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Balanço de Curto Prazo

Por Thiago Medeiros*

Atualmente, os eventos se sucedem em uma velocidade difícil de acompanhar. Para citar apenas alguns dos mais relevantes, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assume em pleno pico de óbitos decorrentes da pandemia; o ex-presidente Lula entra no jogo sucessório; o novo auxílio emergencial será menor que o de 2020, e só começará a chegar aos que dele necessitam em abril; a inflação mostra sinais de vida; e a demora na aprovação do orçamento de 2021 deixa o governo sem recursos para pagar os servidores já no próximo mês.

Mas não só de notícia ruim vive o homem, também tivemos recorde na geração de emprego com carteira assinada em janeiro. Além disso, nosso Agro – que sempre dá show! – em poucos anos vai superar os EUA. Porém, vamos concordar: hoje em dia, a positividade está bem atrás do mar negativo. Uns perdem familiares, outros perdem empregos, outros perdem suas empresas, existem aqueles que perdem a moral, a ética e até votos, ou melhor, a admiração como líder.

Tudo nesse momento é tão relativo que até uma das maiores ações humanitárias e políticas até agora, isto é, um decreto em conjunto do Governo e Prefeitura, onde parecia que, por enquanto, a briga política tinha cessado em nome de uma ação para combater de forma firme o Covid, já mudou tempos após a anunciação. Álvaro já sinaliza, através de um novo decreto, que vai manter aberto tempos religiosos e academias, opa informação foi atualizada. O prefeito por força dos Ministérios Públicos volta atrás e as academias não vão abrir. É confusão para todo lado, uma insegurança para população e para o empresário e empregados.

Entramos, pois, numa nova era, na qual Brasil e RN vão precisar se reinventar, mas acredito que somos bons nisso. Tempos que precisaremos sonhar e também realizar. Acreditarmos que haverá mais paz, mais tempo e mais saúde, mais empatia, mais amor e mais solidariedade. Falo isso com todos, não adianta atacar o outro só porque não tem o mesmo pensamento. Empatia não tem a ver com dominação; se trata, na verdade, de entender a posição daqueles que querem suas empresas abertas ou que desejam garantir seu emprego, seja por amor ou dependência. Aliás, você sabe o que é ficar desempregado, ou não ter dinheiro para alimentar aqueles que você ama? Pois é, vamos pensar nisso antes de criticar alguém.

Vamos nos mobilizar para ajudar. Cada um fazendo sua parte e cobrando como for possível daqueles que detém o poder para que tenhamos uma luz no fim do túnel. É hora não só de cobrar dos prefeitos e governadores, vamos entender como as Câmaras Municipais e Assembleia Legislativa podem ajudar. Precisamos de um plano urgente de retomada da nossa economia.

É necessário que a dor, a angústia e o medo acabem nos impulsionando na luta por uma resistência.

 

*É Publicitário e Sociólogo.

Este artigo não representa necessariamente a mesma opinião do blog. Se não concorda faça um rebatendo que publicaremos como uma segunda opinião sobre o tema.

 

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Foro de Moscow 12.03.2021 │ A pressão dos empresários locais sobre o toque de recolher

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A vida e o direito de ir e vir

Por Luiz Antonio Marinho da Silva*

A liberdade de expressão é um bem jurídico sagrado. Pedra de arrimo da democracia. Durante vinte e um anos esse direito foi suprimido. Jornais censurados, telenovelas mutiladas, peças teatrais tesouradas, canções picotadas, opiniões tolhidas, palavras caladas.

Tempos arbitrários.

A Constituição Federal de 1988 afastou as trevas, refez a luz. A cidadania alçou centralidade. Ulisses Guimarães bradou: Constituição Cidadã.

É exercício de cidadania proteger a si próprio e aos seus semelhantes nessa quadra duradoura de pandemia.

Sentir a dor alheia. Empatia. Nem precisaria de ato da governadora Fátima Bezerra e de outros governadores do Brasil para ficar em casa ou limitar a saída às ruas com um vírus matador à espreita.

É ato de solidariedade humana, de amor ao próximo, Independentemente de credo ou religião.

Pouco importa se cristão, muçulmano, de direita, de esquerda, de centro. Há um bem maior a ser protegido. A vida. Sem vida não há economia, disse ontem um ministro. Disse o óbvio, mas o óbvio às vezes é preciso ser dito. O óbvio ululante.

O direito de ir e vir em uma pandemia que já caminha para doze meses e uma tsunami de lágrimas pelas vidas arrebatadas, com uma nova onda avassaladora, merece mitigação.

O Governo do Rio Grande do Norte, a exemplo de outros estados – muitos deles com medidas ainda mais rígidas – não podia ficar omisso. Não pode prevaricar. É dever constitucional do Estado zelar pela saúde e pela vida do cidadão.

Bem disse o meu professor, e de muitos, jurista Ivan Maciel, em seu artigo “A tragédia e o jogo político”, publicado na Tribuna do Norte: “Diante da catástrofe que se abateu sobre o nosso país, a omissão representa conivência com o vírus.”

*É Procurador-geral do Estado do RN.

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Não há “dois lados” sobre a ivermerctina: cassar o direito à mentira sem contestação pública seria a principal contribuição da imprensa local contra a pandemia em Natal

Por Daniel Menezes*

Em recente pronunciamento na assembleia legislativa do RN, o deputado estadual Albert Dickson disse que o tratamento profilático com ivermectina possibilita que em 90% dos casos as pessoas não cheguem até a condição severa da covid-19 (leia aqui). Ora, o detalhe é que quem não toma também e sabemos disso desde meados de 2021, quando toda a evolução da doença, taxa de letalidade, grupos de risco, etc, já estavam bem mapeados e devidamente publicados na imprensa mundial (leia aqui).

Em recente manifestação da associação médica do RN, em defesa da ivermerctina e da cloroquina, foi dito que a ivermectina diminui em até 75% a morte por covid. Também fez outras afirmações e citou como referência o c19study (leia aqui).

Não há nenhuma pesquisa que mostre esse dado de queda na letalidade, conforme já foi desmentido por agências de checagem nacional. A informação circulou em grupos de zapzap e até inicialmente em parte da imprensa mais próxima do bolsonarismo (rede Record) há meses atrás, mas os próprios pesquisadores autores do estudo disseram que não era bem assim e toda a imprensa divulgou que o dado não procedia (leia aqui).

A referência bibliográfica c19study, por sua circulação no mundo virtual bolsonarista, já foi objeto de várias matérias, demonstrando que não é site científico e que as metodologias dos textos lá publicados são duvidosas e não revisadas por pares. Na prática, tem valor científico zero (leia aqui).

A prática local de amparar dados em fontes não confiáveis e dados falsos não vem de hoje. Em julho, quando a prefeitura do Natal e membros do comitê científico comemoraram Natal como um sucesso mundial e creditavam a ivermerctina (leia aqui), a cidade tinha índices de casos e óbitos maiores do que a média nacional e do RN. No fim do primeiro pico em junho, a capital chegou a concentrar quase a metade dos óbitos do RN apesar de contar com 24% da população (leia aqui e aqui). São apenas alguns exemplos.

Se você abriu os links que comprovam o que foi publicado aqui, caro leitor, perceberá que a mentira é publicada na imprensa local e a verdade toda vem de portais nacionais. O doisladismo jornalístico, já abandonado fora das terras de poti, ao menos no que tange as promessas fake de tratamento e cura contra covid, segue com toda força no RN. Não há uma generalização, mas a afirmação que segue como linha hegemônica. E pior. Abrindo mão da apuração e contestação das fontes e dados mobilizados por determinado grupo de atores.

É essa postura, que mesmo após tudo o que já foi veiculado sobre o assunto, faz com que órgãos de imprensa local continuem a legitimar uma falsa sensação de segurança contra o novo coronavírus que leva ao relaxamento daquilo que de fato funciona por um tipo de profilaxia inexistente, pois que já negado por cientistas, agências de saúde do Brasil e do mundo e até por fabricantes.

Não há dois lados legítimos nesse debate. O que existe é um grupo que apostou numa saída, sem qualquer fundamento necessário para uma intervenção em massa como a que foi tentada em Natal, que nunca se comprovou. Pelo contrário. E agora usa de falsos números, referências não científicas e até de teorias conspiratórias para manter algo sem fundamento no ar e não sofrer as devidas críticas pela irresponsabilidade.

Só há portanto uma verdade: não há qualquer evidência que essa proteção medicamentosa contra Covid-19 exista.

É comum ler e ouvir que é preciso dar voz aos médicos e autoridades. E ora isto faz todo sentido. Vivemos numa democracia e ninguém deve ser calado. Só que o fato do jornalista ou comunicador não ser um cientista, não o impede de fazer aquilo que fora treinado pra executar – apurar. E, convenhamos, há mais de um ano que toda a imprensa profissional e a academia estão publicando freneticamente boas informações sobre o assunto. Não há mais a ideia de se dizer leigo diante do que exatamente a pandemia é capaz, principalmente para quem vive do consumo diário da informação.

Cassar o direito a enganação pública dos negacionistas, confrontando-os em seus discursos com pés de barro, na apresentação de dados sem qualquer base e outras peripécias seria a principal contribuição da imprensa local contra a pandemia em Natal. A falsa sensação de segurança prometida matou no passado e continuará a matar mais se mantida sem contestação.

*É sociólogo e professor da UFRN

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“Salvar a economia” foi discurso na pandemia. Mas por que não foi na Lava Jato?

bolsonaro e moro
A Operação Lava Jato não apenas cumpriu sua missão de criminalizar o PT, como também foi cirúrgica no desmonte de um importante setor da economia brasileira – Sergio Lima/AFP

Por Juliane Furno

Recentemente ouvi o economista Eduardo Moreira fazer esta pergunta em relação à reação conservadora ante as políticas de isolamento social contra a pandemia e resolvi tentar respondê-la, aproveitando o ensejo sugerido pelos acontecimentos recentes, após novos vazamentos do The Intercept a respeito da cooperação entre o FBI e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) do Paraná e a atual disputa entre a força tarefa da Lava Jato e a Procuradoria Geral da República (PGR).

Que a operação Lava Jato, do ponto de vista jurídico, atuou relativizando diversas garantias constitucionais e como um Partido político, parece ter ficado bastante explicitado – principalmente após os últimos vazamentos de mensagens. O agora ex-juiz Sérgio Moro não apenas investigava, bem como orientava Procuradores da Repúblicas sobre como proceder nos casos de investigações de Operação da qual ele próprio figurava como juiz.

No entanto, um tema pouco trazido à baila parece ser que a operação Lava Jato não apenas cumpriu sua missão de criminalizar o PT, como foi cirúrgica no desmonte de um importante setor da economia brasileira.

Da forma como foi conduzida a operação, fica perceptível que o interesse da “República de Curitiba” não era acabar com a corrupção, senão que destruir um dos nossos maiores patrimônios, que é a Petrobras e toda a cadeia produtiva de empresas nacionais a ela relacionada.

Neste caso, para os conservadores que bradam contra o isolamento social, evocando “a defesa da economia, empresas e empregos” não valeu a máxima “primeiro precisamos salvar a economia”.

Sob a denúncia de que os totais extirpados da Petrobras nos diversos esquemas de corrupção somavam os vultuosos R$ 6 bilhões, operou-se uma paralisia que retirou da economia, segundo dados, nada menos que R$ 146 bilhões entre 2014 e 2015. Do ponto de vista da contração do emprego não foi diferente. Neste mesmo período, o setor da Construção pesada dispensou um milhão de trabalhadores diretos, resultado da paralisia das atividades, principalmente, dos setores metalomecânico, naval, construção civil e engenharia pesada.

Os dados dessa tabela, considerando apenas os trabalhadores diretamente vinculados a produção industrial e de serviços de engenharia entre as empresas fornecedoras da Petrobras dá a tônica do escândalo. Entre 2014 e 2016, enquanto o desemprego elevou-se 6% no Brasil, o desemprego entre trabalhadores da produção de empresas fornecedoras da Petrobras despencou 31%.

Aos trabalhadores contratados diretamente na atividade industrial e de serviço especializado estão relacionados, pelo menos, mais uma diversidade de trabalhadores, alocados nas atividades de apoio, como secretários, contadores, faxineiros entre outros.

Assim, aos dirigentes da operação, bem como aos setores que acriticamente a apoiavam, pouco importava que os impactos econômicos e sociais da desastrosa ação anticorrupção fossem muito mais danosos aos cofres públicos do que a parcela alienada em contratos superfaturados. Valia qualquer coisa para retirar o Partido dos Trabalhadores da arena política e “combater a corrupção”. Ao não separar a Pessoa Física da Pessoa Jurídica, buscou-se “combater a corrupção” sem levar em consideração a função social da empresa e sua preservação, no transcorrer de investigação criminal que a envolvesse.

O resultado da criminalização e do punitivismo com que foi levada adiante a operação Lava Jato – à revelia das garantias legais do processo penal e com apoio de setores da mídia – nos logrou como herança a destruição do mercado nacional de infraestrutura e a abertura de condições plena a sua internacionalização. Bom negócio para outras empresas concorrentes, que por coincidência, são de residentes do país que se descobriu amalgamado e relações indecentes com os nossos procuradores.

Assim, a Lava Jato, além de servir como sustentação política ao processo de criminalização do PT e inviabilização do seu principal candidato por meio da instrumentalização da Justiça, também operou como preposto aos interesses estadunidenses e de suas empresas, atuando para destruir um dos pilares do desenvolvimento econômico brasileiro recente e dos poucos setores não primarizados onde detínhamos níveis de competitividade internacional.

Não funcionou o “salvar a economia” na Lava Jato justamente porque o que estava por trás da operação era o esfacelamento do nosso parque produtivo local e de um projeto soberano e nacional de desenvolvimento. A operação Lava Jato foi uma resposta a uma política exitosa de condução soberana do setor de petróleo e gás. Foi uma resposta à atuação, inclusive internacional, das construtoras brasileiras e uma resposta – tipicamente assentada no imperialismo yankee – de “cortar” as assas de governos que ultrapassam a tênue linha da autodeterminação nacional.

Na pandemia, o argumento “em defesa da economia”, no entanto, serviu a toda espécie de reacionarismo e obscurantismo que em última instância servem, como sempre, a obstrução do nosso desenvolvimento. Na medida em que por meio dele se negou a gravidade do problema e a necessidade do Estado intervir, para salvar empregos e empresas, como deveria ter feito aliás, ao tempo da ilegal e desastrosa operação.

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Foro de Moscow 157 │ O QUE ESPERAR DE FÁTIMA NAS ELEIÇÕES E PÓS-PANDEMIA?

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Foro de Moscow

Foro de Moscow 143 │ POR QUE INSISTEM EM FESTAS NA PANDEMIA?

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Vírus no Ar, Políticos In Vitro e Gripes In vivo: Em 100 anos o que mudou?

Por José Dias do Nascimento*

Durante o outono de 1918, a comunidade de Oshkosh sabia da chegada da “gripe espanhola” e que isto era inevitável. Eles não sabiam, no entanto, exatamente quando ou quem seria o primeiro a trazê-la para Oshkosh, uma cidade localizada no estado norte-americano de Wisconsin, no Condado de Winnebago. Naquela época, não se sabia sequer que a gripe era causada por um vírus, embora os cientistas e médicos estivessem trabalhando duro para encontrar uma forma terapêutica para tratar essa doença. A INFLUENZA — comumente chamada de “ A gripe” — foi e é uma das doenças mais graves que já atingiu a humanidade. Alguns autores dizem que foi, também, uma das mais letais. Registros mostram que mais vidas foram levadas pela INFLUENZA, do que todas as principais guerras mundiais juntas. Estes registros apontam para números entre 20 a 50 milhões. Esta gripe foi causa de muita perturbação social e altos custos econômicos e permanece, até hoje, como a pandemia mais destrutiva já conhecida, pois ainda não temos um comparativo com a COVID-19, que ainda segue. Para um entendimento geral do enfrentamento e inclusive, sobre o uso político da pandemia da gripe INFLUENZA, também chamada injustamente de Gripe Espanhola, recomendo fortemente o livro “A Grande Gripe”, de John M. Barry.

Pois bem, era 12 de outubro, parecia que tudo tinha parado em Oshkosh. A cidade, juntamente com muitas outras no país, tornou-se uma cidade fantasma sombria e silenciosa. Todas as escolas, igrejas, bibliotecas, casas de filmes e teatros foram fechadas. Reuniões públicas eram proibidas. Um toque de recolher ordenou que todos os bares, salões de bilhar, cafés e restaurantes fechassem às 17:00. Neste cenário estranho, o que se via era a ambulância puxada por um cavalo transportando pacientes com gripe, enquanto a ambulância motorizada era usada para transportar pessoas com outras doenças. “Máscaras de gripe” de gaze chegaram da Cruz Vermelha em 12 de outubro. Nestes dias, muitos de remédios contra gripe apareceram na imprensa. Eles outros incluíam óleo de cobra, laxante bromoquinina , cigarros sem tabaco Smoko, Vick Vapor Rub , geléia catarral de Kondon, leite maltado Horlick e muitos outros “remédios” sem comprovação científica sbre sua eficiência. Ao mesmo tempo, os farmacêuticos estavam preenchendo prescrições de heroína, morfina, cocaína e codeína para tratar a gripe. Uísque e conhaque também foram promovidos no combate à gripe. Um artigo intitulado “Gripe espanhola: o que é e como deve ser tratada” foi impresso mais de meia dúzia de vezes ao longo da epidemia. Aconselhava: “Vá para a cama e fique quieto, tome um laxante, coma bastante comida nutritiva. Mantenha sua força, a natureza é a cura. Sempre chame um médico”.

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Artigo intitulado “Gripe espanhola: o que é e como deve ser tratado” foi impresso mais de meia dúzia de vezes ao longo da epidemia. Aconselhava: “Vá para a cama e fique quieto, tome um laxante, coma bastante comida nutritiva. Mantenha sua força, a natureza é a cura. Sempre chame um médico”.

Adolf O. Erickson, dono de uma loja de ferragens e professor de escola dominical em Winchester, registrou a gripe em seu diário. Ele escreveu que um médico injetou oito doses de óleo de cânfora diretamente nas pernas e braços de seu irmão para tratar a temperatura violenta causada pela gripe. Em 22 de outubro, uma vacina do Hospital Mayo foi distribuída em Oshkosh. Foi fornecida “gratuitamente”. Três inoculações, uma parte por semana foram recomendadas por um período de seis a nove meses para “confirmar imunidade”. Muitos foram vacinados, mas isso se mostrou ineficaz. Até 2 de novembro, cerca de 1.000 casos de gripe foram relatados em Oshkosh. Especulou-se que a propagação da doença estivesse sob controle e o número de novos casos estivesse diminuindo. O Departamento de Saúde (o que seria hoje uma secretaria de saúde pública) anunciou que iria suspender o isolamento e as proibições em breve se a situação continuasse melhorando. No dia das eleições, 5 de novembro, aconteceu o inadiável, escolha dos representantes políticos e isto tudo aconteceu sem uma única reunião política ou jantar de campanha. Pois é, eleição em meio à pandemia não é algo novo.

Enquanto isso, a Grande Guerra terminou. Para alívio de todos, o armistício foi assinado. O prefeito de Oshkosh, Arthur C. McHenry, suspendeu a proibição de fechamento noturno. Igrejas, casas de filmes, lojas e teatros reabriram. As escolas, no entanto, permaneceram fechadas. O prefeito comentou: “É o maior dia da história da humanidade. Em 11 de novembro, o armistício foi confirmado. Uma edição extra do jornal foi publicada. A polícia da cidade entrou no quartel dos bombeiros da State Street e começou a tocar a campainha. Uma festa. Cortinas foram levantadas. As luzes das casas estavam acesas. Os campanários da igreja tremiam e balançavam. Os sinos das escolas e dos bombeiros continuaram a tocar. O jornal acrescentou que, se houvesse alguém em Oshkosh que não fosse despertado, eles seriam surdos ou mortos como uma pedra. Os membros da comunidade em êxtase, se apressaram em se vestir e foram para a Main Street. Desfiles de “camisas de noite” eram evidentes. Durante a celebração, a comunidade esqueceu da gripe espanhola, infelizmente.Essa explosão pública “patrocinada” pela política contribuiu para uma segunda onda de gripe em Oshkosh. Ao comemorar o fim da guerra, os membros da comunidade criaram o ambiente perfeito para espalhar o vírus. Em 14 de novembro, o registro policial indicava um grande aumento no número de casos de gripe.

O prefeito McHenry, no seu desespero, deu ordens ao chefe de polícia Henry Dowling para aplicar rigidamente a ordenança de “não cuspir”, porque ele acreditava que isso poderia ser um fator que contribuiria para a propagação da gripe na comunidade. Um cidadão alegou ter contado 108 marcas de expectoração na calçada entre a Algoma e Church Street.

AComissão de Professores do Conselho Escolar anunciou que as escolas seriam reabertas na segunda-feira, 20 de novembro. Vários pais escreveram cartas ao editor do The Daily Northwestern, expressando preocupação em permitir que seus filhos frequentem a escola com uma epidemia ainda em andamento. Essas preocupações levaram a proibição da cidade a permanecer em vigor. À medida que a festa de Natal se aproximava, grinaldas negras foram colocadas nas portas das casas onde cidadões inocentes haviam morrido.

Tão logo os casos de gripe começaram a declinar durante a segunda onda do surto, outra doença se espalhou para Oshkosh-varíola. Em 26 de novembro, foi anunciado que o Departamento de Saúde colocou em quarentena 11 indivíduos atingidos por varíola. Felizmente, uma vacina potente estava disponível e medidas efetivas foram tomadas imediatamente pelo comissário de saúde atormentado.

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A ambulância puxada a cavalo da cidade de Oshkosh que foi reativada para transportar pacientes com gripe. A ambulância motorizada era usada para transportar pessoas com outras doenças [Reproduzida com permissão do Museu Público de Oshkosh, Oshkosh, Wisconsin. Todos os direitos reservados].

Asrestrições da gripe foi finalmente retirada em 29 de novembro e as escolas reabertas em 3 de dezembro. Crianças com fungos não tinham permissão para comparecer. No primeiro dia em que as aulas foram retomadas, a participação foi de 75%. A biblioteca foi lavada e todos os livros esterilizados. Os teatros ventilavam suas salas entre as apresentações. Em 11 de dezembro, o jornal informou que havia um total de 2.083 casos de influenza até o momento e que estava acontecendo uma queda acentuada no número de casos. As flores continuaram escassas e uma forte demanda por flores artificiais era o que se via nos funerais. Em 26 de dezembro, a quarentena da varíola foi retirada e doze indivíduos foram liberados desta quarentena. Um dia depois do Natal, a epidemia parecia diminuir, de fato. Dizia-se que neve e frio eram o antídotos. Na verdade, o frio e a neve contribuíram para que um grande número de indivíduos permanecessem em suas casas, diminuindo assim o número de contatos. A oportunidade de espalhar o vírus influenza foi reduzida e as pessoas desenvolveram imunidade. O vírus, de fato, foi controlado, e o contágio diminuiu nos meses seguintes e as mortes foram registradas até maio de 1919.

Em retrospecto, examinando a epidemia no condado de Winnebago, percebe-se o estresse da comunidade. Por exemplo, os registros de óbito do Northern Hospital foram arquivados com até três meses de atraso durante esse período. Percebe-se preocupações expressas com relação a isto nos jornais. A epidemia durou de 5 de outubro de 1918 a maio de 1919. No condado de Winnebago, 182 pessoas morreram, a maioria entre outubro, novembro e dezembro de 1918. Das 182 mortes, os números podem ser divididos em 110 residentes em Oshkosh, 30 residentes em Neenah, 16 residentes em Menasha e 26 indivíduos de cidades e municípios vizinhos. A gripe tirou a vida de reparadores de automóveis, fabricantes de charutos, operários, motoristas de bondes elétricos, fabricantes de vagões, cortadores de carne, leiteiros, donas de casa, balconistas, vendedores, pedreiros, mineiros, maquinistas, padeiros, agentes de seguros, enfermeiras, crianças em idade escolar, revendedores de tecido, telegrafistas, fabricantes de papel, marceneiros, guarda-livros, fazendeiros e operários. Outras 46 mortes provavelmente estavam relacionadas à gripe e poderia ser comprovada se alguém examinasse cuidadosamente os registros de morte. Relatar o número de casos e mortes foi difícil.

Muitos indivíduos morreram em hospitais. Durante esse período, havia sete hospitais em Oshkosh. O número de mortes tabuladas foram: Alexian Brothers Hospital (1); Hospital de Emergência (4); Hospital da Misericórdia (7); Northern Hospital, também conhecido como Insane Asylum, (15); Hospital St. Mary (5); Hospital do lado sul (2) e Sanatório de isolamento da Sunny View (3). O Hospital Theda Clark, em Neenah, perdeu 17 pacientes com a gripe espanhola. Curiosamente, a maioria dos indivíduos que morreram em Theda Clark não eram residentes do condado de Winnebago. A maioria era de parentes visitando pessoas, vendedores viajando para outros destinos. Houve muitos relatos de médicos morrendo nos EUA. Felizmente, nenhum dos médicos do condado de Winnebago sucumbiu à gripe espanhola. Alguns estudantes de enfermagem do Hospital da Misericórdia morreram de gripe e muitos que saíram para dar assistência aos soldados doentes em campos de treinamento morreram de gripe nos campos, junto com os militares. Um total de 108 militares de Oshkosh morreram durante a Primeira Guerra Mundial. Trinta e três deles morreram de gripe ou pneumonia. No total, 55 condados de Winnebago, soldados da Primeira Guerra Mundial e 1 marinheiro sucumbiram à gripe ou pneumonia. Metade desses militares morreu em campos de treinamento em casa ou na Europa. A outra metade morreu de gripe enquanto lutava no exterior.

Agripe provavelmente contribuiu para o estresse fisiológico adicional. Por exemplo, o número de natimortos e mortes prematuras de bebês aumentou de 28 (em 1917) para 42 (em 1918) e os meses de pico com mortes foram entre outubro e novembro. Houve também quatro suicídios em outubro e novembro de 1918. A sensação de desamparo e trauma era evidente. Os meses de outubro e novembro de 1918 geraram um “pico” pronunciado quando se reunia todos os tipos de dados estatísticos no condado de Winnebago.
Vários residentes do condado que sobreviveram à epidemia de gripe de 1918 estavam dispostos a serem entrevistados para um estudo realizado pela faculdade e estudantes da UW-Oshkosh durante a primavera de 2001. Muitos mencionaram que eles não falavam sobre esse período porque era terrível a lembrança. Agora, oitenta anos depois, se sentiam à vontade para conversar sobre isso e compartilhar com a comunidade. Muitos comentaram sobre os remédios usados ​​para tratar a gripe. Alguns perderam pais e irmãos. Alguns se sentiram culpados, acreditando que haviam trazido a gripe para casa da escola; eles testemunharam os sintomas terríveis nos adultos ao seu redor. Nenhum foi capaz de compreender o escopo da epidemia de gripe nas comunidades vizinhas ou no país como um todo. Vários falaram de mortes por influenza que ocorreram em 1920, no ano seguinte. Durante os meses de janeiro e fevereiro de 1920, houve 49 mortes relacionadas à influenza no condado de Winnebago (31 delas eram residentes de Oshkosh). A gripe produziu os mesmos efeitos de deterioração que os de 1918, mas foi limitado ao período de dois meses.

Hoje, os cientistas continuam trabalhando na charada do motivo pelo qual o vírus da influenza de 1918 se mostrou tão letal e perigoso. A Medicina e a tecnologia já mudaram muito e rapidamente. A mudança dos padrões de movimento das pessoas em todo o mundo via viagens aéreas dificultaria a contenção de uma outra gripe e isso foi mencionado no pós 1919. Foi organizada uma reunião envolvendo 200 especialistas, realizada na Academia Nacional de Ciências de Washington, DC, em 1999, para desenvolver um plano que agilizasse a vigilância e a intervenção da gripe em escala internacional. Esperava-se que o conhecimento adquirido com o estudo desse vírus perigoso em 1919 pudesse ser aplicado e usado para prevenir ou, pelo menos, prever o surgimento de novas cepas de influenza com potencial pandêmico.

Epílogo: A guerra acabou e pandemia passou. Alguns prefeitos não foram eleitos, porém entraram para a história com suas medidas anti científicas. Charlatões** foram ridicularizados devido às suas promessas com base em remédios “estranhos” mesmo para 1919. Tudo isso aconteceu em Oshkosh, uma cidade localizada no estado norte-americano de Wisconsin, no Condado de Winnebago entre 1919 e 1920.

*É professor da UFRN.

(**) Charlatão de acordo com “Oxford Languages”

1. Mercador ambulante que vende drogas e elixires reputados milagrosos, atraindo e iludindo o público.

2. por extensão curandeiro que diz possuir remédios milagrosos.

Bibliografia

  • Tradução parcial do Artigo “Spanish Influenza Strikes the Oshkosh Community in 1918”. Parte do Projeto THE “FLU PROJECT”: A MULTIDISCIPLINARY LEARNING EXPERIENCE AT UW OSHKOSH
  • 1918 Influenza: A Winnebago County, Wisconsin Perspective. T. Shors, and S. H. McFaddenClin Med Res. 2009 Dec; 7(4): 147–156. doi: 10.3121/cmr.2009.863

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Carnaval pós-pandemia: “E o mundo não se acabou…”

Imagem: Carmen e a “espanhola”
Por Rafael Silva*

O carnaval é a festa do povo brasileiro, cartão postal da cidade maravilhosa, uma celebração que transborda as vontades e frustrações da sociedade brasileira. Se essa é a realidade em tempos normais, o que esperar de um carnaval pós-pandemia? Vamos ter que esperar – ansiosamente – para ver, mas o Rio de Janeiro já viveu essa experiência certa vez no passado. A canção Gripe Espanhola foi o sucesso de um dos maiores carnavais de todos os tempos, onde as pessoas pareciam se vingar da dor sentida durante a pandemia da chamada “gripe espanhola”, que matou mais de 15 mil pessoas só no Rio de Janeiro.

Charge da Gazeta de Notícias mostra a chegada da gripe espanhola ao Brasil, setembro de 1918.

A doença chegou ao Brasil em setembro de 1918, num contexto de guerra mundial e grande devastação da Europa. O impacto foi sentido em especial no Rio de Janeiro, que mesmo sendo a capital do país, não tinha estrutura sanitária alguma para lidar com a pandemia. Nem a cachaça, nem os purgantes, nem todo tipo de receitas milagrosas foram eficazes contra a nova doença, e os leitos rapidamente se esgotaram nos hospitais. Um cenário de caos social se instaurou na cidade. Nelson Rodrigues, que tinha 6 anos na época, lembra da situação em uma de suas crônicas:

“Foi uma tragédia, amigos, uma tragédia. Houve na cidade uma enchente de caixões. Pergunto: Quem não morreu na espanhola?”

Capa da Gazeta de Notícias, outubro de 1918.

O Rio de Janeiro já possuía uma forte tradição cultural, em suas diversas facetas, na música, na boêmia, no estilo de vida do carioca. O início do século XX demarcou as origens do samba, numa mescla de tradições vindas do século anterior. Nesse contexto foi composta Gripe Espanhola, um maxixe de Caninha lançado em outubro de 1918, na tradicional Festa da Penha, onde era testada a popularidade das novas composições. Seu primeiro grande sucesso abriu espaço para integrar diversos grupos tradicionais do Rio, rivalizando com o compositor Sinhô nos concursos musicais da época.

“A Espanhola está aí, a Espanhola está aí; A coisa não está brincadeira; Quem tiver medo de morrer; Não venha mais à Penha”

O melhor carnaval de todos os tempos

Apesar da recomendação de Caninha, o carnaval chegou com tudo. Diversos blocos e bailes foram organizados, o comércio estava infestado de produtos de todo tipo. Máscaras, lança-perfume, miçangas, fantasias. Os jornais da época registraram inúmeras atividades carnavalescas. A euforia tomou conta das ruas, naquele que foi considerado o maior de todos os carnavais.

Num clima de pandemia e guerra mundial nunca visto antes, assolando o país de uma forma terrível, o carnaval cumpriu seu papel de canalizador do espírito genuinamente popular. Todos os medos e traumas foram “superados” em meio às festividades, ritmos e cores do primeiro carnaval pós-pandemia. Nelson, mais uma vez ele, sentenciou:

“A morte vingou-se, repito, no carnaval… e tudo explodiu no sábado de carnaval.”

Texto enviado por https://opartisano.org/

 

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Sesap realiza chamada pública para contratação de empresa de locação de câmara mortuária

De acordo com o edital, um dos contêineres será colocado no pátio do Hospital Giselda Trigueiro – Foto – InterTV Cabugi

A fim de evitar possíveis ameaças à saúde pública devido à pandemia do novo coronavírus, a Secretaria da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN) está convocando empresas especializadas na prestação de serviços referente a contratação emergencial de empresa especializada na locação de contêineres refrigerados para o armazenamento de corpos de pessoas que vierem a falecer vítimas da Covid-19, em caráter emergencial por até seis meses. A segunda chamada do edital de convocação foi publicada na edição Nº 14.703, do Diário Oficial do Estado, de 4 de julho de 2020.

De acordo com o edital a contratação se refere a dois contêineres a serem instalados no pátio do Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, e no pátio do 2º Batalhão de Polícia Militar do RN, em Mossoró. O resultado da licitação será no dia 9.

Segundo a assessoria de comunicação da Sesap, o processo foi iniciado em 30 de março deste ano, mas não ocorreu contratação e houve necessidade de ser aberta uma nova contratação emergencial.

“Trata de um planejamento da Sesap debatido desde o início da pandemia e que está sendo colocado em prática e devido a uma necessidade do Hospital Giselda Trigueiro. Ocorre que enquanto a câmara mortuária estiver alugada, a unidade construirá o seu necrotério”, informou a assessoria de comunicação da Sesap.

“A proposta é que a câmara mortuária seja instalada no 2º Batalhão em Mossoró. O local foi escolhido pois tem amplo espaço, segurança e também porque é próximo tanto ao Hospital Regional Tarcísio Maia e ao Hospital São Luiz”, acrescentou.

A assessoria informou que a instalação dos equipamentos não alterará a forma de liberação dos corpos.

Com relação a Mossoró, de acordo com a gerente da II Unidade Regional de Saúde Pública (II URSAP), Emiliana Bezerra, a medida está sendo pensada porque, como a regulação de leitos acontece em nível de Estado, se ocorrerem vários óbitos no mesmo dia de pacientes de cidades em que a realização do transporte do corpo demore, haverá um local para os corpos ficarem até que o transporte aconteça. A gerente afirmou que até o momento não foi preciso ficarem vários corpos no necrotério do Hospital Tarcísio Maia ou do São Luiz.

Emiliana Bezerra ressaltou que até o momento não houve problemas, a medida é para o caso de acontecer uma eventualidade e é algo feito como trabalho planejado. Ela mencionou também que o contêiner, que ainda não está em Mossoró, poderia ter sido instalado há mais tempo, mas existe toda uma burocracia.

“A gente não está trabalhando na perspectiva de haver esse número de mortes”, afirmou. Ela acrescentou que é uma precaução e que se houver necessidade não há como improvisar um contêiner em uma noite. Pode ser que o contêiner não precise ser usado.

Atualmente, os corpos das vítimas de Covid-19 ficam nos necrotérios dos hospitais Tarcísio Maia e São Luiz. A gerente da II URSAP explica que o cuidado ocorre no manejo do corpo. Ela informa que o caixão tem que ser lacrado e não há velório.