de nos manter unidos, felizes e saudáveis. A quebra da estrutura familiar é um dos principais motivos que levam uma pessoa a viver em situação de rua. Em meio às trinta reportagens apresentadas em Sinal fechado, é possível deparar-se com trechos que constatam isso. Abandono, fome, frio, preconceito; sonhos de uma hora poder refazer os laços. É predominante entre essas pessoas o desejo de ressocialização, de que a invisibilidade possa ceder lugar a oportunidade de uma vida digna e com direitos respeitados.

Blog do Barreto: Antes desse livro, você já tinha feito uma série de reportagens sobre o tema para a TV. Quais as diferenças e semelhanças dos dois trabalhos?

Emanuela Sousa: A série Excluídos é impactante. O recurso das imagens é algo revelador. Já o livro Sinal Fechado, também é forte, capaz de revelar ainda mais detalhes sobre o universo dessa população de rua. Para a TV precisamos trabalhar com o fator tempo, tudo precisa ser o mais objetivo possível. Na construção das reportagens para o livro, foi possível conviver mais com cada personagem, lançar conversas profundas, reportar lembranças, trazer à tona pensamentos, sentimentos, vivências de todos os tipos. O jornalismo literário permite que isso seja colocado em prática. Digo que, nós jornalistas, não somos máquinas humanas. Somos, pessoas com sentimentos, e isso não pode ser deixado para trás.

Blog do Barreto: O que mais te chamou atenção sobre o perfil das pessoas em situação de rua?

Emanuela Sousa: A maioria das pessoas que vive essa situação é formada por homens, com idades entre 19 e 55 anos. Para sobreviver trabalham como flanelinhas, descarregam mercadorias na região do centro da cidade, principalmente na Cobal. A presença das mulheres já é significativa. Um recurso usado por elas como forma de conseguir algum dinheiro é, a prostituição do corpo. As drogas representam um problema de saúde pública instalado no universo dessas pessoas. A quebra da estrutura familiar, o rompimento dos vínculos afetivos, e o desemprego, são pontos que ligam todo esse público.

Blog do Barreto: Estamos em um momento de retrocessos sociais. Você observa um crescimento da quantidade de pessoas em situação de rua?

Emanuela Sousa: O número de pessoas em situação de rua em Mossoró, mais que dobrou desde a série  de reportagens apresentada na Tv, em 2014, até aqui. De acordo com dados do serviço Consultório de Rua, ligado ao município, são mais de duzentas pessoas cadastradas e vivendo em condição de rua. Estima-se, porém, que mais de trezentas pessoas vivenciem essa mesma realidade. Faltam mais políticas públicas. A cidade caminha para trezentos mil habitantes, e não temos um Centro POP, ou albergue. Não existe um programa do governo capaz de trabalhar a capacitação e assim, ressocializar esse público. Fica o grito de alerta. A minha intenção é a de que a sociedade possa treinar o olhar acolhedor para que vive em condição de rua. É urgente a luta para que os direitos de cada cidadão sejam garantidos e respeitados. Próximo ano, 2020, teremos eleições. Um dos meus desafios é para que o leitor/ cidadão, possa cobrar medidas urgentes voltadas para o crescente número de pessoas que hoje estão em condição de rua. Aliás, não é preciso esperar 2020 chegar, a luta precisa começar desde agora. O que você pretende fazer?