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Profissionais de diferentes áreas se adaptam para manterem atividades durante a pandemia

Psicólogo clínico Francinaldo Rafael tenta manter rotina o mais próximo possível do que era antes – Foto: Cedida

De repente, a sala de aula muda de lugar – do escritório da professora, para a residência do aluno. O ‘divã’ também não é o mesmo; o consultório se transforma a cada sessão, pois o serviço oferecido da casa do terapeuta é recebido na particularidade do ambiente de cada um. Essas são algumas das mudanças encaradas por profissionais de diferentes áreas para manterem as atividades com segurança durante a pandemia. Tudo com suporte da tecnologia.

O psicólogo clínico Francinaldo Rafael passou por uma adaptação dupla. Além da Psicologia, ele atua no setor administrativo de uma grande empresa e teve que adequar a rotina para as duas funções.

Para cumprir as atividades do setor corporativo, ele se conecta e desenvolve todas as funções de casa, como se estivesse na empresa. Como já era prática na empresa realizar algumas atividades online, para algumas atividades não houve muita diferença.

No consultório os atendimentos também têm sido apenas por meio virtual. De acordo Francinaldo Rafael, essa já é uma prática comum na Psicologia, pois às vezes as pessoas mudam de cidade e não querem trocar de terapeuta. Nesse sentido, ele diz que observa dois comportamentos por parte dos pacientes, tanto há aqueles que não querem a terapia online, como há outros que optam pela alternativa, até pela redução de custos, pois não precisam sair de casa.

Mas o psicólogo comenta que, tanto online como presencialmente, o suporte é basicamente o mesmo, o tempo das sessões é igual, o acolhimento não muda e a prática continua sendo baseada em técnicas científicas.

Para se adaptar à nova realidade, Francinaldo Rafael explica que o padrão que usa e que a Psicologia recomenda é tentar manter a rotina o mais próximo possível ao que era antes. Isso porque o cérebro precisa das coisas organizadas.

Assim, a orientação é acordar todos os dias no mesmo horário, tomar café como de costume, colocar uma roupa diferente daquela de ficar em casa, repetir os intervalos que eram feitos para o lanche, respeitar o horário de almoço e avisar às pessoas que moram na casa que aquele é o horário de trabalho.

O psicólogo lembra que é uma rotina diferente daquela em que todo o grupo divide o mesmo espaço e os contatos e demandas são mais imediatos. Para alguns profissionais, tem que haver ainda mais jogo e cintura para driblar situações como falta de um ambiente adequado em casa e o barulho. “Não é fácil, mas são algumas adaptações que têm que ser feitas”, afirma, acrescentando que é preciso organizar os horários e deixar tempo disponível para tudo, como o lazer.

“Minha casa é minha sala de aula”, diz professora sobre mudanças adotadas- Foto: César Amorim

A professora Yáscara Campos também teve que fazer adequações na rotina e até em casa. Como docente, para ela o maior desafio é elaborar aulas que sejam ainda mais atrativas.

“O que chamou a atenção foi a ruptura”, diz ela, que vinha acompanhado os noticiários, sabia que a pandemia poderia chegar ao Brasil, mas não pensava que seria nessas proporções.

A professora conta que quando o primeiro decreto suspendendo as aulas foi publicado, a escola em que trabalha parou com as atividades presenciais e dentro da nova realidade passou a utilizar outras ferramentas para oferecer o melhor suporte possível aos alunos.

Desde então, os professores, que já estudam rotineiramente, têm analisado formas de avaliar os alunos, meios de promover a interação, recursos que tornem as atividades mais atrativas e modos de deixar o aluno menos desconfortável, diante da nova realidade.

De acordo com Yáscara Campos, os 15 primeiros dias foram de adaptação, usar a plataforma adotada pela escola para abastecer com material em PDF. O passo seguinte foi gravar aulas para disponibilizar na plataforma. A próxima etapa será marcada pelas aulas ao vivo, que devem começar na próxima segunda.

Essas mudanças têm exigido dos profissionais a busca para aprofundar capacidades e realizar ainda mais descobertas.

Para Yáscara, a nova rotina pode ser resumida da seguinte forma: “É desafiador, é preciso você se ressignificar e é preciso muita resiliência”, diz a professora.

Ela acredita que todo empenho, toda tentativa de ressignificação vai gerar resultados. Mas essa procura por resultados tem exigido esforços. “Nós nunca trabalhamos tanto”, diz a professora, lembrando que agora não é só planejar a aula, mas torná-la ainda mais atrativa, dominar ferramentas que antes não eram muito utilizadas e tornar o conhecimento significativo para o aluno.

“Entender que seu papel é gigante”, diz a professora, pensando nos alunos que, muitas vezes estarão em casa sozinhos e que procurarão aquela aula também para preencher um espaço.

A professora conta que para transformar seu espaço em sala de aula fez alguns investimentos, mas sabe que isso é um privilégio que nem todos os profissionais podem ter.

Apesar dos desafios, ela segue confiante, na certeza do papel transformador da educação. “A educação ela liberta, ela salva e vai continuar. Ela não vai abandonar a sua luta”, complementa Yáscara Campos.

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Dia do Trabalhador traz reflexões sobre cenário pós-pandemia

Consultor acredita que as pessoas trabalharão mais por projetos (Imagem: Reprodução)

Em um cenário totalmente atípico, marcado por uma pandemia e por índices elevados de desemprego, que já se apresentavam antes mesmo da manifestação dos impactos sociais provocado pelo novo coronavírus, o Dia do Trabalhador traz reflexões sobre as novas configurações do trabalho e do mercado.

Para agente de mercado do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Lucas Paiva o momento é difícil e exigirá das pessoas necessidade de adaptação às novas formas de trabalho.

Segundo ele, o mercado não parou, ele desacelerou, mas é necessário que muitos profissionais se reinventem. Ele considera que o modelo de trabalho e de mercado vai mudar e se as pessoas não andarem de mãos dadas com a mudança será mais difícil se realocarem quando a pandemia passar.

Lucas Paiva acredita que as empresas irão adotar novas formas de trabalho, como o home office, com redução da carga horária. Em contrapartida, os salários também devem reduzir.

Em paralelo às mudanças, ele observa que muitos profissionais não conseguem se adaptar, porque são mais conservadores.

O agente de mercado comenta que é um momento extremamente delicado e que o regime de trabalho com Carteira assinada vai mudar, com flexibilização da jornada de trabalho e de outros pontos relacionados ao vínculo empregatício. Para ele, o modelo de produção será mais baseado no desenvolvimento de projetos.

“É um momento de adaptação”, diz, acrescentando que as pessoas que estão desempregadas ou em uma situação de trabalho mais vulnerável, precisam se organizar de forma rápida.

“É um momento de reflexão. O que pode fazer nesse novo cenário?”, acrescenta.

Como agente de mercado do IEL, entidade que trabalha com o desenvolvimento de carreiras, ele menciona que a situação do Instituto também é delicada e lembra que os estudantes que desenvolvem estágios não têm vínculo empregatício. Para ele, a lei que regulamenta os estágios precisa de mudanças.

E se pode haver dificuldade de adaptação por parte das pessoas que já estão há muito tempo no mercado, para os jovens que planejavam se inserir no mercado de trabalho a questão também é delicada. “O que eu posso fazer para ter experiência?”, questiona o agente, lembrando a dúvida de muitos jovens.

Mas ele afirma que hoje a experiência não se resume a trabalhos formais e que as empresas já estão analisando o currículo de uma forma mais leve. Lucas considera que o empreendedorismo está em alta, vê na crise algumas oportunidades e cita alguns setores que estão se sobressaindo como o de delivery, alimentação, saúde e segurança, esses últimos tidos como serviços essenciais.

Para ele, o cenário pós-pandemia será difícil. “Já está difícil até para quem está se saindo bem”, diz, lembrando do ponto de vista humano e das várias profissões que estão enfrentando problemas e registrando muitas demissões.

Mas o agente de mercado afirma que é preciso ter uma mente positiva e aliar isso duas outras questões – atitude e fazer o que gosta. “Quando a gente faz o que a gente gosta não significa que não vai fazer o que não gosta”, adverte.

Lucas Paiva diz que é preciso usar a reflexão do semáforo “parar, pensar e fazer” e que não adianta começar a fazer algo sem pensar e depois ter que parar.

Diante do novo cenário será preciso pensar em alternativas. O agente diz que será importante ter planos de A a Z e lembra que, por mais que seja clichê, conhecimento é a única coisa que ninguém pode tirar do ser humanos. Por isso, aconselha a usar esse período para se capacitar, participar de cursos e estar antenado às novas tecnologias.

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O que vem por aí em SST

Por Rodrigo Ferreira*

A Internet das Coisas (IoT) vai modificar as Avaliações Ambientais. No lugar de se fazer medições pontuais, serão feitas medições permanentes, inclusive com a tomada de decisões em tempo real (ex.: evacuar um local com uma concentração de substância que apresente nível de concentração elevado, ou interromper a tarefa de um trabalhador exposto a ruído acima do limite de tolerância ou do tempo permitido).

A legislação virá a reboque dessas inovações, já que não terá muito sentido Programa de Prevenção de Riscos Ambientais onde o ambiente não seja permanentemente monitorado.

Hoje a grande dificuldade é o custo, mas com a popularização haverá soluções cada vez mais baratas e mais completas. O padrão KNX provavelmente cumprirá um papel importante, e deve abocanhar parte deste mercado.

Tanto iOT quanto IA devem ser inseridos na Segurança do Trabalho junto com projetos de automação: a câmera de vigilância que vai detectar incêndios e chamar os bombeiros também vai analisar situações de risco de acidentes; o sensor em uma caldeira que detecta a avaria e aciona a manutenção também vai garantir a interrupção do trabalho em condições arriscadas; os sensores da empilhadeira que garantem não haver obstáculos também só permitirão sua condução por profissional habilitado; os sensores do EPI que medirão temperatura também vão monitorar o uso correto do equipamento; etc.

Inteligência Artificial também será integrada a plataformas que utilizem IoT, e tornarão mais assertivas as decisões e o controle de riscos. Já existe hoje no Brasil alguns softwares usando IA de forma rudimentar, mas APIs como os do Watson (IBM) em breve estarão incorporados a estes softwares.

Realidade Aumentada será usada principalmente para antecipação de riscos e investigação de acidentes. Influenciará o leiaute de ambientes, considerando também a ergonomia e a prevenção de acidentes, entre outros fatores. Realidade Virtual terá muitas aplicações em treinamentos, principalmente com simuladores. Inteligência Artificial “lerá” os dados destes treinamentos e vai sugerir adaptações, mudanças de leiaute e tomada de decisões.

Haverá uma redução drástica do número de profissionais de SST empregados, mas os salários “dos sobreviventes” tende a aumentar. Serão exigidas novas habilidades e conhecimentos. Programação será diferencial. Capacitação para manusear Big Data, Iot e IA serão exigidos de Técnicos e Engenheiros. Geolocalização será figurinha fácil dentro da Segurança do Trabalho. O mercado de consultoria de QSMS tende a se concentrar em grandes empresas e eliminar a maior parte dos pequenos negócios e dos autônomos por falta de fôlego financeiro. O dimensionamento legal dos SESMTs provavelmente será revisto. Serão validados dentro do PCMSO dados tirados de sensores usados diariamente pelos trabalhadores, e o trabalho dos Médicos do Trabalho será mais analítico.

Uma das curiosidades é que o eSocial, ao incluir no mercado de SST as milhões de empresas brasileiras que não cumprem a legislação, vai gerar um fluxo financeiro que deve financiar boa parte destas mudanças, ao mesmo tempo que vai gerar massa de clientes para consumir as soluções e barateá-las.

Outra curiosidade é que será pequeno o número de startups gerando soluções para QSMS: o conhecimento técnico é tão refinado que é difícil desenvolver serviços e produtos sem mão de obra cara, o que geralmente é um impeditivo para pequenas empresas.

Para finalizar, eu diria que qualquer profissional deste setor que não esteja se preparando para estas inovações terá muita chance de ficar desempregado, e empresas que não estão incorporando tecnologias em suas operações estão dando adeus ao mercado.

O divisor de águas será em 2019, com a entrada do eSocial. A partir daí a concentração de capital das empresas que capturarem fatias relevantes deste mercado começará a financiar as evoluções que devem aparecer em larga escala a partir do 2020. Lá por 2030 olharemos para o ano de 2018 e perguntaremos: como eles conseguiam fazer Segurança do Trabalho naquelas condições?

*É palestrante e consultor esocial