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Psicóloga aponta como racismo interfere em crianças e adolescentes negras

Mariana Oliveira é psicóloga (Foto: Divulgação)

Recentes casos de racismo traz para o centro das discussões o seguinte questionamento: Como a sociedade brasileira lida com esse problema?

A psicóloga do Hapvida, Mariana Oliveira, ressalta que a sociedade ainda enfrenta muitos desafios na superação desse problema social, e, isso se deve a uma não reflexão do racismo enquanto um problema estrutural.

“A sociedade não lida como deveria. O racismo no Brasil é uma questão estrutural desde o processo de colonização. Assim, é importante reconhecer que existe o movimento de negação, de desconhecimento sobre história. Existe um movimento de negação que afasta até mesmo a identificação de que existe o problema. A juventude negra é a que mais ocupa as prisões, os subempregos e as taxas de homicídios. E muitas vezes esses dados ainda são tratados como se fosse uma infeliz coincidência”, assevera.

Ainda segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre o racismo no Brasil, apesar dos 87% dos entrevistados acreditarem que há racismo no Brasil, apenas 4% destes se reconhecem como racistas. Isso ainda aponta um dos principais obstáculos para a superação do preconceito racial. Dados estarrecedores da Cartilha de Óbitos por suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros, lançada pelo Ministério da Saúde (MS), aponta que a cada 10 suicídios de jovens, 6 são negros. Segundo uma das especialistas responsável pela cartilha, esse dado é resultado do racismo estrutural que tem provocado sofrimento e adoecimento aos jovens e crianças negras.

“O racismo causa impactos danosos no ponto de vista psicológico e social de crianças e adolescentes. É nessa fase que o caráter vai sendo construído e as referências e juízo de valor são registrados no nosso consciente e no inconsciente. A criança aprende observando os adultos ao seu redor, ela pode aprender a discriminar e reproduzir no ambiente escolar entre outras crianças. A prática do racismo e da discriminação racial é uma violação de direitos e é um crime inafiançável, previsto em lei”, ressalta Mariana.

Para a superação desse problema, é fundamental trabalhar a autoestima entre as crianças e adolescentes, promover momentos de afeto, além da importância do resgate da história afro-brasileira.

 

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Impor limites aos filhos é um bem necessário

Por Ludmila Santoro*

Impor limites aos filhos é um bem necessário, principalmente na infância, pois é um ato essencial para o crescimento e desenvolvimento interpessoal de crianças e jovens. Para manter uma relação positiva e concreta entre pais e filhos é preciso, muitas vezes, determinar regras saudáveis e fazer com que sejam cumpridas. É possível que, em determinadas situações, a tarefa de estabelecer limites pareça árdua e desgastante, mas se for desempenhado de forma objetiva, o vínculo de respeito e compreensão se fortalecerá naturalmente.

Apesar de ser proibida no Brasil, a “lei da palmada”, como é chamada popularmente, de número 13.010, deixa claro a inibição do uso de castigo físico que seja cruel e degradante contra a criança e adolescente, mas, infelizmente, ainda faz parte do arsenal educativo cultural do nosso país.

Recebo com frequência, em meu consultório, pais que ainda acreditam que podem sustentar a educação e relação de respeito por meio de algumas “palmadas”. Mas, do ponto de vista da psicologia, essa prática é equivocada, pois limita a capacidade cerebral das crianças.

A agressividade passada de pais para filhos

À medida em que a criança entende a dor como referência do que é limite, a agressão e o ato de bater tornam-se práticas naturais de se relacionar e solucionar conflitos, sejam entre amigos, familiares e até mesmo desconhecidos. Dessa forma, fica subjetiva a referência de como os pequenos podem agir diante de situações difíceis e, consequentemente, despertam a agressividade do aprendiz, o que não é eficaz a médio e longo prazo.

Ou seja, a famosa “palmada” funciona muito mais como alívio de tensão dos próprios pais. Nesses momentos, é recomendável que tente colocar o respeito pela imagem paterna e materna como primordial e não associar à agressão.

Faz parte do universo infantil e, eventualmente, também dos seres humanos, transgredir as regras.  Por isso, é preciso trabalhar, para que a criança tenha uma melhor noção e consciência dos limites impostos. O limite é realmente uma fronteira que cerca, é preciso apresentar à criança um espaço, para que ela esteja bem, que tenha o direito de fazer o que quiser e que consiga beneficiar de liberdades e permissões, norteando-a de forma firme e clara.

O que fazer em momento de tensão?

Então, pelo ponto de vista da psicologia e práticas saudáveis de impor e, o primordial, ensinar a seu filho a importância dos limites, deixo cinco dicas de como praticar isso no dia a dia.

1 – Instruir é mais importante que proibir

 As instruções que damos às crianças são bem mais eficientes do que proibir. O coibir vai ao contrário do que queremos, pois as desaprovações vão focar a atenção da criança no comportamento visto como problema, já a instrução vai focar a atenção no comportamento desejado.

Com certeza, a coibição será transgredida. Para enxergar com clareza, imagine que falar para a criança que é proibido correr ao redor da piscina, com certeza, alguns minutos depois, ela vai correr. Já, se explicar que ao correr na borda da piscina, ele ou ela pode escorregar e se machucar, obviamente que haverá uma reflexão por parte de quem está recebendo a informação.

Nesse cenário, as chances de haver uma ação contrária a que você instruiu é baixíssima, pois estará focando a atenção da criança no comportamento desejado, que é mais seguro não correr ao redor da piscina, ou seja, promovendo o aprendizado e não a proibição.

2 – Mantenha uma única palavra

Neste segundo ponto, é importante “economizar” palavras, com intuito de ser direto e firme com a criança. Mais uma vez, para entender melhor, imagine que combinou com seu filho que ele precisará sempre tomar banho ao chegar da escola, isso já está claro. Então, com apenas a expressão “banho”, a mensagem será compreendida e a ação realizada.

Com isso, não será necessário demandar o estresse da mãe ou do pai insistindo que o banho seja tomado, ação que leva ao desgaste da relação com os filhos. A atitude de ser sucinto, pode-se estender a outros eventos também.

3 – Responsabilizar é melhor do que gerar culpa

Como pais, é preferível pensas em responsabilizar a gerar culpa. Dessa forma, promover a reflexão por meio de perguntas realizadas diretamente às crianças têm um efeito mais positivo. Ela vai mobilizar o lobo frontal do cérebro, fazendo com que analise a situação, como no diálogo: “o que tem que fazer para não ‘sair voando’ do acento quando papai ou mamãe freia o carro no trânsito?”. Isso vai gerar novamente a reflexão e o senso de responsabilidade dos pequenos.

4 – Reflita sobre os porquês da punição

Será que realmente as punições e castigos agem de forma efetiva na educação? É importante lembrar que elas vão focar no sintoma e não na causa do problema. Por isso, é necessário haver um elo entre o comportamento realizado e a punição, senão, a criança de fato não aprenderá nada.

Precisamos fazer com que surja o sentimento saudável de culpa, sobre o ato inadequado. Por exemplo, se a criança pegar ou até mesmo furtar um bem material do amiguinho, precisamos fazê-la devolver, com a premissa de que o objeto não a pertence e introduzir os conceitos das normas que temos que cumprir na sociedade. Além disso, demonstrar que a ação efetuada terá uma consequência bastante grave.

 5 – O efeito do grito no cérebro da criança

Esse último ponto é essencial a ser abordado, pois gritos durante a infância podem ser altamente prejudiciais!

A recente pesquisa “Science direct – Child Abuse & Neglect”, realizada pela Universidade de Michigan, em setembro de 2017, informa que o ato de gritar promove o mesmo efeito de uma surra e que, crianças expostas a berros constantes têm chances maiores de se tornarem adolescentes envolvidos com drogas.

Isso acontece porque a fala mais alta e intensa ativa a área do medo no cérebro dos menores, ou seja, tal situação repetidas vezes pode, a longo prazo, desencadear distúrbios de ansiedade, entre outros problemas psicológicos.

O importante, em situações de conflito com os filhos, é lembrar que limites e regras são válidos para todos, independentemente da idade, e mostrar isso a eles fará com que entendam de forma fácil.

Socialmente, os pais precisam seguir as normas, da mesma maneira ocorre com os pequenos, claro que com características diferentes, pois ainda são crianças e estão em processo de aprendizagem e aquisição de responsabilidades.

*É psicóloga, pós-graduada em orientação familiar e psicoterapia breve pelo Instituto Sedes Sapientae.

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Psicólogos dão orientações para conter ansiedade na véspera do Enem

É preciso buscar atividades relaxantes antes do Enem (Foto: divulgação)

Na véspera das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os candidatos precisam não só controlar as expectativas, mas também as pressões e cuidar da saúde mental. Uma prova que reúne mais de 5 milhões de estudantes com objetivos semelhantes acaba gerando muita ansiedade e estresse nos participantes.

A ansiedade é uma reação que todo indivíduo experimenta diante de algumas situações do dia a dia, explicou o Psicólogo Robério Maia, acrescentando que esta reação pode comprometer a saúde emocional e mental.

O Psicólogo Robério Maia, membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-RN), afirma que “esse Exame é um dos desafios do começo da carreira profissional”. “Apesar de ser um momento importante, não deve haver pressão por um bom desempenho no Enem”.

De acordo com Rafael Ribeiro, presidente do CRP-RN, a expectativa, a autocobrança e a pressão social envolvidas nessa questão frequentemente têm efeitos psicológicos e físicos que afetam o desempenho do candidato na prova. “Junte isso ao medo da reprovação e o resultado é um candidato confuso, inseguro sobre suas escolhas e, como consequência, possivelmente ansioso não apenas nos que o antecedem, mas também na hora das provas”.

Para a Psicóloga Jéssica Luana, os pais têm papel importante nesta hora. “Os pais têm que entender que a pressão não ajuda. O que ajuda é eles acompanharem e conversarem, mas sem achar que uma bronca, uma exigência vai ajudar, pelo contrário”, orienta.

O Enem ocorrerá em dois domingos, 3 e 10 de novembro. Os portões do local de prova abrirão ao meio-dia (12h), pelo horário oficial de Brasília, e serão fechados às 13 horas.

Três dicas para essa data final:

1) Tenha uma boa alimentação;

2) Durma bem, pelo menos 8 horas por dia e

3) Aposte em atividades relaxantes;

“O modo como o sujeito lida emocionalmente com esse momento é o resultado do que foi construído ao longo do ano/vida. Portanto, essas dicas podem fazer sentido para alguns e não para outros. O ideal é procurar ajuda de um profissional”, lembra a Psicóloga Jéssica Luana, membro da comissão de Edução do CRP-RN.

Informações: Assessoria CRP

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Assédio moral e suas implicações no ambiente de trabalho

Por William Grespan Garcia

Diversamente do que se pensa, o assédio moral não ocorre apenas do empregador para o empregado, do superior para o subordinado. Na verdade, a cadeia do assédio moral ocorre mais de superiores para subordinados, mas também entre os pares e, em menor grau, contra executivos. O assédio moral, assim, pode ser vertical de maneira descendente (mais comum do superior para o subordinado) ou ascendente (mais raro, do subordinado para o superior); horizontal, quando se dá entre os pares; misto, quando se dá em todas as direções acima, combinadas.

Condutas que evidenciam violência psicológica contra o assediado, atos repetitivos caracterizados por ações reiteradas do assediador, boatos, xingamentos, perseguições, punições injustas, condutas agressivas, inferiorização, exposição do assediado a situações humilhantes e vexatórias, exigências de cumprimento de metas inatingíveis, negação de folgas e férias, enquanto os demais são dispensados, rigor excessivo e colocação de apelidos constrangedores são alguns exemplos de assédio moral, dentre os muitos que existem.

Pontualmente, neste contexto, há que se considerar que acontecimentos comuns e isolados, como uma “bronca” eventual do chefe, uma chamada de atenção esporádica ou não, muitas vezes motivada pela necessidade de se aprimorar a ação, não podem e nem devem ser caracterizadas como assédio moral, embora, muitas vezes, por uma questão de má-fé, fatos como estes possam ser utilizados em processos trabalhistas indevidos, sendo, porém, facilmente derrubados em um Tribunal por não se sustentarem na caracterização do assédio moral.

Antes de se levar o caso aos Tribunais, deve-se recorrer ao RH da empresa para relatar o ocorrido, sempre documentando a conversa/denúncia. Não havendo solução, no âmbito interno da empresa, passa-se a instâncias superiores, como o Sindicato e até o Ministério Público. Queimar etapas, saltar instâncias, nunca facilita e até pode prejudicar o processo de solução do problema, seja por qual via possa vir esta solução.

Por sua especificidade e pela dificuldade em ser comprovado, o assédio moral deve levar a vítima à busca de ajuda especializada, tanto no âmbito médico quanto no âmbito jurídico, providências que devem caminhar paralelamente, ainda que os passos básicos para a solução dentro da empresa não sejam eficientes e/ou eficazes.

As empresas, por sua vez, devem agir de forma preventiva, para que casos de assédio moral não venham a ocorrer intramuros. Tal prevenção pode ser desenvolvida em reuniões periódicas por setores, onde se aborde, de modo direto e/ou indireto o assunto, visando a coibir atitudes negativas entre os funcionários, bem como entre a configuração hierárquica. Além das reuniões, periódicos (os chamados jornais da empresa) podem abordar em suas páginas o assunto, o qual deve ainda constar das diretrizes que costumeiramente são passadas aos funcionários, quando de sua admissão.

A criação de um canal que propicie discussões participativas entre chefias e chefiados, onde todos possam ter voz, é sempre um bom início para prevenir que o assédio moral se instale e que isso seja levado às vias de fato.

Todos os esforços no sentido de coibir ações de assédio moral, em quaisquer níveis, como acima já se destacou, não prescindem de uma correta e perene assessoria jurídica e, também, para as medidas cabíveis quando um eventual problema já instalado, de modo que, na medida do possível, sejam evitados os confrontos judiciais ou, na impossibilidade disto, para um correto acompanhamento da empresa, face a quaisquer processos que possam advir.

Importa, finalmente, dizer que ambos os lados da cadeia produtiva têm a perder com atitudes que induzam à instalação do assédio moral como realidade dentro da empresa. Assediados e assediadores, ambos são a ponta de um intrincado mundo, onde a falta de respeito colabora para a destruição de pessoas físicas e jurídicas, indo na direção inversa das metas pessoais e coletivas propugnadas para o desenvolvimento do ser humano e da empresa.