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Risco de guerra Rússia e Ucrânia

Por Ney Lopes*

Por que a Rússia ameaça a Ucrânia?

Explica-se pelo desejo de evitar que a Ucrânia faça parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a aliança militar ocidental, o que dificilmente será atendido, mesmo colocando em risco a segurança europeia.

Esse é o “nó górdio” da crise. A Ucrânia aderindo à OTAN garantiria proteção, em caso de ser atacada.

O princípio dessa organização é que um ataque a um dos seus membros é um ataque a todos.

Putin discorda, por entender que significaria presença militar na sua fronteira.

Além disso, o regime soviético não deixa de sonhar com a recuperação do controle político das ex-repúblicas, em particular da Ucrânia.

Embora o atual contexto geopolítico seja diferente, os soviéticos mencionam o precedente da “crise dos mísseis”, de 1962, quando ocorreu incidente diplomático entre Estados Unidos e União Soviética, por causa da instalação de mísseis russos em Cuba.

O evento foi considerado o momento mais tenso da Guerra Fria. O mundo esteve à beira de sucumbir numa guerra nuclear.

A reação norte-americana foi terminante.

O então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, considerou que se tratava de ameaça direta à soberania americana e não aceitaria armas na sua fronteira.

Ao aproximar-se uma frota naval soviética de navios dos Estados Unidos, que faziam o bloqueio à ilha, o primeiro ministro Nikita Khrushchev se dispôs a retirar os mísseis de Cuba, em troca da promessa de Kennedy de que os Estados Unidos não invadiriam a ilha.

O governo estadunidense se comprometeu ainda a retirar mísseis, que havia instalado na Turquia, fronteira com a URSS.

Por trás dos argumentos de segurança das fronteiras, percebe-se que o verdadeiro objetivo de Putin é reconstituir o esplendor soviético, que deixou de existir em 25 de dezembro de 1991, quando Mikhail Gorbachev, o líder da então União Soviética, renunciou ao cargo de primeiro ministro.

No mesmo dia, as bandeiras vermelhas das repúblicas soviéticas, com os símbolos do martelo e da foice, foram arriadas do Kremlin e substituídas pela bandeira russa.

Em seguida, o Soviete Supremo dissolveu formalmente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).  Acabava o império gigantesco, que governara mais de uma dezena de Estados aliados, por 70 anos.

Após assumir o supremo comando do país, Putin deixou claro o seu propósito de estimular guerras, mostrar que não existem fronteiras para suas ações de espionagem, consolidando-se como uma espécie de czar moderno, com controle completo sobre o destino dos russos.

No caso da Ucrânia, Putin tem especial interesse.

Esse país tornou-se independente em 1917, sendo uma das repúblicas fundadoras da URSS, em 1922, a Ucrânia foi a nação mais poderosa da Europa, nos séculos X e XI.

Hoje, após sete anos de instabilidade, desde a derrubada do presidente eleito em 2014, a economia está em frangalhos e a pobreza aumentou 60%.

Os trabalhadores atravessam dificuldades pelas medidas de austeridade impostas pelo FMI, cujos empréstimos mantêm o atual regime de pé.

A maior preocupação de Washington, OTAN, Reino Unido e União Europeia é a possibilidade de Moscou desestabilizar a Europa, abalando o equilíbrio do poder continental a favor do Kremlin.

Na hipótese de Putin invadir a Ucrânia e o Ocidente reagir com sanções, o governo russo poderá responder com o fechamento de todos os gasodutos que levam o gás soviético ao Ocidente, que equivale a cerca de um terço do gás consumido na Europa.

A Alemanha é o país mais vulnerável, que importa diariamente cerca de 230 milhões de metros cúbicos.

Outras regiões afetadas seriam Eslováquia, Áustria e partes da Itália.

Em represália, a Rússia poderá ser excluída do sistema de pagamentos internacional (SWIFT) e o congelamento de contas bancárias de seus oligarcas notórios.

Em 2000, quando chegou ao poder, Vladimir Putin manifestou o desejo da Rússia integrar a NATO e também a União Europeia para o país “não ficar isolado na Europa”.

Ambos os pedidos foram recusados.

Diante do impasse, talvez a alternativa mais sensata para a preservação da paz, seria a Ucrânia permanecer um país neutro, como a Finlândia, a Áustria e a Suécia.

As evidencias mostram, que a essa altura, não adiantará para nenhum dos lados em confronto “brincar com fogo”, ou “pagar para ver”.

*É jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado.

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