
O Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do RN (SINDSAÚDE RN) realizou hoje, 22, um protesto em frente ao Hospital Giselda Trigueiro, referência no tratamento de pacientes com sintomas de Covid-19 no Estado.
Com cartazes com desenhos de cruzes, durante a mobilização, os trabalhadores expuseram os riscos a que estão expostos, o receio de levar o vírus aos familiares e reivindicaram equipamentos de proteção individual de qualidade, salário digno e o pagamento de insalubridade.
“Falta EPI de qualidade, falta salário digno, falta insalubridade. A gente está sem receber insalubridade desde o ano passado”, questionou a trabalhadora que aparece no vídeo.
“Essa luta é de todos nós e isso aqui é apenas o começo do que a gente ainda pretende fazer. Porque a luta é grande, é contínua e a gente não vai parar”, acrescentou.
O coordenador geral do Sindsaúde, Breno Coutinho, diz que o Sindicato não consegue ser recebido pelo Governo, que já se reuniu com empresários e lojistas, mas não com os trabalhadores que atuam na saúde. “O Governo não nos recebeu para fazer nenhum diálogo. Uma questão de pandemia dessas e a gente não é recebido”, afirma o coordenador.
“Se a gente não tomar nenhuma decisão nesse sentido não acontece”, acrescenta.
Com relação aos EPIs, ele reclama da qualidade e da quantidade dos materiais. “Além de inadequado, são insuficientes”, diz ele.
Outra reivindicação diz respeito à questão salarial. De acordo com Breno Coutinho, ficou acordado que os plantões extras seriam pagos dentro do mês trabalhado, mas isso não é cumprido. Ele afirma ainda que há dois meses de salários em atraso, referentes ao mês de dezembro de 2018 e ao décimo terceiro salário do referido ano, e que a folha de pagamento tem erros constantes. “Todo mês a gente tem surpresa na folha”, diz ele.
O coordenador sindical se posiciona ainda sobre a forma como está estruturada a regionalização da saúde, com dois grandes polos – Natal e Mossoró – e defende que a pulverização dos leitos de UTI contribuiria para não haver superlotação. Breno Coutinho se refere a leitos de UTI fechados desde a gestão passada. Ele afirma também que todos os dias o Governo diz que vai abrir leitos e esses leitos não são abertos.
A mobilização dos servidores aconteceu poucos dias depois de o Sindicato ter acionado a Justiça pedindo que fosse decretado lockdown no Rio Grande do Norte e nos municípios de Natal e Mossoró, como medida para evitar as contaminações e o colapso do Sistema de Saúde. O pedido foi negado pela Justiça, mas o Sindicato já anunciou que vai recorrer da decisão.
“É muito importante esse lockdown. Não existem leitos, as pessoas vão precisar de leitos e não existem”, reforça Coutinho.
Carlos Alexandre Pereira, que faz parte da direção do Sindisaúde também falou sobre o ato realizado hoje em frente ao Giselda Trigueiro, cujos leitos estão lotados.
“A gente vem fazendo nossos protestos em frente a alguns hospitais da Grande Natal, para ver se sensibiliza a sociedade, o Governo e mostrar, realmente, o descaso com a saúde pública que não é de hoje, por conta do Covid-19, não é de hoje. O Sindsaúde já sinaliza isso há décadas”, diz ele, mencionando fatores como insuficiência de concursos públicos e déficit de recursos humanos.
“É um descaso total com os serviços públicos de saúde e diante dessa enfermidade epidêmica pelo Covid-19 só veio aflorar mais essa discussão”, acrescenta.
“A gente vai continuar fazendo nossos protestos para mostrar à sociedade que o Governo vive muito de falar, de dar entrevista, mas não age. A sociedade precisando de leitos, de hospitais, mas o que acontece é fechamento de unidades, como já aconteceu fechamento de alguns hospitais. E o sistema é isso, fechar serviços públicos e hoje paga um preço alto porque falta assistência, faltam profissionais, falta material, faltam insumos nas unidades”, complementa Carlos Alexandre.
O que diz a Sesap
Contatado pelo blog, Pretônio Spinelli, adjunto da Secretaria da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN), falou sobre o assunto. No que se refere à questão dos Equipamentos de Proteção Individual, ele afirmou que a Sesap não considera um problema importante, porque está cedendo EPIs adequados. Segundo ele, em momento de ansiedade é natural que os trabalhadores fiquem inseguros.
Em relação aos atrasos, o secretário afirma que o Governo vem tentando pagar há muito tempo, mas diz que, com diminuição orçamentária e a queda na arrecadação, o momento inadequado para falar sobre o assunto.
No tocante à insalubridade, Spinelli diz que o Governo estendeu o adicional para todos os que trabalham com Covid e que ele vai ser pago. “Já está para pagamento”, disse.
De acordo com o secretário, a discussão sobre o lockdown passa pelo Comitê Técnico que analisa diariamente a questão e avalia com estão ocorrendo as variáveis.
Com relação aos leitos de UTI, o secretário afirmou que o Estado está abrindo muitos leitos e que o problema é que realizar essa abertura não é algo tão simples. Segundo ele, a expectativa é abrir, até a próxima semana, 50 leitos, sendo 20 através da parceria com a Liga Norte Riograndense de Combate ao Câncer, 20 no Hospital João Machado e dez no Hospital de Macaíba. Petrônio Spinelli afirmou ainda que a Sesap está ajudando no funcionamento do Hospital de Campanha e do Hospital Municipal de Natal.
“Nunca o Estado fez tantos leitos de UTI”, disse Petrônio Spinelli, afirmando que o Estado não reconhece informações sobre fechamento de leitos de UTI.