Zenaide se reorienta e volta a jogar no tabuleiro político

Zenaide Maia fez movimentação política ousada (Foto: autoria não identificada)

Por João Paulo Jales dos Santos*

No apanhado de derrotas do pleito eleitoral passado, a desenvoltura de Zenaide Maia (PSD) pós-eleição é a que mais chama atenção. O grupo da senadora teve que saborear um resultado ácido com o insucesso de seu marido, Jaime Calado (REP), numa performance aquém das expectativas de analistas políticos.

Insucesso no rescaldo da morte de Paulo Emídio (PROS), substituído pelo vice, Eraldo Paiva (PT), que nos meses seguintes resultou no rompimento do casal com o novo prefeito, fazendo com que os Calado perdessem a hegemonia política de 13 anos em sua base política, São Gonçalo do Amarante.

 Se no 1º mandato de Fátima Bezerra (PT) o que se viu foi uma aquiescência do casal com o ordenamento da governadoria, neste início de 2º mandato petista os Calado mudam a rotação política, reorientando o grupo, traçando alianças fora do establishment governamental, buscando fortalecer o mandato de Maia. O realinhamento se concentra na eleição do próximo ano, com o binóculo apontado para 2026.

A filiação da senadora ao Partido Social Democrático (PSD), a bancada mais numerosa do Senado Federal e a 5ª maior da Câmara dos Deputados, deixou para trás as afiliações dos últimos anos a partidos de pequeno porte, imprimindo mecânica política ao grupo, ao conferir o poder de atrair prefeitos para um exímio partido de centro, com robustez de fundo partidário e tempo de propaganda eleitoral.

A assertiva organização partidária que está sendo montada nos maiores colégios eleitorais, se faz necessária ser estendida pelo interior potiguar. A janela partidária de abril de 2024 é uma oportunidade para testar a habilidade de persuasão da senadora. Zenaide sabe que seu projeto de reeleição terá o imprescindível peso do crivo das urnas na eleição municipal que se avizinha.

Com a dobradinha PSDB/MDB, que já pressionou a governadora no pleito passado, cada vez mais sedenta pelas cabeças de chapa do governismo para a eleição geral de 2026, Zenaide terá que chegar com um saldo gordo para fincar pé no palanque petista. Os movimentos nos bastidores já dão conta dum fogo amigo contra os Calado, compreensível o porquê mesmo com riscos de fissura, do casal buscar alianças fora do círculo do petismo.

O cálculo é o fortalecimento do mandato senatorial, chegando em 2026 com prefeituras de relevo, mesmo as não alinhadas de imediato à governadoria, para aumentar o cacife de Zenaide na chapa lulopetista.

Num português direto, Zenaide Maia está indo para cima. Depois de seis anos na oposição aos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), Maia começa a colher os louros políticos com a chegada de Lula (PT) ao poder.

No impeachment de Dilma Rousseff (PT) foi a única da bancada na Câmara dos Deputados que votou contra a impugnação da presidente. Na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, a denominada PEC de teto dos gastos, foi outra voz solitária na Câmara a se posicionar contra. Na reforma trabalhista, mais uma vez se posicionou à esquerda, votando contra.

Mesmo que venha a ser exilada pelo petismo em 2026, Zenaide tem uma forte identificação com o lulismo. A senadora é uma figura popular junto as massas lulistas, e um possível alijamento dela da tribuna governista não é sinônimo de derrota. Maia tem identificação necessária para atrair os votos do lulismo potiguar.

O entrevero que tende a causar os embaraços mais perturbadores na relação entre o casal Calado e o petismo é a disputa pelo comando da Prefeitura de São Gonçalo do Amarante. Eraldo Paiva vai para reeleição, e Jaime quer recuperar o controle da municipalidade. O PT não medirá esforços para fechar o cerco oposicionista a Paiva, que vem fazendo um enfrentamento de fornalha com os Calado.

Eraldo vem se esforçando para mostrar capacidade administrativa, contudo Jaime ainda é uma figura querida pelos gonçalenses, como aferiram as pesquisas divulgadas em maio último, pelo Brâmane/Blog do BG e Instituto Seta/O Potiguar. Jaime é o candidato a ser batido, e há uma comoção social contra Eraldo, muito malvisto pela forma como assumiu o município com a morte de Paulo Emídio.

O PT tem histórico de abafar aliados quando percebe que pode ter influência diminuída. Zenaide é uma progressista que transita com facilidade pelo centrismo. A depender do incômodo que possa causar quando as urnas de 2024 forem apuradas, não será de se estranhar que sofra uma operação para desgastar sua popularidade, empreendida justamente pela hoste do petismo.

Aliado dos governismos estadual e federal, o casal Calado desenha uma estratégia vista por alguns como controversa, mas de uma expertise ímpar, vide a posição política que se encontram. A habilidade de como operacionalizar esta expertise é que concretizará o dividendo resultante. Entre serem engolidos pelo petismo, como muitos foram na eleição passada, ou reorientar o grupo para catar protagonismo, os Maia-Calado decidiram olhar para si e reavivar o agrupamento.

*É cientista social e graduando em História pela UERN.

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