Comportamento e genética masculina podem ajudar a explicar maior número de mortes por Covid entre homens

Gráfico mostra perfil das pessoas que foram a óbito em decorrência do Covid no RN (Imagem: Reprodução)

Embora o número de homens e mulheres diagnosticados com o novo coronavírus no Rio Grande do Norte seja aproximado, o percentual de óbitos varia. Boletim divulgado ontem, 19, pela Secretaria da Saúde Pública do Estado (SESAP-RN) revela que dos 3.483 casos confirmados do novo coronavírus no Estado, 1.772 foram em pessoas do sexo masculino, o que corresponde a 50,9% do total. Já em relação aos óbitos, 59,4% das mortes registradas com confirmação do Covid-19 foram de homens e 40,6% de mulheres.

Mas isso não quer dizer que as mulheres sejam menos vulneráveis ao vírus. “O número de óbitos maior em homens pode estar relacionado a circunstâncias anacrônicas”, diz o infectologista Fabiano Maximino em relação à característica comportamental dos homens de procurarem o médico mais tardiamente. Além disso, ele comenta que os homens são mais relutantes em relação às medidas de precaução, mais resistentes ao uso de máscaras, à lavagem das mãos e ao uso de álcool gel. Também são eles que levam a doença mesmo à sério, até que se machuquem.

O segundo ponto mencionado pelo médico é que, geneticamente, os homens têm maior número de receptores para angiotensina II e por causa desse maior número de receptores o vírus se instalaria com mais facilidade nos homens. De acordo com o médico, é isso o que explica a teoria. Apesar disso, ele reforça que as mulheres não estão livres do vírus.

E, independente do gênero, o isolamento social e as demais formas de precaução devem ser adotados por todos.

Para o infectologista, esse é o momento de enfatizar as medidas de precaução, pois a transmissão pode ocorrer e o vírus não respeita classe social, raça, cor ou credo.

O médico reforça a importância de medidas básicas, como a lavagem das mãos com duração de 20 segundos. Fabiano Maximino orienta que, diante de sintomas como falta de paladar, perda de olfato, dor de garganta, febre, congestão nasal ou dor nas articulações, as pessoas devem procurar saber o que é e usarem máscaras.

Se for sair, a orientação é se perguntar se aquela saída é mesmo necessária, caso seja, usar máscara e não conversar com ninguém sem o uso da máscara.

Os cuidados são necessários, inclusive, para quem já desenvolveu a doença, pois o médico lembra que ainda não se sabe se é possível se reinfectar e que há descrições de casos na literatura.

Quem saiu de casa e se expôs alguma situação de risco deve usar máscara em casa por alguns dias, para proteger as pessoas que vivem na mesma casa. “Proteja você para proteger quem você ama”, diz ele.

Médico enfatiza necessidade de consciência coletiva

Ao se referir aos baixos índices de isolamento social que vêm sendo registrados no RN, o infectologista Fabiano Maximino também chama a atenção com relação a grande quantidade de pessoas que estão nas ruas. Ele comenta que, infelizmente, essas pessoas podem contrair o vírus e levá-lo para dentro de casa, onde há idosos, pacientes imunossuprimidos e mulheres grávidas.

O médico lembra que, embora as pessoas não gostem de ficar em casa, isso é um momento e diz que os potiguares são acolhedores e calorosos. Agora, no entanto, é preciso mais. “As pessoas têm que ter consciência de que elas estão inseridas no coletivo”, reflete o médico, ressaltando que quem apresenta sinais e sintomas, deve se distanciar, procurar um atestado, no caso dos que estão trabalhando, e buscar as medidas necessárias ao isolamento.

“O que eu vejo é muita displicência. Infelizmente. E essa displicência afeta a todos”, alerta. Um exemplo simples da presença das pessoas nas ruas citado pelo profissional é a falta de local para estacionar próximo aos hospitais.

Como profissional de saúde, ele diz que gostaria de atender a todos com dignidade, mas enfatiza que as pessoas precisam fazer a sua parte.

O médico comenta que há pessoas achando que não isso não é um problema, mas relata casos de famílias destruídas pelo vírus e diz que esse é um impacto violento nas vidas das pessoas.

“Preserve quem você ama. Siga as orientações dos médicos”, pede o infectologista, que apela também para que as pessoas não coloquem os idosos em risco.

Rotina na linha de frente

Na luta contra o Covid-19, o infectologista Fabiano Maximino cita que médicos, enfermeiros e auxiliares que estão dando o sangue. “A gente aqui no Tarcísio Maia tem visto vários colegas caindo e eles estão fazendo isso em honra à profissão que eles escolheram e as pessoas não estão fazendo nada”, diz, chamando a responsabilidade para que a população faça a sua parte.

Ele comenta que a taxa de ocupação dos hospitais é de quase 100% e diz que o mais cruel do vírus não é a doença em si que é muito grave, são as escolhas que em breve podem ter que ser feitas, como ocorreu na Itália.

Fabiano lembra que está falando de um sistema de Saúde que está estrangulado há décadas.

O infectologista diz ainda que é preciso reconhecer o trabalho de médicos, enfermeiros, e outros profissionais que têm alcançado resultados positivos nos tratamentos, apesar das dificuldades.

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Reportagem especial

Canal Bruno Barreto