Marielle às avessas

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Enquanto o Brasil ainda chora a morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada ao que tudo indica pelas causas que defendia, surge na contramão o que há de pior no país: a toscagem da nossa elite.

Após publicar notícias falsas sobre o crime, a desembargadora Marília Castro Neves publicou num grupo de magistrados no Facebook ataques grosseiros à professora Débora Seabra:

“Voltando para casa […] ouço que o Brasil é o primeiro em alguma coisa. Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de Síndrome de Down. Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social… Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem??? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”

A resposta de Débora Seabra não poderia ser melhor: “Eu ensino muitas coisas para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem a quem precisa mais. (…) O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito porque é crime. Quem discrimina é criminoso”.

A desembargadora Marília virou em um clique uma espécie de versão às vessas de Marielle Franco. A mulher permeia sentimentos de setores de nossa atrasada elite. Se a vereadora carioca resumia em si a luta contra a opressão de mulheres, negros e homossexual, a magistrada pintou como o inverso ao expor um preconceito nojento e ignorante tão comum na nossa elite medíocre e mesquinha.

Nossa sociedade está permeada de Marielles que são todos os dias silenciadas pela violência simbólica de Marílias. O país está cada vez mais polarizado e a comparação entre as duas tem que servir como divisor de águas para quem acha que o caminho do ódio é algo legal rever suas posições.

A desembargadora resume bem boa parte da nossa elite insensível.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto