Fátima é eleita sem firmar compromissos claros, mas com a missão de mudar a sina do RN

Eleita com a maior votação de uma governadora do Rio Grande do Norte com 1.022.910, Fátima Bezerra (PT) não conseguiu apenas o feito histórico de superar a casa de um milhão de votos, mas a proeza de vencer as oligarquias sem precisar se comprometer.

Para derrotar Henrique Alves (MDB) quatro anos antes, Robinson Faria (PSD) precisou se colocar como o “governador da segurança”. Fátima não é a governadora eleita com uma marca.

Ela não prometeu nada e você terá que pesquisar bastante para encontrar propostas concretas dela.

Fátima tem pela frente um tremendo desafio.

Primeiro, receberá um Estado quebrado, com uma cadeia econômica esgotada e tendo que lidar com um presidente da República cujo comportamento provoca nela o sentimento de aversão. Segundo, terá que lidar com poderes mesquinhos que sufocam as finanças do Estado e o dilema de tomar medidas que prejudiquem os servidores estaduais.

Mas Fátima não tem apenas desvantagens na futura gestão. Ela foi eleita com um palanque reduzido e sem grandes compromissos para a formação de sua equipe. A vitória dela é por mérito próprio, com base na sua história parlamentar o que a livra de ser grata a qualquer cacique político.

Outra vantagem que Fátima tem em mãos é a relação histórica com os sindicatos tornando menos traumática a negociação para as necessárias medidas impopulares que precisará tomar no início da gestão.

A governadora eleita terá maioria na Assembleia Legislativa, mas uma bancada heterogênea que reúne desde o PSOL à setores do outrora rival PSDB. Ela terá que administrar interesses ideológicos e fisiológicos destes partidos.

Outro grande desafio será rever as relações dos duodécimos dos poderes que precisa ser como nos demais estados: com base em percentuais da arrecadação e não em percentuais fixos.

Fátima terá que ter uma habilidade ímpar neste quesito.

Afinal de contas, Robinson Faria que é do mesmo nicho social dos desembargadores, promotores e conselheiros do Tribunal de Contas não conseguiu mudar esse quadro, mas graças as afinidades com a elite do serviço público conseguiu atrasar repasses sem que isso se tornasse uma crise institucional.

Fátima não terá essa benevolência.

Com votação consagradora de ontem a governadora terá que usar todo o capital eleitoral nos primeiros seis meses para ajustar as contas. O eleitor lhe deu uma vitória sem exigir grandes compromissos e dando a ela a confiança de que é possível fazer um bom governo no Rio Grande do Norte mesmo tendo no Palácio do Planalto um adversário duro.

De uma só vez temos um festival de pioneirismos na vitória de Fátima: pela primeira vez o PT, um partido de esquerda, uma negra, mulher e de origem popular governará o Estado. Tudo isso sem precisar se comprometer com qualquer cacique, repito.

Fátima não faz nem fará milagres, mas terá meios para tirar o Rio Grande do Norte do buraco sem fim que se meteu após uma sucessão de péssimas administrações se souber explorar as vantagens que terá dentro do Estado. Ontem na coletiva ela mesma disse ter força política para superar as dificuldades que terá no Palácio do Planalto.

O eleitor potiguar quis uma mudança conservadora com Robinson em 2014. Não deu certo porque ele repetiu a metodologia administrativa dos oligarcas que estiveram antes no poder. Agora a opção foi por uma guinada ideológica nos rumos do Rio Grande do Norte.

Fátima terá a missão de mudar a metodologia de gestão e encontrar uma forma de mudar os rumos de um Estado cujo destino parece ser sempre o do fracasso.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto