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Um relatório a época confidencial mostra que na reta final da Ditadura Militar os políticos de Mossoró, leia-se família Rosado, causavam incomodo pelas ações sempre em prol dos interesses pessoais.
O documento elaborado pelo Ministério do Exército data de 30 de novembro de 1983 e se refere as eleições de 1982 e todo o processo eleitoral.
O material foi levantado pelo grupo de alunos de comunicação social que sob orientação do professor Esdras Marchezan estão pesquisando sobre a vida do jornalista Dorian Jorge Freire.
Logo no início do texto há uma avaliação da política do Rio Grande do Norte como algo próximo ao fanatismo:
“A política potiguar conserva características próprias, adaptadas aos tradicionais costumes políticos da região, destacando-se as acirradas lutas partidárias com participação intensa do povo, habilmente envolvido na época das campanhas eleitorais, atingindo por vezes, os limites do desvario”.
O relatório mostra que o PDS foi alvo de cisões motivadas por posições pessoais “desligados dos interesses partidários” por parte dos líderes locais.
O quadro político do Rio Grande do Norte é classificado como preocupante e corrupto.
“De um lado, o PDS experimentou sérias dissensões internas a defecção de algumas lideranças significativas (Vice-Governador CERALDO JOSÉ DA ÇÃMARA PERREIRA_DE MELO.; família ROSADO, do Oeste potiguar; Senador JOSÉ DE SOUZA MARTINS FILHO) decorrentes da forma discriminatõria e impositiva com que foi decidida, pela família MAIA, a sucessão do Governo do Estado, privilegiando o Sr JOSÉ AGRDMIO ex-Prefeito de NATAL. Viveu o RIO GRANDE DO NORTE um clima de corrupção em que seus dirigentes empregaram todos os meios (recurso públicos, poder de intimidação, empreguismo, etc) para concretizar seu objetivo de eleger seu candidato;
De outro, as oposições, lideradas pelo PMDB, com a defecção do PT, aliaram todas as correntes ideológicas disponíveis com o apoio do clero progressista para separar a opinião pública do Governo, denunciando e criticando sua atuação no campo social e econômico. O candidato mais forte das oposições foi o Sr ALUÍZIO ALVES, político cassado •ela Revolução e homem de principios duvidosos.”
Relatório apresenta uma avaliação do Jornal O Mossoroense como sendo de oposição ao Governo do Estado e dirigido por Dorian Jorge Freire classificado como “como elemento de esquerda”.
“”O MOSSOROENSE”, é um jornal local, de pequena tiragem e pouca popularidade fora de MOSSOR6/RN”, crava o relatório.
Em outro trecho os militares lembram que o jornalista Jaime Hipólito teria escrito no extinto Diário de Mossoró um Editorial sob orientação da família Rosado contra a “revolução”.
“O jornal “Diário de Mossoró”, após a Revolução de 1964, publicou editorial contra a REVOLUÇÃO e o EXÉRCITO e o autor do editorial teria sido o Dr JAIME HIPÕLITODANTAS, por ordem do “grupo” DIX-HUIT
ROSADO, VINGT ROSADO e VINGT – UM ROSADO. Quando rompeu a Revolução, DIX-HUIT ROSADO estava na CHINA COMUNISTA”.
Na sequência o relatório ainda registra que os Rosados se ausentaram do comício realizado nas eleições de 1982 com a presença do então presidente João Figueredo.
“. Na visita política realizada pelo PRESIDENTE DA REPÚBLICA ao RIO GRANDE DO NORTE, em Out 82, VINGT ROSADO, DIX-HUIT ROSADO e CAR LOS AUGUSTO DE SOUZA ROSADO (na época Presidente da Assembléia Estadual), não se fizeram presentes a nenhum evento relativo a viagem pre sidencial, devido ao desacordo na indicação de JOSÉ AGRIPINO MAIA como candidato ao Governo do Estado.
Durante a campanha eleitoral, a família ROSADO apoiou ostensivamente a oposição, a partir da imposição da candidatura de JOSÉ AGRIPINO MAIA ao Governo estadual, em flagrante contestação política a liderança exercida pelo Sr TARCISIO MAIA e pelo PDS”.
Ao final o relatório afirma que a família Rosado coloca os interesses pessoais acima dos interesses partidários:
“A situação política de MOSSORÓ caracteriza-se pela supremacia dos interesses pessoais sobre os partidários. O Deputado Federal VINGT ROSADO atua de forma a que seu grupo seja beneficiado, mesmo que •-, a tal tenha que realizar negociações e conchavos políticos”.
A análise do documento não leva em consideração interesses da população. A prioridade são as questões do PDS, partido que substituiu a Arena como legenda da Ditadura Militar.
Nota do Blog: várias das observações do relatório constam no livro Os Rosados Divididos que retrata exatamente este período quando estava em curso o processo de racha político no principal clã político de Mossoró.
Nota de agradecimento aos leitores
Ontem o dia foi corrido e não sobrou o tempo, mas tudo acontece na hora certa e essa é a hora de agradecer a todos que estiveram presentes no lançamento do livro “Os Rosados Divididos: como os jornais não contaram essa história”.
Foi uma noite mágica.
Ver a presença de tanta gente querida, leitores que eu não conhecia e poder entregar os livros com dedicatórias a cada um de vocês fez valer a pena cada segundo de pesquisa realizada entre 2015 e 2016.
Só tenho uma palavra a dizer:
OBRIGADO!
Abaixo matéria produzida pela jornalista Sâmya Alves para o jornalismo TCM sobre o lançamento do livro “Os Rosados Divididos: como os jornais não contaram essa história” escrito por este operário da informação que vos escreve.
Hoje fui o entrevistado no programa Cidade em Debate apresentado pelo colega Carlos Cavalcanti. Uma conversa sobre o livro “Os Rosados Divididos: como os jornais não contaram essa história”.
Abaixo a conversa na Rádio Difusora.
Escrever a dissertação de mestrado que se converteu no livro “Os Rosados Divididos: como os jornais não contaram essa história” foi o maior desafio de minha vida. Conciliar o trabalho com a pesquisa acadêmica não foi fácil. Mas a criança nasceu e foi aprovada pela banca coordenada pelo professor Dr. Lemuel Rodrigues, a quem coube a orientação do trabalho.
Dissertação aprovada, título de mestre garantido, restava ir além. Transformar a pesquisa em livro. Mas para isso eram necessários alguns ajustes. Eliminar os trechos mais teóricos era o mais óbvio. Mas eram necessários alguns ajustes de linguagem e uma nova revisão. Isso foi feito. Agora, 14 meses após a defesa acadêmica, o livro está pronto.
Não posso deixar de destacar uma pessoa fundamental para que o projeto desse certo: minha esposa Ianara Brasil. Foi ela quem planejou o lançamento em cada detalhe, quem revisou o livro quando eu não tinha mais paciência e encontrou os erros que ninguém achou deixando o trabalho mais agradável ao leitor. Não posso deixar de agradecer ao escritor Clauder Arcanjo pela disponibilidade em conceder o Selo Sarau das Letras ao meu trabalho.
O livro foi fruto de um ano pesquisa. Li mais de duas mil edições da Gazeta do Oeste e O Mossoroense. Um trabalho cansativo tanto mentalmente quanto fisicamente. Não é tarefa simples trabalhar com fontes primárias. Requer disciplina, sacrifício e muita paciência para achar nas entrelinhas uma história que ninguém queria contar na época. Mas entre 1980 e 1988 achei muita coisa nos mínimos detalhes.
Quem ler o livro encontrará muitas respostas para histórias que se perderam no tempo, limitadas pelas lembranças, deturpações e traições que a memória sempre nos apronta.
Quando os Rosados se dividiram politicamente? Como foi o processo? Quando tivemos o primeiro embate Rosado x Rosado? Como foi? Na eleição de 1988 Rosalba Ciarlini só venceu quando recebeu o apoio de Dix-huit Rosado?
Essas são perguntas que serão respondidas ao longo da leitura. Também terão passagens sobre episódios tensos da política potiguar nos anos 1980 como o “Pacto da Solidão” e “Voto Camarão”.
Teremos a emergência de vários resultados eleitorais dos anos 1980 esquecidos na memória de nosso público.
Escrevi esse trabalho não só para que ele seja lido e reconhecido, mas também para ser alvo de contestação. A história está aí para ser ponto de partida para novos estudos e aprofundamento de um tema jamais avaliado em nível acadêmico. É preciso uma pesquisa no campo da oralidade ouvindo os personagens ainda vivos que tem muito a contar. Talvez eu faça, talvez seja outro. Mas é uma lacuna que ficou por uma questão de delimitação de tempo e tema.
Que surjam novos trabalhos sobre esse tema e vamos ao debate. Aguardo vocês no Memorial da Resistência na quinta-feira, dia 21, às 19h30.