Petróleo cai 50%. Mas na bomba?

Preço médio da gasolina na bomba cai pela 7ª semana seguida, diz ANP

Por Elviro Rebouças*

Com a indústria do petróleo enfrentando a maior crise em 100 anos, a Europa e a América do Norte se entrincheirado, as estimativas mais recentes sugerem que 10% a 15% do consumo mundial poderá evaporar nos próximos meses. Não é exagero afirmar que a estamos diante de um dantesco quadro surreal para a era moderna. Com as economias ocidentais entrando em estado de hibernação, na esperança de sufocar a primeira onda do coronavírus por meio de quarentenas e isolamento, o setor se depara com o fato de que a demanda por combustíveis vai cair mais rápido do que nunca.

Os preços já caíram cerca de 50% desde o começo do mês, com as atividades das companhias aéreas interrompidas e milhões de trabalhadores trocando o automóvel por uma caminhada curta até o laptop na mesa da cozinha. Para um setor há muito ciente de que uma oscilação de 1% a 2% no equilíbrio do fornecimento e da demanda pode representar a diferença entre a disparada e o colapso dos preços, a extensão da queda no consumo é difícil de processar.

As estatísticas da OPEP mostram que o mundo produzia, até fevereiro, uma média de 105 milhões de barris/dia, com o Brasil ascendendo a 3,4 milhões, sendo agora autossuficiente, marco importante para uma nação que há 60 anos não produzia um só litro do combustível. A recente guerra lançada entre a Arábia Saudita e a Rússia, afora os Estados Unidos, os maiores produtores do mundo, fez com que o preço do barril descesse dos US$.65 para US$.25,o menor valor deste o ano de 2003, com uma verdadeira convulsão econômica.

Causa espécie no nosso País, que no acumulado do ano os  preços da gasolina nas refinarias já tiveram uma redução  acumulada de 40%. Atualmente, está no menor patamar dos últimos nove anos. Mas, nas bombas, o produto, em média, teve uma tímida redução de 3,03% de janeiro até agora. Fonte: ANP – Agência Nacional de Petróleo. É a chamada inversão de valores, na subida do preço o consumidor paga tudo, ou até mais, na baixa só tem direito a reclamar. É um conjunto de  fatores que fazem com que os preços nas bombas não tenham uma  redução maior. Principalmente a questão do ICMS e a mistura do etanol.  Além  disso, tem a questão dos estoques, como também a retenção  de lucro excedente.  O empresário vê o volume de vendas mais fraco. Então, no pouco que ele vende, não tem como abrir mão do quanto ganha. É como se fosse uma espécie de subsistência. Nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa o galão do produto – equivalente a 3,79 litros – teve uma queda média, este mês, de 23,70 % – Fonte: Bloomberg, numa disparidade ininteligente.

O crash acontece no pior momento possível para um setor que já não tinha a preferência dos investidores, que temem que a demanda por petróleo possa atingir o pico na próxima década e também se preocupam com os impactos ambientais. Os poucos investidores resistentes que estão se atendo às grandes empresas de energia foram chamuscados mais uma vez. O preço da ação da British Petroleum (BP) acumula uma perda de mais de 50% no ano, recuando a um patamar visto pela última vez em 1995, afundando mais até do que quando por ocasião do desastre de Macondo, quando a própria sobrevivência da companhia esteve em dúvida. A ExxonMobil, outrora a maior companhia aberta do mundo, perdeu 70% de seu valor de mercado nos últimos seis anos. A nossa Petrobrás, só neste ano, teve o seu patrimônio na BOVESPA depreciado em 50,33%. Mas uma pergunta fica sem resposta, por que o preço do combustível não cai na bomba?

*É economista e empresário.

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