Quando professores param são chamados de vagabundos. Quando o MST bloqueia uma estrada é acusado de criminoso. A esquerda defende os movimentos. A direita detona.
Agora com a paralisação dos caminhoneiros o quadro é diferente. Ninguém os acusa de vagabundos ou criminosos. Muito pelo contrário há um apoio de quase 100% da população. A esquerda peca por não dar um apoio mais incisivo a essa categoria fundamental para o desenvolvimento da nação.
Os caminhoneiros não atrapalham o direito e ir e vir da população e isso faz toda a diferença para que o movimento seja simpático ao gosto popular muito embora as reivindicações da categoria se confundam com os dos patrões provocando suspeitas de loucaute (termo usado para casos em que patrões se aproveitam de protestos dos trabalhadores para tirar proveito da situação), uma prática ilegal.
Num país dividido como o Brasil o que menos importa é a causa. O mais importante é quem defende a causa. Lutar por educação, moradia e terra para plantar é uma causa apropriada pela esquerda. As pessoas que não simpatizam com esse espectro político correm para detonar.
A questão dos caminhoneiros não possui participação dos movimentos sociais ligados aos partidos de esquerda. Logo quem não gosta do MST e CUT os apoia e ainda faz questão de comparar as situações mostrando que os caminhoneiros são mais eficientes em “parar o Brasil”.
Ninguém parece disposto a discutir as causas. A dos caminhoneiros é justa. A dos outros movimentos sociais também é.
Precisei viajar de avião na semana passada e fui prejudicado de alguma forma por causa da paralisação e aceitei de bom grado o sacrifício porque mais importante do que chegar logo em casa é a causa justa que está em discussão no país.
Também não sou ingênuo a ponto de não saber que a luta justa é da categoria e não do país. Parte das reivindicações nos beneficia, mas é preciso separar as coisas. O Governo de Michel Temer está focando a solução em cima dos preços do diesel e não em todos os combustíveis e isso pode ser uma armadilha para mais a frente jogar o povo contra os caminhoneiros. Afinal o cidadão comum usa gasolina ou álcool nos seus veículos.
Os governos são craques em jogar a população contra grevistas. Professores sabem disso muito bem. Em tempos de criminalização dos movimentos sociais a esquerda precisa rever as estratégias e aprender um pouco com os caminhoneiros, mas a parcela da população também precisa entender que mais importante do que quem faz a greve é a causa.