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Rogério visita golpistas na cadeia, busca solução para libertá-los e é ridicularizado por jornalista

O senador Rogério Marinho (PL) está dedicando o mandato a proteger os golpistas do dia 8 de janeiro que estão presos em Brasília.

O parlamentar foi ao Twitter dizer que está agindo como líder da oposição em parceria com a líder do PP Tereza Cristina. Eles foram recebidos pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti. O passo seguinte é uma conversa com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

A preocupação é assegurar garantias para os golpistas presos.

O comportamento, contraditório para um bolsonarista, corrente política aversa aos direitos humanos provocou uma reação do jornalista Reinaldo Azevedo que comparou Marinho à personagem da música “Conceição”, imortalizada na voz de Cauby Peixoto. “Não há histórico de que Rogério Marinho tenha alguma vez se ocupado de mais de 800 mil presos, 40% pelo menos sem trânsito em julgado. Agora, ele evidencia sua preocupação com um grupo muito particular de presos: os que foram flagrados tentando dar um golpe de Estado. Isso nasce das chamadas ‘afinidades eletivas’. Espero q passe, doravante, a se ocupar dos ‘pobres de tão pretos e pretos de tão pobres’ q lotam os presídios e cadeias do Brasil, boa parte vivendo em condições miseráveis. Aliás, o bolsonarismo, pensamento de que Marinho se tornou expressão, sempre fez pouco caso dos direitos humanos p/ presos. Segundo sua formulação estúpida, diz defender os “humanos direitos” — a começar do homiziado de Orlando. Marinho já chegou a ser referência de conservador sério… Virou a Conceição da política: é aquele q “subindo, desceu’”, ironizou.

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Expressão do jornalismo mossoroense ganha o país

“Jornalismo desejoso”, expressão criada pelo saudoso jornalista Nilo Santos para colegas que forçam a barra com uma informação foi apresentada pelo editor desta página no programa O “É da Coisa” da Band News FM.

O jornalista Reinaldo Azevedo ao conhecer a expressão declarou que vai adotá-la.

Confira o vídeo:

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A admirável resiliência de um condenado sem provas

Por Reinaldo Azevedo

UOL

Parte 1

Goste-se ou não de Lula, o fato é que ele tem no sangue, nos gestos, no olhar, na linguagem, nos esgares, o prazer da política. Falar sobre o assunto, como se viu na entrevista concedida aos jornalistas Mônica Bergamo e Florestan Fernandes Jr., da Folha e do El País, respectivamente, o revigora. E, nesse particular, ele é o oposto de Jair Bolsonaro. Erre ou acerte, o petista, à diferença do atual presidente, é dono de uma fala caudalosa, que remete a vivências várias — dos palácios e das ruas —, articulando memórias, conectando-as com ideias que estão por aí, em trânsito e em choque. Faço um registro gramatical. Assisti à entrevista em busca de anacolutos, de expressões soltas, de palavras sem função sintática que atravancam o discurso. Nada! A fala é límpida — isso independe de o ouvinte, ou espectador. aprovar ou reprovar o que ele diz.

Louvem-se, assim, de saída, a sua resiliência e, à diferença do que afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a sua sanidade mental. Não se percebeu, em nenhum momento, sinal de confusão, de perda do fio, de palavras ao léu. Reitero: não estou entrando no mérito do que disse Lula. Em uma hora e 54 minutos de entrevista, por exemplo, não há sombra de autocrítica na sua fala — ou, vá lá, de crítica ao modo como o PT se conduziu no poder. Sim, compreendo a circunstância. Preso desde 7 de abril do ano passado, é a primeira vez que fala com liberdade. Fez um uso político do tempo. Não vou censurá-lo por isso. Ainda voltarei a esse tema. Quero me ater, por ora, à sua resistência.

Poucos, caminhando para ninguém, suportariam com tanta dignidade o reverso da fortuna. Há pouco mais de oito anos, ele deixava o governo como o presidente mais bem-avaliado da história. Na sua passagem pelo poder, fez-se uma liderança mundialmente respeitada, reverenciada por governantes das mais variadas tendências e de todos os quadrantes do planeta. No front interno, governou praticamente sem oposição — excetuando-se o DEM e o PSDB. A elite brasileira que hoje lhe vira as costas praticamente se ajoelhava a seus pés. Este cronista que escreve agora era das poucas vozes dissonantes, o que levou o líder petista e pespegar em mim a pecha de “blogueiro falastrão” num encontro com petistas. Não era fácil enfrentar a patrulha organizada dos seus partidários e admiradores. Mas não vou me ater a isso não.

Contrasto aquele que chegou a ser tratado quase como um imperador absolutista com o presidiário de agora, recolhido a uma cela — que ele prefere chamar “sala” —, em absoluta solidão, vendo o mundo pelo noticiário de TV, preenchendo as suas horas, como disse, com filmes que lhe passam em “pen drives”, longe da verdadeira cachaça de que é dependente: não é a pinga, mas a política. Em dois anos, viu morrer a mulher, Maria Letícia; o irmão de que era mais próximo, Vavá, e, supremo sofrimento, o neto Arthur, de apenas sete anos.

Já vi gente se debulhar em lágrimas de autocomiseração por muito menos e por contrastes bem mais suaves, não conseguindo suportar com altivez revezes muito mais brandos. Lula, e qualquer especialista em saúde mental certamente poderá atestá-lo, está inteiro. E pediu aos jornalistas que não fizessem o registro de um homem alquebrado. Enfrentou com frieza a primeira e dura questão de Mônica Bérgamo: está preparado para não sair da cadeia? E, ainda que se mostre compreensivelmente obcecado por sua absolvição, a resposta inequívoca é “sim”.

SEM PROVAS

Este é um post que tem o objetivo de fazer, sim, o elogio da resiliência demonstrada pelo ex-presidente. Tanto mais porque ele foi, com efeito, condenado sem provas. Já fiz este desafio aqui e o repito: que alguém aponte, então, na sentença de Sérgio Moro onde está a comprovação da denúncia feita pelo Ministério Público Federal, segundo quem o tal tríplex de Guarujá era propina decorrente de três contratos com a Petrobras celebrados por consórcio integrado pela OAS. Não existe nem sombra de evidência. E o próprio Sérgio Moro foi obrigado a reconhecer isso, deixando escrito, com todas as letras, que inexiste liame entre o imóvel e os tais contratos. O TRF-4 manteve a

a condenação e reduziu a pena sem enfrentar a questão. Agora a Justiça de São Paulo reconhece que Marisa Letícia efetivamente pagou à Bancoop por cotas de um apartamento e que desistiu da aquisição. Tanto é assim que a sentença determina que o dinheiro seja devolvido. Nunca se viu propina em que é o beneficiário — o corrupto passivo — a pagar mensalidades ao corruptor…

Estou longe de ter a certeza que tem Lula de que vai deixar a cadeia. A forma como a Lava Jato e seus braços urdiram os processos não o autoriza a ter muitas esperanças. Mas ele tem um vício, lembram-se? É a política. Não entregar os pontos é a forma que encontrou de manter a sanidade mental e espiritual. E isso, por si, o torna uma pessoa admirável.

Parte 2

Não há nem sinal de autocrítica na fala de petista

O que há a lamentar na entrevista concedida por Lula? Não há nem sombra de autocrítica. Ou de crítica aos erros cometidos pelo PT. Não sei se eu mesmo faria diferente se estivesse em seu lugar. Afinal, ele foi condenado sem provas e é mantido preso contra o que definem o Inciso LVII do Artigo 5º da Constituição e o Artigo 283 do Código de Processo Penal. Mais do que isso: desde dezembro de 2017, há prontas para votação Ações Declaratórias de Constitucionalidade no Supremo que não são levadas a plenário porque, ora vejam!, a depender do resultado, ele poderia ser solto — aguardando, então, o trânsito em julgado da sentença condenatória. O tribunal, muito especialmente sob a regência de Cármen Lúcia, passou a manipular escancaradamente a pauta. Dias Toffoli está no comando da Corte desde setembro do ano passado. Até agora, não há data para votar as ADCs. Cobrar autocrítica de alguém encarcerado contra o que dispõe a lei não deixa de ser incômodo. Mas é necessário fazê-lo em nome da precisão e da verdade histórica.

AUTOCRÍTICA

Lula foi convidado a dizer em que o PT errou. E o ex-presidente driblou a questão. Preferiu partir para o ataque, afirmando que coleciona mais de 80 capas de revista contra ele e mais de 80 horas de notícias negativas em cada uma das emissoras de TV. Destacou, o que não deixa de ser verdade — MAS É UMA VERDADE QUE PRECISA DE CONTEXTUALIZAÇÃO — que o PT aprimorou mecanismos e leis de combate à corrupção, com fortalecimento da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. E, de fato, sob a sua gestão, os dois órgãos ganharam uma saliência e uma independência que não tinham antes. Condescendeu, no máximo, com uma hipótese: “Acho que o PT pode ter cometido muitos erros” Mas evitou dizer quais. Ou ainda: “Se alguém cometeu erro, que pague”.

Sim, é verdade: existe uma Força Tarefa que tem o PT e seu líder máximo como alvos prioritários. E, convenham, não é preciso que Lula reconheça as falhas para que delas se tenha ciência. Mas também não dá para cair no conto da Carochinha de que uma conspiração de organizou para depor o PT e que esta supunha a sua prisão para que pudesse, então, se consolidar. Para ser mais preciso: ainda que houvesse tal disposição, não se teria logrado o intento se, no poder, o partido não tivesse deixado um rastro de malfeitos. E aqui deixo claro: eu não tenho nenhuma simpatia pelas delações premiadas na forma como passaram a existir no Brasil. Tanto a Lei Anticorrupção (12.846) como a Lei das Organizações Criminosas (12.850), ambas de agosto de 2013, abrem flancos para que notórios canalhas passem por mocinhos colaboradores e para que o Ministério Público Federal celebre verdadeiras indignidades sob o manto de acordos de delação e de leniência. Os abusos começam a vir a luz.

Dito isso, observo que Lula deveria, quando menos, reconhecer que o partido manteve relações promíscuas com empreiteiras, embora não tenha sido o único; que se arvorou em grande arquiteto dos players nacionais que iriam ganhar o mundo e, nesse esforço, atravessou mais de uma vez a linha que deve separar o público do privado; que abusou do dinheiro fácil — e não foi o único de novo — que jorrava para as campanhas eleitorais; que não só deixou de coibir, então, práticas viciosas na relação entre partidos e empresas como, a seu modo, as profissionalizou, passando a operar muito além das franjas éticas… Nos oito anos em que Lula ficou no poder, uma mistura de escolhas e circunstâncias que dele não dependiam, mas que se mostraram favoráveis, fez o pais crescer e distribuir renda. Também foi possível implementar programas sociais e de inclusão que lhe garantiram a fortuna crítica. Sim, fez também escolhas erradas, mas vamos repetir Maquiavel falando sobre o povo — e, a exemplo do autor, note-se, sem endossar a frase: quando a população aprova o resultado, não pergunta com quais meios a ele se chegou.

GOVERNO DILMA

Ocorre que veio o governo Dilma. Lula não é burro — longe disso! — e sabe que já havia sinais de degeneração do modelo que remontavam à sua própria gestão. A dita “presidenta” dobrou todas as apostas erradas. E, neste ponto, há outra falha lamentável na entrevista do ex-presidente — ainda que, reitero, talvez eu também evitasse a autocrítica tendo apenas uma hora e cinquenta minutos para falar, depois de 9.384 horas preso. O líder petista evita reconhecer que os cinco anos de governo Dilma levaram a economia brasileira à beira do abismo. No máximo, arrisca uma crítica ao excesso de desonerações havido no período, mas não vai além disso.

E aí estamos diante de um problema que explica, em parte, o desespero de setores importantes do empresariado brasileiro na eleição de 2018. Sim, Lula tem razão, muitos deles haviam lucrado os tubos nos seus oito anos de gestão. Mas viram um PT em 2018 que parecia repetir a mesma ladainha que havia conduzido o país a uma das crises econômicas mais graves de sua história.

PREVIDÊNCIA

E Lula reaviva a memória dos temores à medida que faz um duro ataque à reforma da Previdência, personificando-a na figura de Paulo Guedes, mas também não aponta saída. Reduzir a proposta, como faz, à transferência de recursos para banqueiros é demagogia barata. Ainda que esteja aproveitando a oportunidade para lançar um grito de guerra contra a reforma como ato de resistência política, não há nisso dose considerável de irresponsabilidade? O petista não quer mudar nada? É razoável que o sistema continue a ser um dos mais perversos mecanismos de concentração de renda do país? E olhem que não quero facilitar as coisas para ninguém. Está aí o pacote para os militares como uma espécie de emblema de uma injustiça social bem à moda Bolsonaro. Ou por outra: há, sim, fragilidades na reforma que tramita na Câmara. Mas Lula prefere o caminho genérico da luta puramente ideológica: seria uma mudança contra o povo e contra os pobres para dar um trilhão a banqueiros. A simplificação é absurda.

A sua receita — basta apostar no povo e pôr a economia para crescer, e o resto se resolve — é pura retórica política. Não resolve o problema. Se a reforma, segundo o PT, não é a que tramita, não faria mais sentido, então, articular uma proposta alternativa? A crítica que o ex-presidente faz contribui, por razões óbvias, para fortalecer Bolsonaro, não para enfraquecê-lo.

O ACERTO

A entrevista é longa, e há outros pontos que mereceriam reparos. Serão feitos a seu tempo. Notem que aponto neste post o que considero os principais aspectos negativos ou incorretos da fala de Lula. Mas ele também acerta quando condena o ataque sistemático à política. Bolsonaro é o filho dileto da Lava Jato, que contou com a quase totalidade da imprensa como porta-voz não do antipetismo — outro erro de Lula —, mas da antipolítica.

Trata-se de uma ironia trágica: a imprensa se tornou sócia da demonização da dita “velha política”, promovida pela Força Tarefa, e colaborou para a eleição daquele que gostaria de enforcar o último jornalista com a tripa do último não-bolsonarista.

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É o liberalismo de Bolsonaro que seduz parte dos ricos e universitários? Não! É o ódio a pobre e à diferença. Existem candidatos liberais!

Por Reinaldo Azevedo

O Jair Bolsonaro “liberal”, no qual acreditam setores do mercado, é só uma invenção eleitoral oportunista em que o medo de pobre e de preto, compartilhado por setores da classe média e dos ricos, finge acreditar.

“Ah, só classe média e rico vota em Bolsonaro?”

Quem leu isso no que escrevi pode parar por aqui porque é analfabeto funcional e não vai entender o resto. Vá votar no “capitão” e seja feliz em sua vida ágrafa.

A única saída que o Brasil tem para a crise — ÚNICA — é diminuir os gastos do Estado e a interferência do dito-cujo na economia. Teria de haver uma redução de desembolsos propriamente, com a revisão de determinados programas e da brutal renúncia fiscal sob o pretexto de proteger alguns setores — ou “os empregos”, na versão estúpida adotada pelo governo Dilma.

Ocorre que isso não se faz sem uma pactuação política e sem negociar a redução do tamanho do gigante com os setores diretamente beneficiados. É trabalho para candidato a estadista, não para economista em fase de mania. Nesse caso, só remédio resolve; não o poder.

A estratégia de Bolsonaro, em havendo uma, é o “choque”. A turma é tão fascinada pelos movimentos circenses de Donald Trump que tentará reproduzir por aqui o que o malucaço faz por lá. “Ah, mas está dando certo…” Peguem a interferência que tem o Estado americano na vida dos cidadãos e a que tem o Estado brasileiro. O sistema americano até pode abrigar um “clown”, se é que ele termina o mandato; o do Brasil, não. Mas isso fica para outra hora.

O fato e que inexiste um “Bolsonaro liberal”. Existe é um Paulo Guedes que pode ser identificado com esse pensamento em economia, mas que dá mostras de não entender como funciona a democracia. A sua proposta mais clara sobre impostos, tanto quanto aquilo é claro, foi exposta em encontro privado de investidores, misturando unificação de impostos com volta da CPMF. As tentativas de desmentido soaram patéticas. Quando menos porque os impostos unificados não são universais — pagos por todos —, e a CPMF sim. Aritmética elementar: está sobretaxando o pobre, que já é, relativamente, quem mais paga impostos no Brasil.

Então por que esse encanto com Bolsonaro? Ah, porque, como é mesmo?, é um homem “sem medo de dizer verdades”.

E, ora vejam, suas “verdades” nada têm a ver com economia ou política. Bolsonaro faz com que os preconceitos mais primitivos, mais incivilizados e potencialmente mais brutais se manifestem como coisa normal, corriqueira, como parte da vida. Afinal, “tem preto folgado mesmo”; “esses índios são uns preguiçosos”; “Maria do Rosário é mesmo feia” (nego-me a reproduzir o resto do raciocínio até como caricatura); “bandido bom é bandido morto”; “brasileiro gosta é de mamata”; “essas pessoas penduradas no Bolsa Família são umas preguiçosas ou estariam trabalhando…”

Não é o liberalismo de Bolsonaro que seduz porque este, a rigor, não existe. A sua trajetória o prova. É a mobilização da besta do preconceito e do rancor instalada no fundo de algumas consciências.

Para essas almas encantadoras, um Geraldo Alckmin, por exemplo, ou um Henrique Meirelles não bastam. E não! A recusa nada tem a ver com o fato de que seriam “políticos tradicionais” — Meirelles disputou apenas uma eleição e, com efeito, teve papel fundamental duas vezes no equilíbrio das contas; contribuiu para tirar o país do abismo em ambas as circunstâncias…

Se é “liberalismo” que querem esses valentes, as opções estão dadas. Até João Amoêdo, novo, mas inequivocamente liberal, atenderia a esse pressuposto.

O Bolsonaro que atrai essas camadas de que falo é justamente o ILIBERAL, o reacionário, o do discurso fascistoide, o que alimenta a impressionante rede de ódio montada da Internet para xingar, intimidar, desmoralizar, enquadrar e demonizar pessoas que discordam dessa adorável visão de mundo.

A Folha publica nesta sexta um exaustivo levantamento sobre os votos do “capitão”. Resumo: antiliberal, corporativista, favorável ao aumento de gastos do Estado.

“Ah, mas o Guedes vai dar um jeito nele!”

O Guedes, neste momento, foi submetido ao silêncio obsequioso. Levou um cala-boca!

Fica mais fácil assumir que o voto em Bolsonaro está ligado ao que essa gente pensa sobre pretos, índios, mulheres, os “brasileiros” (que são sempre os outros), o Bolsa Família…

A reportagem sobre a trajetória do corporativista, estatista e antiliberal de Bolsonaro está aqui.

Ah, sim: sem querer chatear ninguém, lembro que os pobres não vão desaparecer por mágica. Nem que se meta a polícia para dar um jeito “nessa gente”…

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Constituição foi assassinada pelo moralismo estupido da Lava Jato e pelo STF

Por Reinaldo Azevedo 

O país passa por uma ruptura institucional ditada de cima para baixo. A Constituição de 1988 morre aos 30 anos. Foi assassinada pelo moralismo estúpido da Lava Jato e pelo STF —obra, nesse caso, de notáveis notórios que o PT guindou ao tribunal para fazer a sua “revolução cultural”. Lula, já escrevi aqui, a exemplo do Luís Bonaparte visto por Marx em “O 18 Brumário”, é vítima de sua própria concepção de mundo.

Cármen Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin… Havia uma nódoa de má-consciência em cada uma dessas escolhas. É uma pena que esses patriotas, ao abandonar o barco dos companheiros e aderir a novos senhores, estejam jogando ao mar o Estado de Direito. “Não vai falar de Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli?” Já discordei de ambos, e muito! Mas não os vi investir no impasse institucional ou numa crise sem amanhã. “E Alexandre de Moraes?” Escolheu ser a exceção não oriunda do petismo na nau dos insensatos.

A Constituição foi testada logo no seu quarto ano de vigência com o impeachment de Fernando Collor. Itamar Franco assumiu a Presidência, e, pouco depois, veio o Plano Real, uma espécie de “constituinte econômica”. O país mudou de patamar. Os anos iniciais do petismo no poder, o primeiro mandato, foram de reiteração da bendita herança recebida. Lula começou a inovar no segundo, preparando o desastre da gestão Dilma.

Poucos, como este escriba, denunciaram de forma tão sistemática e contínua o que chamava de versão tropicalizada de “O Moderno Príncipe”, numa alusão à expressão de Antonio Gramsci (1891-1937), o teórico comunista italiano, para designar o partido que haveria de se impor como o “imperativo categórico”, de sorte que seriam as suas necessidades e clivagens a determinar o destino do país, não mais as da sociedade.

A Lava Jato expôs não um país que é feito de vícios e nenhuma virtude. Temos um Brasil também de virtudes, mas com muitos vícios, que devem ser combatidos justamente para que seja continuamente reformado e avance. Essa conversa de “O Mecanismo” é só um roteiro ruim, que me remete, Santo Deus!, à minha infância ideológica. Quando aderi, em 1976, aos 15 anos, a um grupo que depois formou a “Convergência Socialista” (1978), lembro que falávamos muito no tal “sistema”. Era preciso “mudar o sistema”…

Qual é o único caminho a nos conduzir a um bom lugar? O do respeito às leis e às instituições, conservando o molde democrático e operando, no seu interior, as mudanças necessárias, inclusive para combater tentações “hegemonistas”. Em vez disso, os fanáticos da Lava Jato convenceram amplas camadas de que o ordenamento legal é uma das causas da roubalheira e da impunidade. Também ele seria parte do “mecanismo”. E entra em seu lugar o quê? O Partido da Polícia como candidato a “Moderno Príncipe”.

O STF é hoje a principal fonte de insegurança jurídica do país. Vai piorar. Não tardará, e as heterodoxias nas áreas penal e constitucional saltarão para a economia e a administração. Os feiticeiros do bolivarianismo light descobriram um novo caminho, que é o da Constituição como obra aberta. O general Ernesto Geisel restaurou o habeas corpus. Barroso quer exterminá-lo. O Supremo Legislador já mudou a Constituição mais do que o Congresso nesses 30 anos.

O próximo presidente indicará dois ministros para o tribunal. Vão substituir Celso de Mello e Marco Aurélio. Já critiquei e elogiei votos de um e de outro. Mas uma coisa é certa: ancoram suas posições na Constituição. A depender do tamanho da nossa comédia em outubro, fica marcado o encontro com a tragédia.

Para encerrar: vocês acham esse Congresso ruim, formado ao tempo em que empresas privadas faziam doações? Esperem para ver o próximo, numa disputa bancada por financiadores ocultos, pelo crime organizado e por teologias mais novas do que o meu uísque. Afinal, quem é que lida com dinheiro vivo, que não passa pelos controles do Coaf?

Também isso é obra dos Supremos Legisladores de Toga. O tribunal virou o atalho entre o PCC, milagreiros e o Parlamento.