Explicar que duas histórias parecidas possuem contextos diferentes não é “passar pano”, mas entregar ao leitor a informação correta. Entendo que na cultura brasileira a neutralidade é tida como uma virtude ainda que esta acabe, em alguns casos, distorcendo uma notícia e promovendo desinformação.
A imparcialidade não existe no jornalismo, mas sempre é evocada quando interessa.
Veja o caso da guerra dos viagras em um curso no debate público do Rio Grande do Norte desde que a 98 FM de Natal revelou que o Governo do Estado comprou viagra. A média das manchetes foi no sentido de nivelar a história com o escândalo envolvendo as Forças Armadas que respingou no presidente Jair Bolsonaro.
A síntese foi: “Fátima também comprou viagra”.
A militância bolsonarista foi ao êxtase, os bolsonaristas enrustidos invocaram o discurso acima do bem e do mal e os ivermectiners tentaram cavar de forma patética alguma redenção alegando politização do remédio.
Mas é preciso por a bola no chão, encarar a complexidade das coisas e ter coragem para encarar os haters da Internet para explicar que são duas histórias totalmente diferentes.
A começar que a compra de 900 comprimidos pelo Governo do RN foi forçada por uma decisão judicial enquanto os 35 mil do Governo Federal para as Forças Armadas foi espontânea.
A segunda grande diferença é que o Governo do Estado comprou comprimidos de Sildenafila 20mg que é a dosagem usada para tratar hipertensão pulmonar. Já o Governo Federal comprou a medicação de 25 mg e 50 mg, que é a dosagem recomendada para disfunção erétil.
Some-se a isso é que o Governo Federal comprou R$ 3,5 milhões em próteses penianas e licitou R$ 37 mil em gel lubrificante. São informações que escancaram uma diferença abissal nas duas histórias e o uso de dinheiro público para melhorar a vida sexual dos militares.
Ninguém negou que se tome viagra para hipertensão pulmonar. O problema é que o Governo Bolsonaro não provou que os medicamentos são usados para essa doença.
Os fatos saltam aos olhos e o bom jornalismo passa por encarar o desafio de enfrentar a gritaria das redes sociais para evitar que a desinformação propague.
São duas compras de viagras, mas com motivações totalmente diferentes.
Chamar esse jornalista de petista, comunista e ou dizer que esse texto passou pano só vai expor a incapacidade de provar que é tudo a mesma coisa.
Fontes consultadas:
https://www.istoedinheiro.com.br/tag/viagra-para-militares/